Cinebiografia dirigida por Raoul Peck não explora bem seu personagem principal.
Karl Marx foi um filósofo, escritor, jornalista e pensador, cujos trabalhos abrangem áreas tão diversas como história, filosofia, economia e sociologia, mas que é constantemente mal interpretado em meio às discussões políticas atuais. Assim como o próprio título sugere, O Jovem Karl Marx (Le Jeune Karl Marx, Alemanha/França/Bélgica, 2017) é uma cinebiografia focada na sua juventude, acompanhando-o desde o início da sua vida adulta até o momento em que ele cria o Manifesto do Partido Comunista.
Escrito por Pascal Bonitzer (Não Toque no Machado) e pelo diretor Raoul Peck (do elogiado documentário Eu Não Sou Seu Negro), o filme se passa na Europa, na metade do século XIX e apresenta Marx (August Diehl) trabalhando em pequenos jornais. Autor de colunas consideradas transgressoras, ele sofre perseguição política, sendo exilado ao lado da esposa Jenny (Vicky Krieps). Paralelo a isso, Friedrich Engels (Stefan Konarske), filho do dono de uma fábrica, vai contra a visão do pai e demonstra interesse em realizar um estudo sobre as condições de trabalho.
Destacando a diferença entre a opulência das grandes construções habitadas pela burguesia europeia e o submundo onde eram realizadas as reuniões revolucionárias (como as da Liga dos Justos), o design de produção de Benoît Barouh (Madame Bovary) e Christophe Couzon é hábil ao estabelecer a natureza simples e intelectual do personagem principal: sua casa, por exemplo, é vista como um lugar apertado, mas conta com livros espalhados por todos os cantos, inclusive no chão. Porém, se os aspectos técnicos como estes são louváveis, o mesmo não pode ser dito de algumas das decisões narrativas que foram tomadas aqui.
Mencionado anteriormente, o Manifesto é a segunda obra mais conhecida de Karl Marx, atrás apenas de O Capital, um extenso estudo acerca do capitalismo e da divisão de classes. E ainda que o longa não o mostre escrevendo seu principal livro, essas ideias são discutidas por meio da sua visão do mundo em que vivia. Em uma época transformada pela Revolução Industrial, as condições na linha de montagem das fábricas eram bastante precárias e o uso de trabalho infantil era visto como uma necessidade para que os empresários conseguissem manter os custos baixos.
O problema é que todas essas questões são apresentadas de maneira muito didática para o espectador por meio de situações clichês, diálogos expositivos e exemplos óbvios. Igualmente questionável é a escolha do roteiro de esconder toda e qualquer polêmica envolvendo a vida pública e privada do seu protagonista. Ainda assim, um ponto positivo do filme é o fato de manter o seu foco na amizade entre Marx e Engels, uma relação que é construída com base na admiração mútua.
Conduzindo a sua narrativa de maneira trivial e sem nenhuma ousadia, Raoul Peck não consegue explorar as nuances do seu personagem principal, entregando uma obra que mais parece uma cinebiografia televisiva. Ou seja, O Jovem Karl Marx é correto, mas fica aquém da importância da pessoa aqui retratada.
FICHA TÉCNICA:
Título original: Le jeune Karl Marx
Gênero: Drama
País: Alemanha/França/Bélgica
Duração: 118 min.
Ano: 2017
Direção: Raoul Peck
Roteiro: Pascal Bonitzer e Raoul Peck
Elenco: August Diehl, Stefan Konarske, Vicky Krieps, Olivier Gourmet, Hannah Steele, Alexander Scheer.