Curta viral de terror se perde na sua transposição para longa-metragem
Com a evolução da tecnologia e o barateamento dos custos para a realização, a produção de curtas-metragens de terror se proliferou nos últimos anos. Uma busca rápida na internet mostra a enorme quantidade de pequenos filmes feitos apenas com o intuito de pregar um susto no espectador. De vez em quando, algum desses curtas se destaca, atingindo um grande número de visualizações e de compartilhamentos. Quando isso acontece, é normal que algum estúdio ou executivo enxergue ali a possibilidade de gerar lucro, ignorando o fato de que talvez aqueles vídeos tenham funcionado justamente pela sua curta duração.
Foi o que aconteceu com os curtas Mamá, de Andy Muschietti, e Lights Out, de David F. Sandberg, que geraram os longas Mama e Quando as Luzes se Apagam. E apesar de estes títulos terem apresentado alguns problemas ao serem transpostos para a longa duração, ao menos eles apontavam que, por trás das câmeras, havia um talento em potencial (Muschietti depois dirigiu It: A Coisa e Sandberg fez Annabelle 2: A Criação do Mal). O recente Selfie Para o Inferno, dirigido por Erdal Ceylan, não faz nem isso. Não apenas o curta que o originou é ruim (conforme pode ser conferido abaixo), mas todos os problemas já vistos na pequena obra são exponenciados aqui, criando um longa-metragem extremamente problemático, mal feito e nada assustador.
Escrito pelo próprio Ceylan, o roteiro acompanha Hannah (Alyson Walker), uma jovem que recebe a visita da sua prima, a youtuber Julia (Meelah Adams). Hannah percebe que Julia está agindo de maneira estranha – por ter se recusado a tirar uma selfie com ela no carro – mas prefere não falar nada. Já em casa, e sem nenhum motivo aparente, Julia vence o seu medo de tirar uma selfie, mas quando o faz, percebe-se uma sombra atrás dela na foto. Essa sombra se aproxima a cada nova foto, o que não impede Julia de continuar tirando fotos de si mesma, culminando no momento em que ela é atacada. Depois do ataque, ela fica num estado de coma – mas não é levada para um hospital. Hannah, por sua vez, passa a receber estranhas mensagens no seu celular e começa a ser ameaçada pela mesma entidade que feriu a sua prima.
Ceylan parece preso a estrutura do curta-metragem, apressando-se para introduzir logo uma situação de perigo e sacrificando o desenvolvimento dos personagens. Desta forma, o relacionamento daquelas pessoas nunca soa verdadeira, em parte pela inexpressividade dos atores e em parte porque o roteiro tenta estabelecer essa relação por meio de diálogos expositivos e cenas que servem apenas como um respiro entre as sequencias de terror – que não conseguem causar um susto sequer. Assim, o diretor pula de um momento supostamente assustador para outro, esforçando-se para criar tensão, mas sem nunca atingir esse objetivo. Tais tentativas, porém, causam um sério problema de ritmo na narrativa.
Além de cometer erros básicos de continuidade, como ao mostrar um POV da câmera do celular filmando na horizontal, sendo que a personagem está segurando o aparelho na vertical, o realizador também parece atirar para todos os lados, apresentando diversas teorias e possibilidades a respeito dos perigos que cercam a protagonista. E por mais que ele tente esclarecer tudo no final, a sua explicação – que ainda deixa muitas pontas soltas – serve apenas como uma desculpa pouco convincente para justificar os motivos que levam aquelas pessoas a passarem o filme inteiro se colocando em situações de perigo, em vez de buscarem a segurança. Ao final dos seus longos e arrastados 71 minutos de duração, Selfie para o Inferno se mostra tão esquecível quanto um stories do Instagram dois dias depois de ser postado.
Título original: Selfie from Hell
Gênero: Terror
País: Canadá
Duração: 73 min.
Ano: 2018
Direção: Erdal Ceylan
Roteiro: Erdal Ceylan
Elenco: Alyson Walker, Tony Giroux, Meelah Adams, Ian Butcher, Tyler A.H. Smith, Shaun Morse, Matthew Graham, Stephanie Gooden.
Assista ao curta que deu origem a Selfie para o Inferno: