O Rei Leão é, sem dúvidas, um dos filmes mais aguardados pelo público neste ano. Trata-se do remake de um desenho que moldou a infância de muita gente – e eu me incluo nessa lista.
Pensando nessa expectativa, resolvi fazer um post mais caprichado, contendo não apenas a habitual crítica do filme, mas algo mais completo, digno de um projeto gestado e acompanhado com tanta antecipação.
Então, ao longo de post, eu vou:
- Fazer uma crítica completa do filme, destacando seus pontos positivos e negativos;
- Apresentar um perfil detalhado do diretor, falando também sobre sua carreira pregressa como ator e roteirista;
- Listar diversas curiosidades sobre o filme, como o fato de ser uma adaptação de Shakespeare e as mudanças em relação ao original;
- Disponibilizar o trailer legendado do filme, além da lista dos atores envolvidos na dublagem original.
Então fique comigo até o final, e não esqueça de deixar a sua opinião no campo de comentários, abaixo.
Crítica | Realismo em excesso prejudica a fantasia de O Rei Leão
Há três anos, o cineasta Jon Favreau foi muito bem sucedido ao transformar uma animação da Disney em um filme que, embora homenageasse o original, também criou uma narrativa própria, característica do seu diretor.
Sua versão de Mogli, o Menino Lobo foi um sucesso de bilheteria, rendendo quase U$ 1 bilhão para os cofres da Disney, e caiu nas graças da crítica, arrecadando a notável marca de 94% de aprovação no site Rotten Tomatoes.
Diante de tamanho sucesso, e da onda interminável de adaptações de desenhos clássicos, o estúdio não perdeu tempo e logo anunciou Favreau como o responsável por trazer de volta às telas outro desenho de sucesso: O Rei Leão.
Mas se antes o realizador conseguiu se equilibrar entre os devaneios do desenho e o realismo proporcionado pelos efeitos especiais, neste seu novo trabalho o maravilhamento causado pela tecnologia parece ter feito Favreau esquecer da fantasia do universo ali retratado.
Este remake de O Rei Leão é visualmente belo, mas fantasiosamente frio.
Escrito por Jeff Nathanson (Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar), o roteiro segue a mesma estrutura do desenho, com diálogos e situações iguais ao original. Logo no início, acompanhamos o nascimento de Simba, filho de Mufasa e futuro rei da savana.
Os pontos positivos
Nathanson encontra espaço para novas inserções de humor. É o caso da arara Zazu, vista como a grande defensora da monarquia da floresta (e mais engraçado é perceber que ela é dublada pelo britânico John Oliver, um grande crítico do sistema monárquico).
Mas a melhor das mudanças propostas pelo roteirista é o desenvolvimento do tio de Simba, Scar. Embora sempre tenha sido um vilão multifacetado, aqui o roteirista lhe dá mais tempo de tela, possibilitando que o público entenda melhor suas motivações – especialmente o seu desgosto em relação à Mufasa.
A dublagem de Chiwetel Ejiofor, por sinal, é um ponto positivo. A fala pausada do ator transmite a inveja do seu personagem. Tal inveja é a causa da morte de Mufasa e do isolamento do Simba, fazendo com que este encontre refúgio com seus novos amigos: Timão e Pumba.
Ao contrário do desenho, no qual o suricato e o javali eram vistos como dois párias, agora eles são membros de uma verdadeira comunidade hippie, uma comunidade que se recusa a viver sob os ditames da sociedade.
Isso dá força à decisão de Simba de viver lá, pois ele não está apenas se escondendo, mas está negando toda uma tradição da qual antes ele fazia parte.
Também ajuda o fato de Timão e Pumba serem dublados pelos comediantes Billy Eichner e Seth Rogen, e que os dois tenham improvisado muitas das suas falas. Desta forma, eles se afastam dos personagens originais de uma maneira positiva.
Os pontos negativos
Mas se as comparações com o desenho engrandecem este remake em alguns pontos, em outros elas apenas explicitam as falhas desta nova produção. (É importante destacar que as comparações com o desenho são necessárias e são propostas pelos próprios realizadores).
Pois se o desenho se beneficiou da sua origem shakespeariana (a obra é uma adaptação de Hamlet), especialmente na apresentação do vilão de Scar, cuja expressividade e exagero eram características de um ator de teatro, aqui o realismo atrapalha essa percepção.
O estilo national geographic proposto por Jon Favreau bate de frente com o clima fantasioso daquilo que é mostrado. Afinal, este não é apenas um filme sobre animais falantes, mas é também um musical.
Favreau parece maravilhado com a evolução da tecnologia neste triênio que separa Mogli de O Rei Leão. Seu enfoque é em trazer o máximo de realismo para a tela. E nisso, ele é bem sucedido. O movimento dos animais é fidedigno, os pelos balançando ao vento, a expressividade do olhar, está tudo ali. Mas algo fica faltando.
