Segredos Oficiais segue a linha de uma série de filmes lançados nos últimos anos cujo objetivo é expor os segredos e as mentiras dos governos, sejam elas em relação à vigília da população (como em Snowden), à manipulação de resultados eleitorais (Brexit) ou, como é o caso aqui, à Guerra no Iraque.
E nisso, a obra se aproxima de outra produção recente, Vice, também dedicada a criticar a manipulação bélica e midiática realizada pelo governo George W. Bush.
Entretanto, enquanto no longa-metragem estrelado por Christian Bale a crítica era direcionada – principalmente – ao governo Trump, aqui essa relação contemporânea fica um pouco mais diluída.
Afinal, com a passagem do tempo e a imensidão ensurdecedora de polêmicas vivenciadas diariamente, uma história envolvendo mentiras do governo parece coisa corriqueira.
E Segredos Oficiais se posiciona justamente nessa cacofonia, objetivando elucidar (mais) um caso até então silenciado.
Escrito por Gregory Bernstein, Sara Bernstein e pelo diretor Gavin Hood (Decisão de Risco), o roteiro narra a história real de Katharine Gun (Keira Knightley), uma jovem analista do Government Communications Headquarters (GCHQ), um serviço de inteligência britânico encarregado de segurança e espionagem nas comunicações.
Gun atuava como tradutora e acreditava que seu trabalho contribuía para a proteção do povo britânico contra ataques terroristas. Em janeiro de 2003, porém, ela recebeu um e-mail informando que deveria direcionar sua atenção aos escritórios das Nações Unidas de seis países: Angola, Bulgária, Camarões, Chile, Guiné e Paquistão.
A ordem veio do governo americano e o intuito era garantir que estes países votassem a favor da guerra com o Iraque. Katharine não concordou com a ordem. Ela imprimiu o e-mail e o entregou a um contato no movimento anti-guerra.
O documento trocou de mãos até chegar no jornalista Martin Bright (Matt Smith, carismático como sempre). E após encontrar resistência do seu editor, checar a veracidade das informações e conversar com as fontes possíveis, Bright finalmente consegue publicar a matéria.
E Gavin Hood segue a cartilha dos thrillers policiais e jornalísticos baseados em acontecimentos reais. Acompanhamos o momento do vazamento, ação e investigação feita pela imprensa, a publicação da matéria e sua consequente difamação.
Porém, como a difamação foi quase instantânea, temos a impressão que o ato de Gun não teve consequência alguma. E é na necessidade de reforçar a importância de Gun que Gavin Hood escolhe manter toda a sua atenção na personagem de Kiera Knightley.
A ideia, embora condizente, se mostra narrativamente precária, fazendo as subtramas jornalística e judiciárias soarem aceleradas demais. Da mesma maneira, o filme tenta criar conflitos em torno da protagonista, apenas para descarta-los em seguida.
É o que acontece, por exemplo, quando a cidadania do marido de Katharine é colocada em risco, ou quando ela é informada da impossibilidade de falar com o seu advogado (Ralph Fiennes). Nenhum desses obstáculos ganha importância e logo são ultrapassados.
Porém, a priorização desta linha narrativa sacrifica os personagens coadjuvantes, que são pouco desenvolvidos. E, com isso, talentos como Matthew Goode, Rhys Ifans e até mesmo Matt Smith são jogados para escanteio, tornando-o meros espectadores do desenrolar da história.
Embora as informações divulgadas por Katharine Gun fossem extremamente polêmicas e importantes (pois questionavam a legalidade da Guerra do Iraque), o caso dela teve menos cobertura midiática do que o de Snowden, por exemplo.
Afinal, ao contrário deste, no qual segredos foram expostos e verdades foram forçadas a virem à tona, a história de Gun é uma que o governo fez de tudo para silenciar.
Assim, Segredos Oficiais tem a sua importância ao trazer esse caso à tona. Seu impacto, porém, é momentâneo, e tem tudo para desaparecer com a chegada do próximo escândalo – que, convenhamos, não deve demorar a acontecer.