Caso seja propriamente administrada, a escola pode ser um local de troca de conhecimentos, um ambiente aberto a diferentes experiências e a diferentes culturas. Adolescentes em Fúria (2010), porém, não parte desta premissa. O filme dirigido por Johannes Roberts apresenta a escola como um campo de batalha, um lugar composto por poderes conflitantes.
A trama acompanha Robert Anderson (David Schofield), um veterano professor acostumado com o poder exercido perante os seus alunos. Ao mesmo tempo em que sente prazer em humilhar os estudantes que não respeitam a hierarquia sala de aula, ele não poupa elogios à sua filha – que também é sua aluna –, numa tentativa de desloca-la a uma posição de destaque em relação ao restante da sala.
Certo dia, porém, Robert é agredido por um dos alunos que ele havia humilhado diante dos outros. E as consequências deste ataque apontam uma nova lógica hierárquica: em vez de expulsar o agressor, a direção da escola opta por afastar o professor. Robert fica quase um ano afastado e, quando retorna à sala de aula, sua vida mudou completamente.
O incidente lhe custou o casamento e abalou o relacionamento com a filha, Kate (Eliza Bennett). Robert passa a habitar um mundo depressivo, iluminado por cores frias. A bebida se torna um combustível necessário para encarar o medo da sala de aula. E, uma vez lá dentro, ele procura evitar conflitos com os alunos, temendo uma possível represália.
Robert também fica obcecado por ataques ocorridos dentro de escolas e está convencido de que isso acontecerá de novo, em breve. A escola, porém, não concorda com esse pensamento, e procura uma desculpa para demitir o professor problemático. Entretanto, a ameaça anunciada pelo protagonista se concretiza certa noite, quando um grupo de adolescentes encapuzados invade a escola e começa a matar todos lá dentro.
Johannes Roberts aposta na incomunicabilidade como tema central da sua narrativa. Não há dentro, daquela escola, qualquer possibilidade de diálogo. Não por acaso, Robert usa da sua autoridade para colocar Kate de castigo depois da aula, forçando-a a passar mais tempo com ele. Tudo que vemos ao longo do filme são demonstrações distintas de poder: do pai diante da filha, da diretora diante do professor, do professor diante do aluno.
É significativo, portanto, que os vilões identificados no título original (The Expelled) como os expulsos, não tenham falas, nem rosto e nem voz. Eles se utilizam da violência não como uma forma de comunicação, mas como tentativa de restabelecer o poder, de fazer o pêndulo oscilar em outra direção.
Vale destacar, porém, que eles não são heróis. São vilões violentos e sanguinários. Fica claro, ao longo de toda a narrativa, que Adolescentes em Fúria não reserva espaço para heroísmo. Os personagens que desfilam na tela, às vezes como meros instrumentos para vingança dos adolescentes, estão preocupados apenas consigo mesmo e não com o bem comum.
O longa-metragem é, portanto, um retrato cruel de um sistema de ensino baseado no jogo de poderes. Um sistema mais interessado na quantidade de matriculados do que na qualidade dos seus formandos, e mais preocupado em fazer as pessoas passarem na prova do que em aprenderem algo (outro título internacional da obra é F, referente à nota mais baixa dos alunos).
Existe, portanto, enterrado fundo na narrativa, uma crítica de cunho político. Mas o subtexto, sozinho, não sobrepõe os defeitos de Adolescentes em Fúria. A abordagem é rasa em muitos momentos e se prejudica bastante por seu final abrupto. Ainda assim, a produção suscita discussões necessárias uma década após o seu lançamento. E isso diz mais sobre sistema educacional do que sobre o filme em si.