Via de regra, um crítico de cinema não deve, durante sua análise, se ater aos aspectos da produção de um filme. O trabalho do crítico é avaliar aquilo que lhe é mostrado na tela, não o que veio antes. Sendo assim, aviso logo de início que vou quebrar essa regra durante a minha análise de Guerra Mundial Z, não porque eu pense que ela não é válida (ela é), mas sim porque acho que o grande mérito desse longa é o fato dele ter um resultado positivo mesmo depois de tudo o que passou.
Uma pesquisa rápida na internet deixará o leitor mais interessado a par de tudo o que aconteceu na produção. Vou me ater aqui ao principal problema enfrentado: quando o primeiro corte do filme foi finalizado e apresentado ao estúdio, ele tinha menos de uma hora de duração. Os produtores (inclusive o próprio Pitt) recorreram então ao roteirista Damon Lindelof (Lost) para escrever o que faltava para finalizar a história. Aumentando ainda mais o já exorbitante orçamento, o longa passou por mais sete semanas de refilmagem até finalizado novamente.
Livremente baseado no livro de Max Brooks (autor do ótimo O Guia de Sobrevivência aos Zumbis), a trama acompanha Gerry Lane (Brad Pitt), um ex-funcionário das Nações Unidas que hoje se dedica a ser um marido melhor e um bom pai. Quando uma súbita onda de ataques de zumbis começa a acontecer no mundo todo, Lane é chamado de volta para seu antigo serviço, com a proposta de que ele viaje ao redor mundo tentando encontrar uma cura para essa nova praga. Em troca dos seus serviços, a família dele ficará segura em um porta-aviões, localizado no meio do oceano, aparentemente a única forma de governo ainda em funcionamento.
Guerra Mundial Z é calcado por um sentimento de urgência (algo retratado pela câmera sempre tremendo e os cortes rápidos), com ecos de problemas sócio-políticos atuais (como o crescimento populacional), mas que, devido a tudo o que se passou, não consegue se aprofundar em nenhuma dessas questões. Seu grande mérito passa a ser o protagonista. Inteligente e observador, o Gerry Lane de Brad Pitt é corajoso o suficiente para tomar decisões que outros ao menos hesitariam (como subir no parapeito de um prédio quando suspeita estar contaminado).
Entretanto, nessas mexidas no roteiro, quem saiu perdendo foram os coadjuvantes, em especial a esposa do herói, que acaba sendo retrata como um estorvo na vida dele. Além disso, a completa ausência de sangue (numa tentativa de manter a censura baixa e atrair mais público) acaba prejudicando a narrativa, uma vez que tira o impacto visual causado pelos ataques das criaturas.
E fica clara a interferência de Lindelof no terceiro ato, quando uma mudança brusca de ritmo é apresentada (inserindo até uma narração em off, algo que não tinha sido utilizado até então). Pessoalmente, gostei da mudança por achá-la condizente com a história. Afinal, se humanidade perdeu todas as batalhas no campo, era mesmo hora de buscar uma solução em outro lugar. E com isso, Guerra Mundial Z acaba sendo apenas um bom filme, o que, como eu disse antes, já significa muito.
(World War Z – Ação / Horror – EUA – 2013 – 116 min)
Direção: Marc Forster
Roteiro: Matthew Michael Carnahan, Drew Goddard, Damon Lindelof, J. Michael Straczynski.
Elenco: Brad Pitt, Mireille Enos, Daniella Kertesz, James Badge Dale, Fana Mokoena, Ludi Boeken, Elyes Gabel, Pierfrancesco Favino, Peter Capaldi