Existe, em Ameaça Profunda, uma história envolvendo uma gananciosa companhia que resolveu explorar os confins mais profundos do oceano em busca de minério, sem se preocupar com a segurança dos seus funcionários ou com as consequências dos seus atos.
Há também uma trama envolvendo a protagonista, a engenheira mecânica Norah (Kristen Stewart), cuja perda da pessoa amada serve como uma âncora, impedindo-a de ir a lugar algum que não seja para baixo.
Tudo isso existe, só não é mostrado.
Não há nada de errado em um filme querer investir em subtextos e no desenvolvimento dos seus personagens como forma de dar mais substância à sua narrativa. Mas este não é o caso aqui.
Escrito por Brian Duffield (A Babá) e Adam Cozad (A Lenda de Tarzan), o roteiro acompanha um grupo de funcionários da tal mineradora subaquática que sobrevive a uma explosão e precisa cruzar um longo caminho pelo fundo do oceano, para chegar até as capsulas de evacuação.
Mas durante o percurso eles começam a suspeitar que a explosão não foi causada por um terremoto, como tinham suspeitado antes, mas por algo sobrenatural, originário do fundo do oceano.
As referências à Alien – O 8º Passageiro são explicitas: a companhia gananciosa, o pequeno grupo de tripulantes e a ameaça externa. Há, inclusive, uma cena na qual eles trazem uma criatura a bordo (e mexem nela com a mão!).
Mas ao contrário do filme de Ridley Scott, em que as personalidades dos tripulantes foram bem desenvolvidas, aqui não há um envolvimento do público com os personagens, fazendo com que nós não nos importemos com os seus destinos.
E quando tenta causar empatia, Ameaça Profunda segue um caminho duvidoso. Toda a subtrama envolvendo o trauma protagonista é mal explorada, e sua conclusão é, no mínimo, equivocada.
O cenário das profundezas do oceano, na qual não se enxerga nada à sua frente, serve como metáfora para a personalidade de Norah, cuja vida segue sem rumo, incapaz de distinguir o dia da noite, o sonho da realidade.
Norah está tão frágil quanto a estrutura que a abriga. Os tremores constantes e a gagueira ocasional apontam um colapso iminente. Além disso, é comum que ela seja mostrada sozinha e, mesmo quando está acompanha, o filme arranja um jeito de isolá-la.
Algumas das justificativas para tal isolamento não fazem o menor sentido. Em uma cena, Norah sugere seguir sozinha por um corredor apertado, sob a justificativa de ela ser a menor do grupo, por mais que todos estejam vestindo um exoesqueleto de tamanho único.
Ainda assim, tais momentos servem para reforçar a solidão da protagonista. Essa ideia é corroborada por diversos cartazes vistos nas paredes da plataforma falando sobre a importância de trabalhar em equipe.
A solidão não tem lugar em Ameaça Profunda.
Mas solidão e luto não são equivalências. E ao trata-las como tal, o longa prega a ideia de que a vida só é permitida a quem a aproveita em conjunto (ou melhor, em um relacionamento heterossexual).
É uma visão simplista e equivocada. E, sinceramente, espero que não tenha sido a intenção inicial dos roteiristas.
Digo isso porque, vendo o filme, fiquei com a impressão que dezenas de páginas do roteiro foram jogadas fora para o diretor William Eubank (O Sinal: Frequência do Medo) poder se focar na ação.
E Eubank claramente gosta de ação. Sua predisposição por criar sequências grandiosas de explosões em câmera lenta transforma a destruição da plataforma submarina (ocorrida nos primeiros cinco minutos) em um espetáculo visual.
Mas o impacto emocional de tais cenas é prejudicado pela constante repetição deste recurso (são pelo menos três explosões em câmera lenta ao longo do filme) e pela montagem confusa – em certos momentos é impossível distinguir quem está em perigo.
As referências se alternam no terceiro ato, abandonando a abordagem intimista de Alien e apostando em um clima catastrófico, no melhor estilo de Círculo de Fogo. O resultado, porém, é genérico, e fica aquém dos filmes referenciados.