O western moderno Domando o Destino (The Rider, 2017), segundo longa-metragem da cineasta Chloé Zhao (Songs My Brothers Taught Me), é uma obra emocionante sobre a necessidade de se reinventar, sobre o reconhecimento do que é realmente importante na nossa vida e sobre a constatação de que aquilo que você faz não constitui quem você é.
Escrito pela própria diretora, o roteiro é livremente inspirado na vida do seu protagonista: Brady Jandreau (que aqui ganha o nome de Brady Blackburn). Na trama, Brady sofreu quebrou o crânio em um acidente durante o rodeio e precisa repousar longe dos cavalos – uma tarefa mais difícil do que ele imaginava.
Brady é atraído para o mundo dos rodeios. É lá, e somente lá, que ele se sente vivo, que se sente completo. O resto da realidade – trabalhando em uma loja, cuidando da irmã e lidando com o pai – empalidece diante do som da plateia gritando, da adrenalina de montar um cavalo e de ter a atenção de uma multidão voltada para si, mesmo que apenas por oito segundos.
Mas ele também enxerga o lado negativo desta vida. Ao visitar o amigo Lane Scott, ele vê em primeira mão os perigos da vida de cowboy. Assim como Brady, Lane era uma lenda nos rodeios, alguém a ser admirado, amado ou invejado. Agora, Lane vive preso a uma cadeira de rodas, tendo perdido quase todas as habilidades motoras e com dificuldade para se comunicar.
Portanto, Brady deve voltar à essa vida sabendo dos perigos que ela representa ou se conformar com o fato de que suas glórias em cima de um cavalo ficaram no passado? Ele até tenta trapacear, trabalhando como domador de cavalos apenas para ficar próximo da realidade que ele tanto anseia. Mas as sequelas do seu acidente não permitem isso. Ele precisa tomar uma decisão.
Ilustrando essa dúvida, a cineasta Chloé Zhao adota um estilo cru e poético ao mesmo tempo. Por um lado, o retrato daquela vida parece ter saído de um documentário. Ela trabalha com não-atores, muitos deles interpretando a si mesmos. Existe, portanto, um naturalismo nas interações captadas pela câmera da cineasta.
O realismo é tamanho que os atores amadores incorporam a sua própria vivência aos seus personagens. É surpreendente perceber, por exemplo, que este é o primeiro e único filme de Brady Jandreau. O jovem protagonista entrega uma atuação sensível e impactante, com a segurança de um veterano.
A austeridade é contrastada por momentos de extrema beleza, como nas cenas em que Brady caminha pelas pradarias do estado de Dakota durante o pôr-do-sol, ou quando cavalga pela primeira vez após o acidente. Tais cenas mostram a vida voltando para o corpo dele, como um pássaro libertado após anos enjaulado.
Domando o Destino é uma jornada rumo à autodescoberta, uma cavalgada rumo àquilo que esteve na nossa frente o tempo todo, encoberto pela nuvem do sucesso ou da fama. Vocação e talento são importantes complementos ao à nossa vida, mas não devem atuar como a única raiz que nos prende à realidade.