Crítica | Aquaman acerta ao se distanciar das outras produções da DC, mas erra no tom de seu filme-solo

Crítica | Aquaman acerta ao se distanciar das outras produções da DC, mas erra no tom do filme-solo
Principal aposta da DC Comics/Warner Bros para o ano que se passou, Aquaman representa uma mudança muito clara em relação às adaptações de histórias de super-heróis produzidas pelo estúdio. Todo aquele clima sombrio e depressivo é deixado de lado, em favor de uma ambientação colorida e de uma narrativa mais leve e engraçada; ou ao menos essa era a ideia. Digo isso porque esse novo tom proposto aqui ainda precisa ser aprimorado. O filme de James Wan (Invocação do Mal 2) não tem a coesão para apresentar-se inteiramente como uma comédia ou para levar a sério esse universo aqui introduzido.
Escrito por David Leslie Johnson-McGoldrick e Will Beall, o roteiro segue uma fórmula esquemática e um tanto repetitiva (na qual precisa-se encontrar um objeto, que os leva a outro lugar, e a outro objeto, etc.), mas acerta ao não perder tempo detalhando a origem do personagem, uma vez que este já foi visto em Liga da Justiça. Assim, embora tenhamos flashbacks da infância e juventude de Arthur Curry, logo de início já o vemos em ação salvando a tripulação de um submarino. Relutando em assumir a alcunha de herói, Curry (Jason Momoa) renega a sua origem atlante (ele é filho da rainha Atlântida e de um humano). Porém, precisa se unir a Mera (Amber Heard) para encontrar uma arma mítica capaz de controlar os sete mares e derrotar seu meio-irmão, Orm (Patrick Wilson), que pretende tomar o trono de Atlântida e iniciar uma guerra com a superfície.
Crítica | Aquaman acerta ao se distanciar das outras produções da DC, mas erra no tom do filme-solo
O tom equivocado que foi mencionado antes se dá, em partes, à inexpressividade da dupla de protagonistas, que se esforça ao máximo para trazer um pouco de humor para a trama, mas nem sempre consegue. Essa ausência involuntária de humor acaba prejudicando a percepção do filme e traz à tona os seus defeitos. Pois se não estamos rindo da situação, então alguns dos elementos que nos são apresentados, como aquele vestido feito de águas-vivas ou os penteados bizarros, tornam-se apenas ridículos. O mesmo pode ser dito da sequência em que os Arthur e Mera estão na Itália, o longa se transforma em uma comédia romântica, embalada por uma trilha sonora brega e por momentos (supostamente) engraçadinhos.
E embora eu acredite que essas inserções constantes de humor sejam uma exigência do estúdio, não se pode excluir a responsabilidade de James Wan em não conseguir fazê-las funcionar. Afinal, Wan é um cineasta que não tem muita experiência com comédia. Seu humor é proveniente do exagero (como em Velozes & Furiosos 7), não de piadas prontas. E é no exagero que ele mais acerta. As sequências de ação são muito bem coreografadas – vide a cena que se passa nos telhados italianos – e Wan não abandona a sua origem no terror, criando situações que remetem aos seus trabalhos anteriores – como quando Aquaman e Mera são atacados por estranhas criaturas em alto mar.
Crítica | Aquaman acerta ao se distanciar das outras produções da DC, mas erra no tom do filme-solo
Porém, se Wan acerta nesse quesito, em outros ele erra, e feio. O uso de uma trilha sonora com sintetizadores, por exemplo, destoa do que está sendo mostrado, quebrando o ritmo das cenas. Mas o pior acontece durante a batalha final [isso pode ser considerado um spoiler, portanto só leia o resto do parágrafo se já tiver visto o longa], quando Mera fala que aquele conflito já custou muitas vidas e que precisa ser encerrado imediatamente. O protagonista concorda, mas antes de terminar a batalha, os dois se beijam. E se o timing deles já é ruim (pessoas estão morrendo enquanto eles se beijam), o diretor ainda faz um travelling circular, em câmera lenta, destacando as explosões ao fundo como se fossem fogos de artifícios que iluminam o casal apaixonado (vale lembrar que tais explosões estão causando milhares de mortes). Ao menos em O Homem de Aço, o Superman esperou o conflito acabar para beijar Lois Lane em frente à Metrópoles destruída [fim do spoiler].
Fica claro desde o início que a referência para os filmes dessa nova DC são as produções da Marvel. Esse é o modelo bem-sucedido que tentar ser emulado aqui. Tal mudança, que já fora ensaiada em Liga da Justiça e Mulher-Maravilha, parece cada vez mais próxima da conclusão. Apesar dos defeitos, fica clara a boa intenção dos realizadores. Mas ainda faltam acertar os pontos. Existe um oceano de possibilidades a serem exploradas. Vamos ver se eles acertam com o Shazam!.
Crítica | Aquaman acerta ao se distanciar das outras produções da DC, mas erra no tom do filme-solo

Crítica | Aquaman acerta ao se distanciar das outras produções da DC, mas erra no tom do filme-soloFICHA TÉCNICA:
Título original: Aquaman
Gênero: Aventura
País: EUA
Duração: 143 min.
Ano: 2018
Direção: James Wan
Roteiro: David Leslie Johnson-McGoldrick e Will Beall
Elenco: Jason Momoa, Amber Heard, Willem Dafoe, Patrick Wilson, Dolph Lundgren, Yahya Abdul-Mateen II, Temuera Morrison, Michael Beach, Ludi Lin, Randall Park, Graham McTavish, Leigh Whannell, Otis Dhanji, Kekoa Kekumano, Nicole Kidman.

Assista ao trailer legendado de Aquaman: