Crítica | Bruxa de Blair

Há alguns meses, quando noticiei o trailer de um terror chamado The Woods, falei que estava curioso para ver o que o cineasta Adam Wingard faria ao explorar o found footage, uma vez que se trata de um estilo desafiador, mesmo nas mãos de alguém competente. Um tempo depois, quando foi revelado que The Woods era, na verdade, uma continuação secreta de A Bruxa de Blair (1999), fiquei ainda mais interessado, uma vez ele estaria mexendo com um verdadeiro clássico da cinematografia recente do horror. Assim, é uma satisfação perceber que Wingard conseguiu entregar um ótimo trabalho, que referencia o original, mas sem tentar copiá-lo, e subverte o formato no qual está inserido.

Escrito por Simon Barrett (Você É o Próximo e The Guest), o roteiro acompanha Lisa (Callie Hernandez), uma jovem aspirante a documentarista que quer fazer um filme sobre seu amigo James (James Allen McCune), cuja irmã – a protagonista do longa de 1999 – desapareceu 20 anos atrás, na floresta de Burkittsville. James acredita ter visto a imagem da sua irmã num vídeo recente postado na internet e resolve ir procurá-la, acompanhado do casal de amigos Peter (Brandon Scott) e Ashley (Corbin Reid). No caminho, se juntam ao grupo Lane (Wes Robinson) e Talia (Valorie Curry), dois moradores de Burkittsville, responsáveis por postar o vídeo que James assistiu.
Mesmo repetindo a premissa e algumas cenas do anterior – como aquela em que os personagens correm pela floresta, gritando rumo à escuridão –, a estética deste Bruxa de Blair está muito mais relacionada ao novo formato que o found footage adquiriu nos últimos anos, quando deixou de se associar a um falso documentário e passou a se relacionar com o estilo dos vídeos amadores. Da mesma forma, Wingard não segue “regras” do found footage, abusando de jump scares e outros efeitos sonoros exagerados – efeitos esses que, em teoria, não teriam lugar dentro de uma proposta realista.
Além disso, a evolução da tecnologia possibilita o uso de diversos pontos de vista, explorados por meio de câmeras auriculares, drones, etc. Já o uso simultâneo de filmagem em digital e em vídeo (este último proveniente da câmera de Lane) surge como uma referência visual que une as duas histórias (a deste filme e a do anterior), passadas em épocas tão distintas – vale lembrar que o longa original também misturou dois formatos distintos de filmagem, o 16mm e o vídeo. E ao contrário de obras como Atividade Paranormal, por exemplo, nas quais a câmera aparece quase como a causadora (ou ao menos como potencializadora) das ameaças; aqui o equipamento é utilizado como um instrumento de defesa, já que, como bem sabemos, a bruxa não gosta de ser filmada.
Pecando ao não saber explorar todos os elementos que são apresentados ao longo da narrativa, o longa traz diversas situações que não têm influência nenhuma na trama e logo são esquecidas. É o caso da webcam colocada em uma árvore que fica sem bateria justamente quando teria algo de interessante para mostrar, ou do inseto que é retirado de dentro do corpo de uma personagem sem motivo algum. O roteiro também sugere (mas não explora) um desenvolvimento da relação entre o casal principal e dos traumas do James, mas não faz o mesmo com os coadjuvantes.
E apesar de eu ter gostado muito do filme, reconheço que a proporção muito maior dada a história pode desagradar os fãs mais fervorosos. Isso porque Bruxa de Blair segue um caminho menos sugestivo e mais explícito. O orçamento inchado e o uso de efeitos especiais colocam essa obra muito mais próxima do terror clássico do que das produções independentes. É terrorzão blockbuster, sim, mas é muito bem feito.

Título original: Blair Witch

Ano: 2016
Duração: 89 min.
Gênero: Terror
Direção: Adam Wingard
Roteiro: Simon Barrett
Elenco: James Allen McCune, Callie Hernandez, Corbin Reid, Brandon Scott, Wes Robinson e Valorie Curry.