Crítica – 360

360, novo longa estrangeiro do brasileiro Fernando Meirelles (Cidade de Deus e Ensaio Sobre a Cegueira), mostra diversas histórias ocorrendo ao redor do mundo com pessoas comuns. Pequenos dramas envolvendo adultérios, amores impossíveis, descontento com o emprego, escolhas arriscadas e, principalmente, incomunicabilidade. São histórias que poderiam se passar em uma única cidade, mas que o cineasta prefere apresentá-las como pequenas anedotas mundiais.

O título é uma alegoria à 360º, um círculo completo (ou uma volta no mundo), e a narrativa é toda construída dessa maneira. É uma estrutura circular, onde acompanhamos os personagens em momentos decisivos de suas vidas, adicionando-se a isso as consequências geradas pelas suas decisões e a possível resolução dos seus problemas (que, muitas vezes acaba deixando-os exatamente onde estavam antes). Tal decisão narrativa, apesar de condizente com a proposta estabelecida, acaba enfraquecendo o resultado final já que não permite que o público se envolva com os personagens – algo auxiliado pelas excessivas subtramas e pelo fato do roteiro de Peter Morgan (Frost/Nixon) apelar para diálogos autoexplicativos em praticamente todas as situações.

Temos a eslovaca que resolveu se prostituir para ganhar dinheiro “fácil”; o muçulmano tendo que lidar com sua paixão por uma mulher comprometida; o inglês bem sucedido nos negócios, mas infeliz no casamento; a inglesa tendo um caso com um jovem brasileiro; a namorada desse rapaz o abandonando e voltando para o Brasil; o criminoso sexual americano em liberdade condicional que se vê rodeado de tentações; o pai inglês em busca da filha desaparecida; a russa querendo um divórcio do marido, enquanto esse mantém um emprego perigoso.

Reforçando a ideia da falta de nacionalidade ao utilizar uma trilha sonora repleta de músicas dos diversos países por onde a história se passa, o filme ainda busca aproximar os personagens – muitas vezes separados geograficamente por milhares de quilômetros – através de belas transições e pelo uso de tela divida, o que ilustra o quanto os problemas de cada um se assemelham aos do próximo – algo comprovado, de maneira extremamente eficiente, em uma cena em que vários personagens apagam a luz do quarto antes de dormirem.

Contando com um grandioso elenco, que inclui os sempre competentes Anthony Hopkins, Jude Law e Rachel Weisz, e os brasileiros Maria Flor e Juliano Cazarré falando inglês com bastante naturalidade; o destaque fica por conta de Ben Foster. Mesmo não tendo muito tempo em tela, o ator consegue construir dramaticamente o seu personagem de maneira bastante efetiva: repare como ele evita o contato visual com as pessoas, mas ainda assim  busca o mínimo de contato físico, numa forma de, ao mesmo tempo, se satisfazer e se punir. E a maneira como Meirelles mostra a pressão desse personagem em certo momento – através de uma imagem granulada e câmera tremendo – também merecem destaque. São bons momentos como esse que rendem ao longa um resultado satisfatório. Ainda que isso, talvez, não seja o suficiente.

(idem – Inglaterra/França/Austria/Brasil – Drama – 110 min.)
Direção: Fernando Meirelles
Roteiro: Peter Morgan, baseado na peça de Arthur Schnitzler.
Elenco: Rachel Weisz, Jude Law, Anthony Hopkins, Maria Flor, Juliano Cazarré, Ben Foster, Jamel Debbouze, Lucia Siposová, Gabriela Marcinkova, Vladimir Vdovichenkov, Dinara Drukarova.



Nota:(Bom) por Daniel Medeiros