Se você conhece e gosta de terror, talvez já tenha escutado o termo slasher. Mas você sabe o que ele significa? Conhece a sua origem? Sabe quais são os principais exemplos de slashers na história do cinema de terror?
Slasher é um subgênero do terror no qual um grupo de adolescentes é perseguido por um assassino mascarado. Tratam-se de filmes extremamente populares, que geraram franquias longevas, como Halloween, Sexta-Feira 13, A Hora do Pesadelo e Pânico.
O slasher tem uma história muito rica, relacionando-se de maneira direta com a época na qual esses filmes foram produzidos. Foi pensando nisso que eu preparei esse artigo.
Ao longo deste texto, serão discutidos diferentes conceitos a respeito do subgênero slasher. Falaremos sobre:
- O que é o slasher
- Quais são as suas características
- Quais foram os precursores do slasher
- Qual foi o primeiro slasher
- O que foi a era de ouro do slasher
- O que foi a segunda era do slasher
- E qual foi a terceira era do slasher
A ideia é que você chegue ao final deste texto sabendo tudo sobre esse importante capítulo na história do cinema de terror. Começaremos, então, pela definição de slasher.
O que é o subgênero slasher?
O finado crítico Roger Ebert tinha uma definição muito divertida para o slasher. Segundo ele, slashers são filmes estrelados por um assassino que persegue e mata todos os demais personagens.
“O assassino frequentemente usa uma máscara, não porque um ator sério ficaria com vergonha de ser visto nesse papel, mas porque não é preciso nenhum ator; as únicas habilidades necessárias são usar uma máscara e empunhar um machado”
É claro que Ebert estava brincando. Ele próprio era um grande admirador do primeiro Halloween. Mas a sua definição não é de todo errada. Muitas das principais características do slasher estão bem definidas ali.
Mas, pessoalmente, eu prefiro a definição feita por Sotiris Petridis em seu artigo A Historical Approach to the Slasher Film (que pode ser lido aqui e que serve de base para este texto). Para Petridis, o slasher pode ser definido como um filme:
“sobre um serial killer que espalha medo em uma comunidade de classe média matando pessoas inocentes. No final, o assassino é derrotado e o personagem principal (ou, em alguns casos, mais de um) sobrevive”.
Com base nesta definição, fica mais fácil apontar as principais características do slasher. Vejamos quais são elas:
Características do slasher
Algumas características do slasher são comuns ao gênero de terror como um todo.
Estes filmes são, em sua maioria, produções de baixo orçamento, voltadas para o público jovens. Também são filmes que exploram as imagens de sexo e violência.
Porém, uma análise mais aprofundada revela características específicas para estes filmes.
Vera Dika, autora do artigo The Stalker Film, 1978-81 (disponível neste livro), coloca como principais características do slasher a separação e conexão entre os eventos ocorridos no passado e no presente.
Para ela, o assassino sempre tem uma relação com o passado da cidade ou local onde a história se passa. É algo que lhe causou perda (como em Sexta-Feira 13) ou algo que lhe causou dor (como em A Hora do Pesadelo)
Uma vez que fica estabelecida essa relação com o passado, o assassino volta para se vingar da comunidade, podendo direcionar a sua vingança aos filhos daqueles que lhe fizeram mal.
O tempo presente é o local da vingança motivada pelo tempo passado.
Já para Clover J. Clover, autora do livro Men, Women, and Chain Saws (precursor nos estudos sobre slashers), estes filmes se caracterizam pela combinação destes elementos:
- O assassino
- O cenário
- As armas
- As vítimas
- O choque
- A final girl
Pense num filme como Halloween, por exemplo, e veja como ele está atrelado:
- à figura de Michael Myers (o assassino),
- à cidade de Haddonfield (o cenário),
- à faca que ele usa (as armas),
- a todas as mortes que acontecem (as mortes),
- à violência dos seus ataques (o choque) e,
- à figura de Laurie Strode (a final girl).
Destes elementos listados por Clover, cabe uma explicação mais detalhada a respeito do primeiro e da última. Começaremos, portanto, pela figura do vilão.
Vilão
Clover explica que o assassino do slasher se parece com um humano, e normalmente é um homem. É o caso do já citado Michael Myers, de Halloween.
Mas o vilão também pode ser sobrenatural: Freddy Krueger (da franquia A Hora do Pesadelo) e Jason (franquia Sexta-Feira 13) são dois bons exemplos disso.