Tal falta é sentida principalmente na morte de Mufasa, um momento devastador no longa original, mas que aqui não traz emoção alguma. Da mesma maneira, o diretor parece retraído na hora de filmar as sequências musicais.
Até existe uma tentativa de aproximação com as cenas originais, mas ao mesmo tempo há a necessidade de manter-se calcado na realidade – uma preocupação que o gênero musical nunca teve.
Os protagonistas
E se escolha de dubladores para os personagens coadjuvantes foi bem-sucedida (há também a voz sempre imponente de James Earl Jones, repetindo o seu papel de Mufasa), a escolha dos protagonistas se mostrou equivocada.
É possível entender as decisões comerciais por trás desta escolha. Beyoncé é sem dúvida o maior nome da indústria fonográfica na atualidade, e o ator/cantor Donald Glover (ou Childish Gambino) cuja carreira ascendeu de maneira meteórica nos últimos anos.
Trazer estes dois nomes de peso para dublar Nala e Simba, e ainda cantar no filme, é uma escolha fácil, mas não necessariamente uma escolha boa. Não apenas as músicas que eles cantam não são cativantes, como eles se mostram apáticos como dubladores.
E embora Glover tenha experiência nessa área, sua entonação não combina com a voz de Simba. Falta a ele a presença de cena necessária ao protagonista.
Conclusão
O Rei Leão não é um filme ruim. Assim como tentei apontar ao longo do texto, trata-se de uma obra com diversas qualidades e diversos defeitos.
Mas o seu maior problema é apoiar-se demais ao material anterior, visando entregar ao público não só aquilo que eles já esperavam receber, como aquilo que eles viram antes.
Foi uma estratégia boa comercial. Em pouco mais de duas semanas em cartaz, o longa-metragem já superou a marca de U$ 1 bilhão nas bilheterias.
Mas sucesso não é sinônimo de qualidade.
E no caso de O Rei Leão, o mais decepcionante é perceber como não só o filme está aquém da animação original, como é algo inferior ao que o próprio diretor já se mostrou capaz de fazer.
Perfil do diretor: Jon Favreau
Nascido em 19 de outubro de 1966, no Queens, em Nova York, Jon Favreau começou a sua carreira como ator, fazendo pequenas aparições em filmes como Um Homem à Beira de Um Ataque de Nervos (1992), na série Seinfeld e no filme Batman Eternamente (1995)
Em 1996, Favreau escreveu a comédia Swingers: Curtindo a Noite (1996), que ele também estrelou, ao lado de Vince Vaughn. O filme rendeu alguns prêmios e indicações a Favreau.
Depois disso, conseguiu um papel recorrente na série Friends (ele interpretou o namorado de Monica), apareceu no blockbuster Impacto Profundo (1998) e na ótima comédia Virando o Jogo (2000).
Seus primeiros trabalhos como diretor foram os telefilmes Bad Cop, Bad Cop (1998) e Smog (1999).
Em 2001, Favreau escreveu e dirigiu seu primeiro longa-metragem, a comédia Crime Desorganizado, que voltou a reuni-lo com seu amigo Vince Vaughn. Desde então, ele tem alternado papeis como ator e como diretor.
Ele estrelou filmes como Demolidor – O Homem sem Medo (2003), Alguém tem que Ceder (2003) e Separados pelo Casamento (2006). E dirigiu os divertidos Um Duende em Nova York (2003) e Zathura: Uma Aventura Espacial (2005).
A grande mudança na sua carreira aconteceu quando ele dirigiu Homem de Ferro (2008), filme que catapultou o universo cinematográfico da Marvel, além de render um papel recorrente como o segurança do protagonista.
Favreau também comandou a continuação, Homem de Ferro 2 (2010), e o fraco Cowboys & Aliens (2011). Depois da recepção morna de seu sci-fi faroeste, ele fez alguns trabalhos para a TV e retornou com o projetor pessoal Chef (2014).
Em 2016 ele dirigiu Mogli, o Menino Lobo e atualmente está envolvido na continuação desse filme. Além disso, seus projetos futuros envolvem a série The Mandalorian, sobre o universo de Star Wars.
Curiosidades sobre O Rei Leão
Se você chegou até aqui, deve ser porque está bastante interessado nesse filme. Então, para finalizar, eu preparei uma lista de algumas curiosidades interessantes sobre O Rei Leão. Confira!
Adaptação de Hamlet
Uma das maiores curiosidades em relação a O Rei Leão – e que muita gente não sabia – é que o filme é uma adaptação livre da obra clássica Hamlet, de William Shakespeare.
Assim como na animação, a peça de Shakespeare fala sobre um jovem príncipe, herdeiro do trono, que precisa se exilar depois que seu tio ciumento mata o rei para tomar-lhe o trono.
