Faroeste contemporâneo revisita alguns temas comuns ao gênero.
Um cowboy e um nativo americano sentam-se lado a lado, contemplando o vazio da sua violenta existência e a falta de perspectiva para o futuro. A conquista do oeste ficou para trás há muito tempo, e por mais que as chagas deste conflito continuem vivas até hoje, o perigo agora é outro. Cowboy e indígena precisam unir-se para tentar garantir a sua sobrevivência. Esse clima melancólico permeia durante toda a projeção de Terra Selvagem (Wind River), western pós-moderno escrito e dirigido por Taylor Sheridan (roteirista de À Qualquer Custo).
A trama acompanha Cory Lambert (Jeremy Renner), um caçador atormentado pela perda da sua filha e pelo consequente fim do seu casamento. Guardando toda a dor dentro de si, Cory tenta levar uma vida normal, passando o máximo de tempo com o filho pequeno e mantendo uma relação amigável com a ex-mulher. Certo dia, ao ser chamado na reserva indígena para eliminar um predador que está matando o gado da região, ele se depara com o corpo de uma jovem aparentemente assassinada. O caso é passado para a agente do FBI Jane Banner (Elizabeth Olsen), que solicita o auxílio do caçador na investigação.
Fugindo da obviedade de apostar em uma tensão sexual entre o casal de protagonistas, o roteiro investe, em vez disso, em outra dinâmica: uma parceria. Ambos personagens têm um objetivo em comum, ainda que suas motivações sejam diferentes. Enquanto Cory enxerga naquela situação a possibilidade de buscar para os outros a vingança que ele nunca conseguiu para ele próprio – e talvez diminuir um pouco da raiva que guarda dentro de si -, Jane tenta se impor em meio a uma sociedade machista (a baixa estatura da atriz, em meio a homens mais altos do que ela, indica isso) e burocrata.
Porém, se o filme é bem sucedido em desenvolver as motivações do primeiro, apoiando-se numa atuação concisa e silenciosa de Jeremy Renner, o mesmo não pode ser dito da personagem de Elizabeth Olsen. Por mais que a atriz faça o possível para trazer alguma profundidade à agente do FBI, é comum que ela seja vista numa posição excessivamente frágil, necessitando do auxílio de um homem para salvá-la do perigo. Isso, porém, não é um problema específico de Terra Selvagem, mas do gênero no qual ele está inserido. Mesmo que alguns títulos fujam dessa “regra”, a grande maioria dos westerns se caracteriza por retratar as mulheres numa posição subalterna.
Essa comparação é válida, porque esta obra carrega muitas semelhanças com os faroestes antigos. A relação com a natureza tem bastante destaque aqui (a neve substitui o deserto, mas os perigos são os mesmos), a ideia de uma terra sem lei também se repete, assim como a forma como a história é contada: o diretor desenvolve a narrativa de maneira lenta, mostrando os detalhes de uma investigação que, como é comum no gênero, culmina em um grande tiroteio.
Ou seja, trata-se de uma narrativa clássica, seguida quase que à risca. Porém, assim como fez com o roteiro do ótimo À Qualquer Custo, Taylor Sheridan busca ressignificar o gênero do western, revisitando algumas ideias do revisionismo pelo qual o gênero passou. Aqui, tanto o cowboy quanto o nativo americano perderam o seu lugar no mundo. E este último, como os próprios dados apresentados ao final do filme sugerem, corre um risco muito grande de desaparecer.
Título original: Wind River
Gênero: Drama/Thriller/Western
País: EUA
Duração: 107 min.
Ano: 2017
Direção: Taylor Sheridan
Roteiro: Taylor Sheridan
Elenco: Jeremy Renner, Elizabeth Olsen, Graham Greene, Julia Jones, Kelsey Asbille, Apesanahkwat, Jon Bernthal, Matthew Del Negro, Hugh Dillon, Ian Bohen.