Humano e sobre-humano, o vilão é uma figura icônica neste subgênero. Tanto é, que caso um filme slasher venha a se tornar uma franquia, a franquia fica associada à figura do vilão, e não dos heróis.
Por serem figuras iconográficas, os assassinos são recordados e idolatrados pelo público, ao passo que suas vítimas são esquecidas.
Isso acontece devido a outra característica marcante do slasher: a falta de desenvolvimento dos personagens.
É comum que os personagens destes filmes sejam transformados em meros estereótipos: o atleta, a garota promíscua, o rebelde, etc.
Não há necessidade de um maior desenvolvimento deles porque eles servem apenas como presas para o assassino. A única exceção é a:
Final girl
Final Girl é um termo criado por Carol J. Clover para se referir àquela personagem feminina capaz sobreviver aos ataques do vilão, eventualmente matando-o ao final do filme.
Alguns exemplos conhecidos de final girl são:
- Laurie Strode da franquia Halloween,
- Jess Bradford de Noite de Terror,
- Nancy Thompson de A Hora do Pesadelo,
- Alice Hardy de Sexta-Feira 13
- Sidney Prescott de Pânico.
Segundo Clover, a final girl já é apresentada desde o início do filme como a protagonista. Além disso, o filme estabelece algumas características para diferenciá-la do restante dos personagens.
A primeira, e talvez maior diferença, é que a final girl é virgem. Isso estabelece uma relação muito clara do subgênero com a repressão sexual (algo que será explicado mais adiante).
Além disso, a final girl é vista como uma pessoa habilidosa e inteligente. Isso faz com que ela perceba o perigo muito antes dos demais. Em muitos casos, seus temores são descartados pelos colegas, que ignoram seus avisos de perigo.
É comum que ela tenha uma aparência andrógina. Além disso, seus nomes normalmente também não são necessariamente femininos. São nomes como Stevie, Marti, Terry, Laurie, Stretch, Will.
Para Clover, isso acontece porque a final girl não é totalmente feminina, da mesma maneira que o vilão não é totalmente masculino. O vilão empunha a sua arma fálica (facão, motosserra, etc.) como substituição pela sua própria castração simbólica.
Assim, quando ao final do filme, a final girl (antes vista como menor e mais frágil que o vilão), toma a arma do seu algoz em suas mãos, ela toma também a sua frágil masculinidade e a usa contra ele.
Precursores do slasher
Conforme apontaremos adiante, a história do slasher tem início, oficialmente, na década de 1970. Mas isso não significa que antes disso já não havia outras demonstrações daquilo que viria a se tornar este subgênero.
Um dos exemplos mais significativos talvez seja Psicose, de Alfred Hitchcock. Trata-se de um filme que explora bem algumas das características que se tornariam marcantes no subgênero, como:
- o assassino (Norman Bates vestido com as roupas da sua mãe).
- o cenário (o Bates Motel)
- as armas (a icônica faca do assassino)
- as mortes (de Marion Crane e do Arbogast)
- o choque (o impacto da morte no chuveiro)
Não há, porém, a figura clássica da final girl. Em vez disso, o que o filme estabelece é uma punição pelo sexo: Marion Crane é vista logo no início do filme tendo relações sexuais com o namorado e é morta pouco tempo depois.
Aliás, esta questão sexual é central para a narrativa de Hitchcock: Norman Bates se sente castrado pela figura materna que o assombra e, como consequência, precisa matar as mulheres que o excitam sexualmente.
Não há, portanto, muita diferença entre as ações de Norman Bates e as ações de Michael Myers, por exemplo.
Vale destacar também que Psicose foi inspirado na real história do assassino Ed Gein, que também serviu de inspiração para O Massacre da Serra Elétrica, este, sim, um dos primeiros slashers.
Primeiros slashers
Em seu artigo, Petridis aponta que o nascimento do slasher aconteceu no ano de 1974, com o lançamento de O Massacre da Serra Elétrica (1974) e Noite do Terror (1974).
Ambos os filmes têm semelhanças e diferenças, que os aproximam e os afastam do slasher. Nos dois casos há o grupo de adolescentes, por exemplo.
Em Noite do Terror, este grupo é atormentado pelo assassino, que os caça, um a um. Em O Massacre da Serra Elétrica, o grupo é rapidamente eliminado, sobrando apenas a final girl.
