Terror manipula nossas expectativas, mas não sai do lugar-comum.
Alguns filmes de terror servem apenas para fortalecer estereótipos e temáticas moralistas presentes no gênero desde a sua origem – como é o caso de O Chamado 3. Já outros, seguem o caminho inverso, negando tais elementos e quebrando essas regras – os recentes A Bruxa e Corra! são bons exemplos disso. Verdade ou Desafio fica num meio termo entre estes dois polos: subverte as nossas expectativas em alguns momentos, mas as reforça em outros.
Inicialmente, a impressão que fica é que o longa vai corroborar com esse moralismo, mostrando a protagonista Olivia (Lucy Hale) como uma jovem virginal que quer passar o spring break construindo casas para desabrigados, em vez de ir para o México com seus amigos. Mas logo percebemos que Olivia nutre uma paixão secreta por Lucas (Tyler Posey), namorado da sua melhor amiga, Markie (Violett Beane). Ou seja, um jogo de aparências e de verdades escondidas fica estabelecido desde o início.
Na fachada, porém, Olivia mantém o seu véu de santidade. Tanto é, que ela só aceita viajar porque, de alguma maneira, sua amiga a convence de que, se ela não for, estará sendo egoísta. Quando ela e seus amigos são convidados por Carter (Landon Liboiron) para irem até uma antiga igreja brincar de Verdade ou Desafio, a primeira pergunta feita para Olivia tem a ver com sacrifício e sinceridade, uma ideia que se concretizará apenas na última cena do filme.
Durante a brincadeira, Carter logo revela a sua maldição: “O jogo é real”, diz ele, e suas as consequências, mais ainda. Uma vez amaldiçoados pelo jogo – passando a ter estranhas visões de pessoas com um sorriso extremamente largo e demoníaco –, os jovens são forçados a expor seus segredos mais íntimos, sob a pena de morte. Então, assim como o mendigo que aparece recebendo dinheiro e retorna para ameaça-la, as atitudes de Olívia voltam constantemente para atormentá-la, explicitando verdades e comportamentos que ela mantinha em segredo.
Porém, apesar de Verdade ou Desafio propor uma reviravolta acerca da impressão que temos da protagonista, o mesmo não pode ser dito dos personagens coadjuvantes, reduzidos a versões estereotipadas dos segredos que eles escondem (homossexualidade não assumida, problema com alcoolismo, egocentrismo, infidelidade, etc). Da mesma forma, a relação romântica entre Olivia e Lucas é algo que nunca funciona, em parte por causa da apatia dos seus interpretes, e em parte porque o diretor pesa a mão no romantismo barato.
O estilo do cineasta Jeff Wadlow (Kick-Ass 2) se caracteriza por não manter a câmera parada por muito tempo. Os constantes movimentos servem muito para criar de tensão em alguns momentos, como quando Penelope (Sophia Ali) é desafiada a caminhar pelo parapeito da casa, mas em outros, soam um pouco forçados, como quando ele tenta impor urgência a uma cena na qual as pessoas estão apenas olhando para os seus computadores.
Mas Wadlow acerta ao incorporar a linguagem das redes sociais no seu filme, utilizando filmagens feitas na vertical para ilustrar a passagem de tempo. A internet, por sinal, é usada frequentemente, não apenas nas pesquisas que os personagens fazem – no Google e no Facebook –, mas também na maneira como se comunicam: quando tenta descrever a tal face demoníaca que ela viu, Olivia diz que parecia um filtro estranho de snapchat – o que é uma forma criativa de explicar um efeito um tanto ridículo. A internet também tem papel essencial na última cena, de longe a mais corajosa e mais interessante.
Ao afinal, Verdade ou Desafio é frenético em muitos momentos, funcionando bem como um thriller, mas pouco assustador, o que o prejudica a sua apreciação como uma boa obra de terror. Ou seja, conforme dito antes, fica num meio termo.
Título original: Truth or Dare
Gênero: Terror
País: EUA
Duração: 100 min.
Ano: 2018
Direção: Jeff Wadlow
Roteiro: Jillian Jacobs, Michael Reisz, Christopher Roach, Jeff Wadlow.
Elenco: Lucy Hale, Tyler Posey, Violett Beane, Sophia Ali, Nolan Gerard Funk, Landon Liboiron, Sam Lerner, Brady Smith, Hayden Szeto, Morgan Lindholm.