A obsessão, a superação, a busca de um objetivo e a autodestruição resultante da junção dessas características já é tema recorrente na carreira do cineasta Darren Aronofsky. Em Cisne Negro, o diretor cria um diálogo direto com suas obras anteriores, além de adicionar novidades em sua filmografia; resultando em um filme tenso, forte e excelente.
Na trama, a jovem bailarina Nina Sayers ganha sua grande chance do estrelato ao ser escolhida para protagonizar uma nova versão do O Lago dos Cisnes, quando a veterana Beth Macintyre (Winona Ryder) é forçada a se aposentar. Thomas Leroy (Vincent Cassel), diretor da peça, impõe que sua escolhida seja capaz de interpretar ambos os papéis (o Cisne Branco e o Cisne Negro), e nisso Nina se vê obcecada a atingir a perfeição exigida, além de ser atormentada por estranhas visões e desejos reprimidos. Ao mesmo tempo, uma nova bailarina da companhia (Mila Kunis) começa a roubar a atenção de Thomas, sendo vista como uma ameaça ao sucesso e reconhecimento de Nina.
A idéia de mostrar alguém sucumbindo a sua própria obsessão, ignorando todos os avisos externos, e caindo em uma paranóia esquizofrênica já aconteceu antes com o matemático Max Cohen (PI). E a busca pelo objetivo ser levada a um extremo ponto, em que a vida do (a) protagonista corra perigo, é algo que já foi visto na história de Randy “The Ram” Robinson (O Lutador).
Além disso, Aronofsky que sempre prezou em sua carreira por colocar o espectador como participante ativo, fazendo o público sentir o que os personagens sentem (como dores de cabeça de Max Cohen ou com os eletrochoques que visavam “curar” Sara Goldfarb), não só mantém essa característica nesse longa – afinal, quem não se contorceu na cadeira com o corte na mão de Nina? Ou com sua unha quebrada? – como prolonga o diálogo entre seus filmes: seja no clímax estendido e angustiante – vide Réquiem para Um Sonho – ou mesmo na maneira como esse clímax se encerra – bastante similar ao de outro trabalho dele (não vou falar qual é para não estragar nenhuma surpresa). Sobrando lugar ainda para um tema inédito: a dualidade.
O fato do “inimigo” de Nina ser ela mesma (a busca por perfeição torna limitada a sua capacidade de improvisação e o que faz com que seus movimentos sejam previsíveis) é ilustrado através de alucinações onde ela vê a si mesma nas ruas e no constante uso de espelhos (tanto em casa, como no balé ou no metrô). Sendo assim, é interessante notar como Lily – que é vista por Nina como uma rival e possível conspiradora contra o seu sucesso – é constantemente mostrada vestida de preto, contrastando assim com as vestes claras da protagonista.
Inovando também ao trazer uma mulher como protagonista, Darren acertou em cheio ao escolher a bela Natalie Portman para o papel de Nina. A jovem encarna de maneira admirável uma personagem reprimida e atormentada. A atriz chegou a passar por uma transformação física, tendo que perder peso e aprender balé para o filme. Sendo assim, não será surpresa se, no dia 27, a academia consagre Natalie com o prêmio de Melhor Atriz.
Fica a impressão que o diretor usou esse filme para fechar um ciclo em sua filmografia, partindo agora para projetos mais comerciais, como Wolverine 2. Resta saber agora se Darren conseguirá manter o nível de seus próximos projetos. Ainda assim, o que posso dizer com certeza é que, embora não tenha gostado da primeira aventura solo do herói mutante, aguardo ansioso sua continuação.