Da mesma maneira, em ambos existe a figura do assassino.
Em O Massacre da Serra Elétrica, Leatherface usa uma máscara feita com as peles das suas antigas vítimas. Já em Noite do Terror ele não usa uma máscara. O rosto do assassino é escondido pela câmera.
E o contexto político por trás destes filmes já começava a ser delimitado.
O contexto político por trás do slasher
Embora tenha sido criado na década anterior, o slasher teve uma grande ascensão na década de 1980. E isso foi impulsionado pela situação política do país.
Trata-se de uma época de extremo conservadorismo, com o presidente Ronald Reagan lutando para manter (ou melhor, impor) a ideia de “moral e bons costumes” americanos.
Segundo Petridis, Reagan utilizava o escudo da defesa dos “valores familiares” como forma de fazer valer a sua agenda anti-gay e anti-feminista, mantendo o homem branco e heterossexual como centro da hierarquia cultural.
Assim, era comum que, nessa época, a recente crise da AIDS fosse vista como uma vingança divina contra a revolução sexual ocorrida nos anos anteriores.
O pânico e a desinformação em relação à doença causaram um retrocesso. Sexo passou a ser motivo de medo. Conforme aponta Petridis:
“As narrativas desses filmes são sobre jovens que fazem sexo desprotegido e depois morrem. Naquela época, a AIDS era equivalente à morte e essa equação tornou-se uma convenção do período clássico do subgênero”
O autor também explica que, naquela época, a AIDS era associada à homossexualidade. Portanto, era comum que o assassino normalmente fosse visto com características homossexuais ou mesmo transexuais.
“Portanto, a alteridade do período clássico não se baseia apenas na preocupação com a AIDS, mas também assume a forma do que a sociedade culpa por ela”.
A culpa e o medo marcaram essa primeira década do slasher, que o autor define como a “era de ouro”.
A era de ouro do slasher
Com o medo enraizado na fábrica da sociedade americana, o final da década 1970 e toda a década de 1980 se mostraram um terreno fértil para o florescimento do slasher.
As franquias que se iniciaram antes, como as já mencionadas O Massacre da Serra Elétrica e Halloween, tiveram diversas continuações lançadas nos anos que se seguiram.
Além destes, novos exemplares do subgênero surgiram.
O primeiro Sexta-Feira 13 foi lançado no ano de 1980 e rendeu uma franquia com mais de 10 filmes. Em 1984, outra longeva franquia foi lançada: A Hora do Pesadelo.
Apostando mais no elemento sobrenatural (Freddy Krueger é um ser sobrenatural, em vez de um assassino mascarado). A franquia rendeu outros nove títulos, incluindo a junção Freddy vs Jason e um remake malsucedido.
Também é dessa época o filme Brinquedo Assassino, que embora não seja exatamente um slasher, traz alguns elementos que o assemelham ao subgênero.
Além disso, diversos outros títulos lançados nessa época tentaram repetir o sucesso dessas franquias, tais como:
- O Dia dos Namorados Macabro (1981)
- Escola Noturna (1981)
- Pague para Entrar, Reze para Sair (1981)
- A Hora das Sombras (1981)
- Aniversário Sangrento (1981)
- Noite Infernal (1981)
- O Massacre (1982)
- Assassinatos na Fraternidade Secreta (1983)
- Acampamento Sinistro (1983)
- Mountaintop Motel Massacre (1983)
- Splatter University (1984)
- Natal Sangrento (1984)
- A Noite das Brincadeiras Mortais (1986)
- Blood Rage (1987)
- Assassinato no Colégio (1989)
Alguns destes filmes, como O Massacre e Natal Sangrento, chegaram a ganhar continuações, mas sem o mesmo sucesso dos principais exemplares do subgênero.
A segunda era do slasher
Com a exacerbação do slasher ao longo da década de 1980, o subgênero começou a se desgastar. As características que fizeram a sua fama foram repetidas à exaustão, até o ponto de se tornarem piada.
Em seu artigo, Petridis argumenta que a segunda era do slasher ocorreu na década de 1990 e se caracterizou pelo reconhecimento da sua predicabilidade.
O slasher se tornou pós-moderno e passou a brincar com a sua própria estrutura.
É claro que o exemplo mais significativo disso é a franquia Pânico, dirigida por Wes Craven.
Nela, os jovens perseguidos por assassinos mascarados são fãs de filmes em que… jovens são perseguidos por assassinos mascarados.
Lançado em 1996, o primeiro Pânico foi responsável por lecionar as regras do slasher a um grande público.
Todos os conceitos principais (como a figura do assassino e da final girl) são explicitados, quebrados e, de certa maneira, reforçados pelo filme.
A relação metalinguística do filme se expandiu ao longo das suas continuações, fazendo de Pânico uma referência nesta segunda era do slasher.
Porém, Pânico não foi o primeiro pioneiro nesta abordagem.
Conforme Petridis lembra, dois anos antes do lançamento de Pânico, outro filme já havia brincado com as convenções do gênero.
Trata-se de O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger, também dirigido por Wes Craven.
Neste filme, Craven brinca com a figura icônica de Freddy Krueger ao propor uma narrativa na qual o personagem não quer mais ficar preso dentro dos filmes e resolve aterrorizar o mundo real.
O filme trouxe de volta atores conhecidos da franquia interpretando a si mesmos, como Heather Langenkamp e Robert Englund. O próprio Craven, que também assina o roteiro, se transforma em um personagem do filme.
Embora tenha sido lançado antes, O Novo Pesadelo: O Retorno de Freddy Krueger não fez o mesmo sucesso de Pânico, e por isso é pouco lembrado nos estudos sobre o gênero slasher e sobre a metalinguagem no terror.
De fato, foi Pânico que fez história e catapultou o lançamento de dezenas de outros filmes. Os anos 1990 foram os anos do chamado “terror adolescente”, ressuscitado por Pânico.
Diversos filmes tentaram seguir o sucesso da obra de Craven, mas poucos conseguiram. São desta época produções como:
- Eu sei o que vocês fizeram no verão passado (1996)
- Prova final (1998)
- Lenda urbana (1998)
- Eu Estou Esperando por Você (1998)
Além destes, diversas outras franquias que iniciaram na década de 1980 tiveram continuações lançadas nessa época, como O Massacre da Serra Elétrica, Brinquedo Assassino, Sexta-Feira 13 e muitas outras.
A terceira era do slasher
É impossível abordar o início do novo milênio sem levar em consideração os ataques terroristas ocorridos em 11 de setembro de 2001.
Tais ataques pegaram todos de surpresa, e instauraram um novo tipo de medo na população americana.
Assim como aconteceu com a AIDS na década de 1980, o medo do terrorismo se estendeu para o cinema de terror, e pudemos presenciar as diferentes maneiras como eles foram dispostos na tela.
O found footage, subgênero no qual os próprios personagens filmam a ação, é um exemplo disso.
É um subgênero que reflete a insegurança do povo americano perante uma ameaça inesperada, ao mesmo tempo em que mostra a constante vigilância a que foram submetidos.
O torture porn, subgênero caracterizado por extensas cenas de tortura e morte, é outro exemplo disso.
Trata-se de um reflexo das constantes notícias de tortura divulgadas na mídia, como resultado da chamada guerra ao terror.
Além disso, o medo do terrorismo também influenciou a criação de um novo tipo de slasher, que Petridis define como neoslashers.
São filmes que encontraram naquela época o terreno fértil que necessitavam para florescerem.
Petridis aproxima o medo da AIDS (na década de 1980) e o medo do terrorismo (nos anos 2000), apontando ambos servem como catalisadores para espalhar medo e impulsionar a sociedade em direção ao.
Apesar das semelhanças políticas, os filmes que surgiram nessa época foram bastante diferentes dos que vieram antes. Petridis separa os slashers do início do novo século em dois grandes grupos: os remakes e os originais.
Remakes
No início dos anos 2000, uma onda de remakes começou a tomar conta de Hollywood.
Ao contrário dos anos anteriores, em que os estúdios simplesmente faziam continuações de franquias consagradas, a ideia aqui era outra: recomeçar tudo.
O filme que catapultou essa nova onda foi O Massacre da Serra Elétrica (2003), dirigido por Marcus Nispel.
Apesar de não ter agradado a crítica e nem o público na época do seu lançamento, o longa arrecadou alguns defensores com o passar dos anos.
Depois deste, foram diversos os remakes de slashers consagrados, como:
- Natal Negro (2006)
- Quando um Estranho Chama (2006)
- Halloween (2007)
- A Morte Convida para Dançar (2008)
- Dia dos Namorados Macabro (2009)
- Halloween II (2009)
- Sexta-Feira 13 (2009)
- A Hora do Pesadelo (2010)
O autor Kevin J. Wetmore destaca que estas produções combinavam a noção de nostalgia de uma época em que os Estados Unidos eram mais fortes, com o niilismo e o medo característicos do período pós-11 de setembro.
Originais
Além dos remakes, o slasher pós-11 de setembrotambém se caracterizou por uma nova onda de produções originais, ou seja, de filmes que não tinham relação com franquias pré-estabelecidas.
Curiosamente, em seu artigo Petridis coloca o filme Freddy vs. Jason como um exemplo de slasher original, mas eu tenho um pouco de dificuldade em enxergá-lo como tal, uma vez que se utiliza de personagens e situações já consagradas.
Os outros exemplos que ele cita, porém, se encaixam perfeitamente na sua definição de neoslasher original. São eles:
- All the Boys Love Mandy Lane (2006),
- Por Trás da Máscara – O Surgimento de Leslie Vernon (2006),
- Terror no Pântano (2006),
- A Sétima Alma (2010)
- O Segredo da Cabana (2011)
Independente se é um remake ou um original, o grande questionamento levantado pelo autor é como estes filmes se diferem dos slashers clássicos da era de ouro e da intertextualidade proposta pela segunda era do subgênero.
Visando responder a este questionamento, o autor faz um longo estudo a respeito das características do slasher do novo milênio.
Características da terceira era do slasher
A primeira era do slasher foi caracterizada pelo medo e punição em relação ao sexo. Personagens que eram vistos fazendo sexo logo encontravam um destino trágico.
Isso tinha relação com o conservadorismo e com o medo da AIDS, algo característico daquela época.
Na terceira época do slasher, o conservadorismo ainda imperava, em parte por causa do governo de George W. Bush. Porém, esta equivalência entre sexo e morte já não era o principal temor da população.
As características mudaram.
No período clássico, todos os personagens que apareciam fazendo sexo acabavam mortos e somente a final girl sobrevivia. Além disso, as vítimas e o sobrevivente eram, na maioria das vezes, adolescentes.
Nos neoslashers, a seleção das vítimas é diferente. Algumas vítimas são conectadas ao assassino de alguma maneira, propondo uma justificativa realista para os assassinatos.
Em outros casos, muitas das vítimas não fizeram nada de errado e não “mereciam” ser punidas. As mortes aconteciam porque alguém estava no lugar errado na hora errada.
Também não há uma regra para seleção das vítimas e elas não precisam ser jovens.
Para Petridis, estas mudanças estão ligadas aos eventos de 11 de setembro.
As pessoas que morreram no World Trade Center não tinham conexão com os motivos que causaram o ataque terrorista e não conheciam os seus assassinos. Elas apenas estavam no lugar errado na hora errada.
E é a ansiedade social causada pelo medo de uma morte não anunciada e sem sentido que movimenta o neoslasher. Esta é a principal característica destes filmes.
Conclusão
Ao longo da sua história, o slasher passou por diversas transformações e gerou diferentes interpretações.
Duas características, porém, se mantiveram firmes. E não por acaso, são características comuns ao gênero de terror como um todo.
A primeira é o conservadorismo, presente em boa parte da produção de terror, mas que no slasher ganhou força.
A montagem sequencial do sexo seguido pela morte explicitou algo que antes ficava implícito.
A segunda característica é a relação dos filmes com a sua época de produção.
Em épocas de medos muitos claros (como a década de 1980, com a crise da AIDS, e os anos 2000, com a guerra ao terror), o terror encontra um terreno fértil e criativo.
Em época em que esse medo não é tão presente (como a década de 1990), o terror se volta para a si mesmo.
Toda essa violência, sexo e mortes pode não agradar a todos os públicos. E não há nada de errado com isso.
Se tem algo que eu adoro em relação ao terror, é que é um gênero democrático. Tem para todo mundo.
Mas mesmo que você não goste do slasher, é notável como o subgênero serviu para reafirmar a iconografia do gênero.
Personagens como Jason, Freddy Krueger e Ghostface (assassino de Pânico) são conhecidos além dos fãs do gênero.
Eles fazem parte do imaginário popular.
É inegável, portanto, a importância que o slasher tem não apenas para o gênero de terror, mas para o cinema de maneira geral.