Depois de um tempo no exílio, o príncipe retorna para enfrentar o tio e reclamar o seu lugar de direito no trono. A trama é basicamente a mesma, com a exceção de que as tramas palacianas deram lugar à savana africana.
Live-action?
Logo que foi anunciada produção de um novo O Rei Leão utilizando a mesma tecnologia de Mogli – O Menino Lobo, muitos veículos de notícias caracterizaram este filme como uma versão “live-action” do desenho original. Esta definição é equivocada.
Para ser um live-action, é preciso que haja algo “vivo” na tela. No caso de Mogli, havia um ator interagindo com os animais digitais. Nesse caso não há. Portanto, o novo O Rei Leão é uma animação.
A melhor maneira de descrevê-lo é como um remake do original.
Diferença no vilão Scar
Conforme foi apontado ao longo deste texto, existem grandes diferenças na concepção do personagem de Scar, O próprio ator Chiwetel Ejiofor, que dubla o vilão, falou sobre essas diferenças em entrevistas.
Para ele, o seu Scar é mais brutal e mais “psicologicamente possuído”, ao passo que o vilão original – dublado por Jeremy Irons – era mais teatral e mais caricatural.
“Scar não é um leão britânico legal e calmo com uma veia furiosa; ele é mais um barril de pólvora pronto para explodir”, explicou ele.
Mudança na etnia dos dubladores
Ao contrário da animação original, todos os leões – e a grande maioria do elenco – é dublada por atores e atrizes de descendência africana. No desenho de 1994, somente quatro dos dubladores eram negros.
A mudança é significativa e condizente com a história retratada, que se passa na África.
Além disso, os dois protagonistas têm experiência musical. Donald Glover, que interpreta Simba, tem uma carreira bem-sucedida sob a alcunha de Childish Gambino, e Beyoncé é o maior nome da música pop na atualidade.
No Brasil, os personagens foram dublados pelo ator/cantor Ícaro Silva e pela cantora Iza.
O relacionamento de Timão e Pumba
O ator Seth Rogen, dublador de Pumba, descreveu o relacionamento do seu personagem com Timão como uma dinâmica conjugal.
“Eles se importam profundamente um com o outro. Eles são muito, muito, muito amigos, e como quais quer outras duas – eu vou dizer ‘pessoas’ – que passam muito tempo juntas, elas começam a ter coisas incomodam umas nas outras”
Ele continua a sua explicação afirmando que, “como suricatos são animais muito acelerados e rápidos, e os javalis africanos são um pouco mais lentos, a dinâmica compensa”.
Além disso, esse relacionamento “assume uma nova forma quando o Simba de Glover entra em cena e é rapidamente convencido a viver uma vida de luxo lânguido”.
Mudança na letra da canção Be Prepared
Uma das maiores mudanças em relação às canções apresentadas no filme é na música Be Prepared, cantada por Scar para convencer as hienas a ajuda-lo com seu plano maligno.
A canção quase ficou de fora do filme por que não se encaixava dentro das mudanças propostas pelos realizadores.
Este filme retrata as hienas como hienas, ou seja, como animais inteligentes e perigosas. Elas não são dependentes de Scar como eram no original.
A versão de Be Prepared que foi parar no cinema é reduzida, com o intuito de não insultar a inteligência delas e de ser condizente com o universo aqui retratado.
Os remakes de desenhos da Disney
Embora a Disney sempre tenha reaproveitado as suas marcas, nos últimos anos isso se tornou uma prática mais comum. O Rei Leão é o nono remake de uma animação da Disney lançado apenas nessa década.
A onda começou com o sucesso de Alice no País das Maravilhas e se estendeu por Malévola, Cinderela, Mogli: O Menino Lobo, Alice Através do Espelho, A Bela e a Fera, Dumbo e Aladdin.
Ainda é possível contar o filme Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível como um remake das histórias do ursinho Pooh.Os próximos remakes já agendados são Malévola: Dona Do Mal (com estreia ainda em 2019) e Mulan (previsto para chegar aos cinemas em 2020). Além disso, Jon Favreau está envolvido na continua de Mogli, ainda em pré-produção.
Os próximos remakes já agendados são Malévola: Dona Do Mal (com estreia ainda em 2019) e Mulan (previsto para chegar aos cinemas em 2020). Além disso, Jon Favreau está envolvido na continua de Mogli, ainda em pré-produção.
Fonte das informações: IMDB.
FICHA TÉCNICA:
Gênero: Aventura/Animação
País de origem: EUA
Título original: The Lion King
Ano de lançamento: 2019
Direção: Jon Favreau
Roteiro: Jeff Nathanson
Elenco: Donald Glover, Beyoncé, Seth Rogen, Chiwetel Ejiofor, John Oliver, James Earl Jones, John Kani, Alfre Woodard, Penny Johnson Jerald, Keegan-Michael Key, Eric André, Florence Kasumba, Billy Eichner, Amy Sedaris, Chance the Rapper.