Criados na década de 1990 como coadjuvantes dos filmes dirigidos por Kevin Smith, os personagens Jay e Silent Bob apareceram em obras como O Balconista, Procurando Amy e Dogma até estrelarem a sua primeira aventura solo, que no Brasil ganhou o título horroroso de O Império (do Besteirol) Contra-Ataca.
Lançado em 2001, o filme falava sobre a onda de adaptações de histórias em quadrinhos iniciada poucos anos antes. A nova aventura da dupla tem uma proposta diferente e ao mesmo tempo igual. Como o próprio nome sugere, Jay & Silent Bob Reboot se propõe a criticar a falta de criatividade na indústria norte-americana.
Abusando da autoindulgência como justificativa para a sua própria limitação, Smith faz mais do mesmo como forma de criticar uma indústria caracterizada pela constante repetição. Embora a ideia seja interessante, a metalinguagem, sozinha, não carrega o filme todo. A ideia logo se esvazia, até não sobrar nada.
Assim como antes, os protagonistas, interpretados por Smith e Jason Mewes, partem em uma jornada para Hollywood com o intuito de impedir uma nova adaptação – ou melhor, um reboot – da HQ baseada na vida deles. A única novidade é o foco na relação parental entre Jay e a jovem Milly, interpretada por Harley Quinn Smith (filha do diretor).
Ao longo do caminho, eles encontram diversos rostos conhecidos da carreira do diretor. Atores como Matt Damon, Jason Lee e Ben Affleck aparecem rapidamente, interpretando os mesmos personagens de antes. Mas, além de trazerem um claro desconforto por parte dos atores (fazendo um favor para o amigo), tais participações são breves e sem grande importância para a história.
O fiapo de roteiro é incapaz de manter a consistência ao longo da narrativa, fazendo contornos desnecessários. Igualmente problemática são suas piadas e diálogos envolvendo a recente cultura de remakes e reboots, nas quais ele se limita a expressar o óbvio.
E isso não deixa de ser um problema. Afinal, o conhecimento de Smith poderia ser mais bem aproveitado na atual conjuntura da cultura pop do que na década de 1990, quando discussões sobre quadrinhos eram relegadas ao pequeno público de frequentadores de comic shops.
O próprio Smith não tem a mesma vitalidade de 20 anos antes, mostrando-se incapaz de entreter o público com as suas piadas escatológicas e com seu humor autorreferente – algo que ele próprio afirma em certo momento, ao dizer que aquilo só funcionaria se trouxesse de volta o Smith da década de 1990.
Mas apontar seus erros não os apaga. Ed Wood realizava filmes ruins, mas ao menos ele era sincero em relação às suas intenções. A paixão de Wood pelo cinema transbordava as suas obras. No caso de Smith, fica evidente a sua paixão por si próprio e pelas suas glórias do passado.
Smith também parece ter esquecido uma questão básica a respeito de Jay e Silent Bob: eles funcionam melhor como coadjuvantes. Ao concentrar toda a trama em cima deles, o cineasta explicita as suas limitações como atores e o desgaste do humor da dupla.
Concordo apenas com uma das piadas contada ao longo da obra (repetida do longa anterior): quem gostaria de ver um filme estrelado por Jay e Silent Bob? Eu fiquei me perguntando a mesma coisa e sinceramente ainda não encontrei uma resposta.