Crítica | Jojo Rabbit usa guerra para contar história sensível, engraçada e emocionante

Escrito e dirigido por Taika Waititi (Thor: Ragnarok), Jojo Rabbit é um retrato sensível a respeito da re-humanização necessária após desumanização causada pela guerra.

A trama acompanha Jojo (Roman Griffin Davis), um garoto alemão prestes a ingressar na juventude hitlerista durante a 2ª Guerra Mundial.

Vivendo sozinho com a mãe, depois da morte da irmã e do desaparecimento pai, o garoto busca segurança e conforto nas conversas com seu amigo imaginário: Adolf Hitler (interpretado pelo próprio diretor).

Cena do filme Jojo Rabbit

Jojo se fere durante seu treinamento militar e é enviado de volta casa. Certo dia, ele descobre que sua mãe abrigou uma jovem judia lá.

A relação forçada com Elsa (Thomasin McKenzie) faz o protagonista começar a questionar seus ensinamentos nazistas, eventualmente enxergando os verdadeiros inimigos naquela batalha.

Mas Jojo Rabbit não é focado na guerra.

Por mais que a violência, a morte e o preconceito façam parte da rotina daquelas pessoas, Waititi prefere enxergar o lado bom da vida, dedicando mais atenção às relações entre os personagens.

Cena do filme Jojo Rabbit

E nisso, sua obra ganha força na atuação de Scarlett Johansson que, apesar do pouco tempo de tela, é essencial para demonstrar como pequenos atos de bondade, embora perigosos, são necessários.

Assim como Charles Chaplin fez em O Grande Ditador, Taika Waititi usa a comédia e a ridicularização do führer como forma de resistência.

Sua versão de Hitler, tal qual a de Chaplin, é uma figura infantilizada e risível. Isto contrasta com os registros da guerra exibidos ao longo do filme, nos quais se vê a adoração cega ao líder nazista.

Por mais que use a comédia com o intuito de trazer leveza à situação, o cineasta nunca esquece o contexto dramático que o cerca.

Cena do filme Jojo Rabbit

Esta mistura de drama e comédia não é novidade para Waititi, mas foi refinada. Em vez do humor escrachado, ele apresenta um olhar mais delicado.

Além disso, o diretor demonstra atenção aos detalhes ao filmar as janelas dos sótãos das casas para que pareçam olhos observando o protagonista.

Porém, o exemplo mais significativo disto é o destaque dado aos sapatos de Rosie (Scarlett Johansson), mãe de Jojo. Tal recurso é necessário para sua identificação em uma cena chave e emocionante.

O longa ainda brinca com a desinformação, a falta de conhecimento e a estereotipização em relação ao outro.

As descrições absurdas a respeito dos judeus, com seus chifres, suas escamas, suas asas de morcego em muito se parecem com as lendas a respeito dos comunistas do passado que, segundo diziam, comiam criancinhas.

Jojo Rabbit é uma história de amadurecimento. É um filme que trata do descobrimento em relação a si próprio e de reconhecimento do outro.

E ainda que sua trama seja ambientada há mais de 70 anos, sua mensagem a respeito dos perigos da falta de empatia, infelizmente, continua atual.

Assista ao trailer legendado de Jojo Rabbit: