Crítica | Terror no Pântano (2006)

Terror faz piada com o subgênero slasher ao mesmo tempo em que o referencia. 

Hatchet
O subgênero slasher surgiu nas décadas de 1970/80, com filmes como O Massacre da Serra Elétrica, Sexta-Feira 13 e Halloween. Na época, tais produções eram, entre outras coisas, um reflexo do fim do Código Hays (um método de censura que imperou por 30 anos), o que possibilitou que a violência e o sexo passassem a ser usados com mais frequência no cinema americano. O slasher foi bastante explorado ao longo dos anos seguintes, culminando na abordagem metalinguística e paródica de Pânico, na qual as “regras” do subgênero já estavam tão desgastadas que não restava nada a fazer a não ser subverte-las. Este Terror no Pântano (Hatchet, 2006) fica no meio do caminho. Ele reforça as convenções do subgênero ao mesmo tempo em que brinca com elas. E é isso que torno-o tão divertido.
Escrito e dirigido por Adam Green (que eu conhecia do bom suspense Pânico na Neve), o longa acompanha Ben (Joel David Moore), um jovem que terminou com a namorada recentemente e foi levado pelos amigos para passar o carnaval em Nova Orleans. Sem conseguir se animar com o festival de topless que ele vê na festa, Ben resolve fazer algo diferente: um passeio noturno, de barco, pelo pântano. Mesmo a contragosto, seu amigo Marcus (Deon Richmond) o acompanha. Eles se juntam a um eclético grupo composto por um casal de velhinhos, duas atrizes e um diretor pornô, uma mulher misteriosa e um guia que parece não conhecer bem o caminho. Após um acidente com o barco, eles se veem perdidos na região selvagem, ameaçados pelos crocodilos e sendo caçados pelo temível Victor Crowley, espécie de Jason que assombra aquele lugar.
Hatchet
O grande crítico de cinema Roger Ebert definiu de maneira divertida sobre o subgênero slasher. Segundo ele, em sua maioria esses filmes são estrelados por assassinos mascarados que correm para todo lado cortando tudo e todos que eles veem pela frente. “O assassino é frequentemente mascarado”, explica ele, “não porque um ator sério teria vergonha de ser visto no papel, mas porque então nenhum ator é necessário; as únicas habilidades necessárias são a capacidade de usar uma máscara e empunhar um facão” (EBERT, 1985). Essa definição não está muito longe de ser verdade. E eu ainda acrescentaria que também não são necessários bons atores para interpretar as suas vítimas, afinal estas só são inseridas na trama com o objetivo de serem mortas de forma brutal e bizarra pelo seu algoz.
Sabendo disso, o longa não perde tempo algum desenvolvendo seus personagens. O que vemos na tela são estereótipos que já foram explorados diversas vezes no cinema de terror: o nerd, o amigo engraçado, a garota durona, o casal simpático, etc. E como é costumeiro em produções como esta, eles são extremamente burros, sendo capazes de bolar planos que acabam aproximando-os do vilão, em vez de afastá-los dele. E o diretor parece se divertir com isso, já que pune aquelas pessoas das piores maneiras possíveis, com mortes que desafiam as leis da física e que gastam litros e litros de sangue falso. Assim, vê-se de tudo por aqui: decapitações, esmagamento, membros decepados, e muito mais; tudo mostrado sem nenhum realismo e com bastante humor.
O mesmo Roger Ebert que citei antes costumava dizer que não importa sobre o que é um filme, importa como ele é sobre aquilo que ele é. Terror no Pântano não é uma obra que prioriza o desenvolvimento dos personagens ou a relação entre eles. Porém, também não se propõe a isso. Não existem metáforas ou mensagens escondidas na sua narrativa. Seus objetivos são simples: referenciar o slasher e fazer piada com as principais características desse subgênero – as pequenas participações dos atores Robert Englund e Tony Todd são bons exemplos disso. E dentro dessa proposta, o longa é bem sucedido. É violento e engraçado sem se levar a sério, exatamente como queria ser.
Victor Crowley Hatchet
Hatchet PosterFICHA TÉCNICA:
Título original: Hatchet
Gênero: Terror
País: EUA
Duração: 85 min.
Ano: 2006
Direção: Adam Green
Roteiro: Adam Green
Elenco: Joel David Moore, Amara Zaragoza, Deon Richmond, Kane Hodder, Mercedes McNab, Parry Shen, Joel Murray, Joleigh Fioravanti, Richard Riehle, Patrika Darbo, Robert Englund, Tony Todd.