O thriller espanhol A Casa se assemelha, em muitos aspectos, ao premiado filme sul-coreano Parasita. Ambos apresentam histórias centradas ao redor da inveja e da disparidade de classes sociais. E ambos mostram como essas disparidades resultam em conflitos violentos.
Porém, enquanto a obra de Bong Joon Ho trouxe um frescor ao cinema mainstream, essa produção da Netflix apenas requenta assuntos já discutidos em outros filmes, com qualidade inferior ao que veio antes.
Escrito e dirigido por David Pastor e Àlex Pastor (de Vírus), o longa-metragem acompanha Javier Muñoz (Javier Gutiérrez), um publicitário veterano tentando reaver as suas glórias do passado.
Quando o conhecemos, Javier participa de diversas entrevistas de emprego, exibindo um portfólio de duas décadas atrás. Incapaz de se adaptar aos novos tempos, ele não encontra trabalho em nenhuma agência – ou recusa as ofertas que lhes são feitas.
Sem dinheiro para pagar o aluguel, Javier precisa sair do apartamento de luxo onde vivia e se mudar para um bairro afastado. Obcecado com a sua antiga moradia, o protagonista começa a espiar a família de Tomás (Mario Casas), novos moradores do local.
Ainda em posse da sua chave, Javier passa a invadir o apartamento, onde ainda se sente em casa. Sua obsessão evolui ao ponto de Javier se aproximar de Tomás com o intuito de recuperar a imagem bem-sucedida que lhe foi tomada.
Vale destacar, porém, que embora Tomás pareça ter a vida de comercial de margarina desejada por Javier, esse não a adquiriu com o suor do seu trabalho: o segredo do sucesso de Tomás foi casar-se com a filha do dono de uma grande empresa de transporte.
Trata-se, portanto, de uma falsa meritocracia, exposta pelo próprio Tomás em determinado momento.
A aparência de sucesso é mais importante do que o sucesso em si. E o jogo de aparências encontra o tabuleiro perfeito na ascensão social predatória do filme: Javier deseja roubar o seu antigo status, literalmente tomando o lugar de Tomás.
Esta talvez seja a maior diferença entre A Casa e Parasita. Pois no caso do longa-metragem sul-coreano, existia uma relação quase de apego ao hospedeiro, enquanto a obra espanhola é movida pela necessidade de destruir e conquistar.
E ao fazerem esta escolha, os diretores/roteiristas não se esforçam para se distanciarem do caminho já trilhado por muitas outras histórias movidas por inveja e ganância, que normalmente seguem a mesma narrativa apresentada aqui.
Até mesmo os momentos em que o protagonista invade o apartamento e é quase flagrado pelos moradores parecem cópias de outras produções mais bem-sucedidas: como é o caso do ótimo Enquanto Você Dorme (para ficar apenas no cinema espanhol).
A obviedade da narrativa torna A Casa um filme raso, capaz de prender a nossa atenção apenas enquanto estamos assistindo, mas sem ocupar muito tempo na nossa cabeça depois disso. A comparação com Parasita, portanto, embora seja válida, é também bastante injusta.