Jackson Maine (Bradley Cooper) é um cantor famoso que tem um histórico de alcoolismo e problemas com drogas. Solitário, suas principais interações são com o seu motorista e com o irmão, que também atua como seu empresário. Ally (Lady Gaga) é uma jovem garçonete com talento musical que se apresenta em pequenos bares. Os dois se conhecem por intermédio do destino. Maine assiste a uma apresentação de Ally e fica encantado com o seu talento. Eles passam a noite juntos bebendo, cantando, conversando e se apaixonando. Jackson acaba convidando-a para segui-lo na turnê e dividir o palco com ele, dando-lhe a chance do estrelato que lhe havia sido negada até então.
A similaridade dos dois personagens é destacada na maneira como cada um é apresentado em tela. Maine é visto pela primeira vez bebendo e tomando remédios, num indicativo de que sua carreira bem-sucedida cobrou um preço muito alto. Já Ally surge escondida num banheiro, terminando um relacionamento por telefone, e trabalhando num emprego que ela odeia. Os dois estão perdidos, cada um à sua maneira. Tal similaridade é reforçada pelo fato de que os dois encontram refúgio na música. Enquanto ele parece se recuperar de todos os seus problemas quando está no palco – por mais bêbado esteja, ele nunca esquece uma nota –, ela faz seus pequenos shows como forma ficar mais próxima do seu sonho.
E fica claro que é apenas uma questão de tempo até ela alcançar esse sonho. Pois mesmo antes de ela ficar famosa, o filme já nos mostra que Ally está destinada ao estrelato. Trabalhando muito bem os simbolismos, o também diretor Bradley Cooper (fazendo aqui a sua estreia na função) cria cenas emblemáticas, como aquela em que ela sai da escuridão e caminha em direção à luz, ou quando vemos o seu rosto gigantesco num telão enquanto ela canta, e a figura diminuta de Maine tocando guitarra, afastado no canto – numa antecipação dos problemas que virão a acontecer. E é justamente no palco que Lady Gaga entrega o melhor da sua atuação, seja dançando desengonçada na sua primeira apresentação, na forma como cobre os olhos de vergonha no seu primeiro show com Maine ou na sua entrega emocional da última cena – sem dúvidas o seu melhor momento.
Porém, não existe interesse do filme em transformar Ally em um ser multifacetado. Isso até chega a ser esboçado em alguns momentos – como quando vemos que ela tem um temperamento explosivo e as vezes violento –, mas não chega a ser desenvolvido. Até a discussão a respeito de como a fama fez ela perder sua autenticidade é algo que não ganha muita atenção, a não ser como estratégia para gerar um conflito com Maine. Afinal, o show é dele. Ele é a estrela em torno da qual os outros orbitam. É Maine quem tem um arco dramático definido envolvendo o alcoolismo, o vício em drogas e os problemas familiares. É ele quem passa por um processo de decadência e reabilitação.
Assim, em vez de ser uma história da ascensão de uma estrela, o longa prefere focar a sua atenção nos motivos da decadência de outra. Cooper movimenta a sua câmera por trás dos personagens, muitas vezes filmando-os de costas, quase como se o aparelho tentasse acompanhar a rotina frenética daquelas pessoas. E quando estão no palco, eles são constantemente enquadrados em contraluz, algo que referencia o próprio título do filme, mas que também serve para demonstrar que, em certos momentos, a luz pode ser forte demais. Luz e estrelas não são sinônimos de felicidade.
Nasce uma Estrela é a quarta versão de uma história bastante conhecida em Hollywood. E não é um filme perfeito, pois apoia-se em algumas decisões narrativas questionáveis – como o fato de que todos os coadjuvantes existirem apenas em prol dos protagonistas – e pesa a mão no melodrama de vez em quando. Mesmo assim, o remake consegue encontrar seu próprio ritmo, especialmente por causa da entrega de Bradley Cooper tanto à frente quanto atrás das câmeras. Apresentando um sotaque carregado, o ator se entregou de corpo e alma para o papel, precisando até mesmo cantar ao vivo na frente de milhares de pessoas, tudo em nome da autenticidade. Todo esse esforço valeu a pena.
Título original: A Star is Born
Gênero: Drama/Romance/Musical
País: EUA
Duração: 136 min.
Ano: 2018
Direção: Bradley Cooper
Roteiro: Bradley Cooper, Eric Roth, Will Fetters.
Elenco: Bradley Cooper, Lady Gaga, Sam Elliott, Andrew Dice Clay, Rafi Gavron, Anthony Ramos, Dave Chappelle, Eddie Griffin, Alec Baldwin.