Crítica | Turma da Mônica: Laços é um filme nostálgico e emocionante

Criada na década de 1960 pelo cartunista brasileiro Maurício de Sousa, a Turma da Mônica já rendeu inúmeras histórias em quadrinhos, livros e animações (além de uma infinidade de outros produtos), garantindo um lugar de destaque no imaginário popular brasileiro há mais de 50 anos.

Mas apesar da sua importância e do seu poder cultural, até hoje ela nunca tinha ganho uma adaptação cinematográfica em live-action. Dirigido por Daniel Rezende (o mesmo de Bingo – O Rei das Manhãs) , Turma da Mônica: Laços chega aos cinemas com o intuito de preencher essa lacuna, entregando uma obra cheia de emoção e nostalgia.

A base para o longa-metragem não é uma história de Maurício de Sousa, mas sim uma graphic novel escrita e desenhada pelos irmãos mineiros Vitor e Lu Cafaggi (cuja resenha pode ser lida aqui). Laços foi um dos primeiros lançamentos do selo Graphic MSP, e mostra a turminha em meio a uma aventura inspirada em clássicos da década de 1980, como Os Goonies.

Turma da Mônica: Laços

Escrito por Thiago Dottori (VIPs), o roteiro do filme coloca Mônica (Giulia Benitte), Cebolinha (Kevin Vechiatto), Magali (Laura Rauseo) e Cascão (Gabriel Moreira) se aventurando pela floresta em busca do cachorro Floquinho. Em meio à sua jornada, o grupo se depara com estranhas figuras, enfrenta perigos e acaba descobrindo a importância da amizade, ou seja, dos laços formados na infância.

Existe um estranhamento inicial causado pelo impacto de ouvir aqueles personagens pela primeira vez. É preciso se acostumar com as suas vozes, em especial à do Cebolinha, cuja dislalia soa falsa no começo.

Mas, ao contrário disso, a relação visual é facilmente estabelecida, seja pelo fato de o filme respeitar os figurinos originais ou pela forma como eles nos são apresentados. Rezende dá atenção a detalhes como a mão da Mônica segurando seu ursinho de pelúcia ou ao cabelo espetado do Cebolinha antes de apresentá-los de corpo inteiro.

Turma da Mônica: Laços

Aliás, sabendo da iconografia por trás daquele universo, o diretor passeia com a sua câmera pelo bairro do Limoeiro, captando diversos easter eggs, como as participações de outras figuras conhecidas (o Jeremias, o Titi, etc.), além do próprio Maurício e dos irmãos Cafaggi (que aparecem em cena ao lado de Sidney Gusman, editor da HQ Laços e idealizador da Graphic MSP).

Mais do que dar movimento às imagens dos quadrinhos, o cineasta imprime um estilo próprio. É notável, por exemplo, a maneira como utiliza a câmera e a montagem para fazer a participação do Louco (Rodrigo Santoro) destoar do resto do filme, como se a própria imagem traduzisse a sua imprevisibilidade

Apresentando uma narrativa focada na união e na amizade, o cineasta procura explorar ao máximo a interação entre aqueles personagens. Afinal, embora sejam os ícones que acompanharam as nossas infâncias, elas também são crianças, e agem como tal.

Rodrigo Santoro em cena do filme Turma da Mônica: Laços

E o roteiro ainda consegue dar a densidade e a complexidade de dois dos seus protagonistas. Entendemos os motivos por trás dos planos infalíveis do Cebolinha (como forma de reinar absoluto e solitário) e das reações violentas de Mônica (sua única resposta possível diante da situação).

São complexidades explicitadas por meio de silêncios, trocas de olhares e lágrimas. Nessa interação, porém, Cascão e Magali acabam sobrando. Eles até tem as suas jornadas e precisam enfrentar os seus medos (água e comida), mas seus personagens são menos desenvolvidos do que os outros dois. Mas isso não chega a estragar a experiência.

Emocionante em alguns momentos (a cena da Mônica chorando é de cortar o coração) e nostálgico em muitos outros, Turma da Mônica – Laços é leve, colorido, divertido, lúdico e atemporal, assim como as histórias em quadrinhos que o inspiraram, aproximando-se ao máximo da ideia de uma “adaptação fiel”.

Por isso, não sei dizer se funciona tão bem com quem não tem – ou não teve – uma relação muito próxima com a obra de Maurício de Sousa. O que posso dizer é que fiquei com um sorriso de orelha a orelha durante toda a projeção.

Turma da Mônica: Laços
Turma da Mônica: Laços - Pôster

FICHA TÉCNICA:
Gênero: Comédia/Aventura
País de origem: Brasil
Ano de lançamento: 2019
Direção: Daniel Rezende
Roteiro: Thiago Dottori
Elenco: Giulia Benitte, Kevin Vechiatto, Laura Rauseo, Gabriel Moreira, Rodrigo Santoro, Monica Iozzi, Paulo Vilhena, Adriano Bolshi, Ravel Cabral, Maurício de Sousa.

Assista ao trailer de Turma da Mônica: Laços: