QUEBRANDO O TABU

(idem – Brasil – 2011)

Direção: Fernando Grostein Andrade

Roteiro: Fernando Grostein Andrade, Ilona Szabó, Ricardo Setti, Thomaz Souto Correa, Bruno Módolo, Rodrigo Oliveira, Carolina Kotscho
Elenco: Fernando Henrique Cardoso, Bill Clinton, Jimmy Carter, Drauzio Varella e Paulo Coelho

Cinco anos atrás o ex-vice presidente americano Al Gore lançava um documentário no qual falava sobre os diversos problemas ambientais que enfrentamos na atualidade. Ainda que pudesse ser entendido como uma propagando política em formato documental – visando melhorar a imagem de Al e conseguir mais votos em uma possível próxima eleição presidencial – é inegável que Uma Verdade Inconveniente trazia diversas informações novas e interessantes para o público. Infelizmente esse não é o caso de Quebrando o Tabu, investida brasileira (mais precisamente do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso) no gênero, ao tentar falar sobre o problema das drogas na sociedade atual.


Iniciando a projeção com uma frase interessante: “Mundo livre de drogas alguma vez existiu?”, o longa de Fernando Grostein Andrade parecia ter potencial para fazer uma boa discussão a respeito de um tema bastante polêmico. O problema é que, ao invés de fazer um profundo estudo sobre o assunto, o diretor limita-se a uma abordagem superficial, trazendo conteúdos rasos para um público que já os conhece. Afinal, é senso comum que “documentário” não é necessariamente uma linguagem popular – o que o torna relegado a um público específico. Público esse que, por ser mais interessado, provavelmente já tem conhecimento do que está sendo mostrado na tela.

Ainda assim, o filme traz alguns dados interessantes e inéditos (pelo menos para mim), como o fato de que a Holanda, apesar da legalização da maconha, tem um índice de consumo inferior ao de vários países da Europa, aonde a droga ainda é ilegal. Ou mesmo que no país são criadas as “salas de consumo”, locais aonde o usuário pode ir se drogar e utilizar seringas limpas – evitando assim a transmissão do vírus HIV. Mais interessante ainda é a controversa política do governo holandês de distribuir gratuitamente a heroína para os viciados, fazendo com que o “paciente” (é defendida a ideia de que os drogados devem ser vistos como pessoas doentes e não como criminosos) se aproxime do governo, facilitando o tratamento dos mesmos.

Porém, tais casos citados acima são pontuais e encontram-se perdidos em meio a sensos comuns (não vou utilizar a palavra “desnecessários”, pois acredito que qualquer tipo de campanha anti-droga é bem vinda) como “o prazer diminui com o tempo e causa dependência”, “a campanha anti-drogas é falha”, “os jovens usam porque é proibido”, “a pena para um negro apreendido com uma certa quantidade de drogas é maior do que a de um branco apreendido com a mesma quantidade”, entre muitas outras. Além disso, é no mínimo contraditório (ou absurdo) quando o Dr. Dráuzio Varela menciona que as mulheres que tentam levar drogas para os maridos dentro dos presídios e são pegas na vistoria, são levadas diretamente para a delegacia, sem nem voltar pra casa e, muitas vezes, abandonando os filhos que crescerão sem o apoio materno. O problema é que o médico parece ignorar completamente o fato de que elas de fato cometeram um crime, e, diferentemente daqueles que são considerados doentes pelo mesmo, elas tinham plena consciência do que estavam fazendo, o que as torna merecedoras de tal punição.

Além de Dráuzio e do já mencionado FHC (que foi quem idealizou o projeto e escreveu o argumento), o filme ainda conta com a presença dos ex-presidentes americanos Bill Clinton e Jimmy Carter, o escritor Paulo Coelho, o ator mexicano Gael Garcia Bernal, entre outros. A junção de tantas “celebridades” é uma clara tentativa do jovem diretor de tornar seu produto mais popular. Entretanto, o cineasta não soube utilizar bem os seus convidados – a participação de Gael é completamente desnecessária –, além de, muitas vezes, repetir informações e pecar em suas escolhas estéticas, como quando mostra os entrevistados caminhando e falando para a câmera (não consigo enxergar um motivo para isso que não seja para “tornar o papo mais descontraído”).

Como disse antes, qualquer propaganda, filme de ficção, documentário, campanha viral, etc, contra as drogas merece ser vista. Sendo assim, Quebrando o Tabu tem sim o seu valor na campanha anti-drogas por tentar trazer uma nova e dinâmica visão dessa realidade. Porém, como filme, ele peca por ter ficado apenas na boa vontade.


Nota: (Razoável) por Daniel Medeiros

O Projeto 7 Marte gostaria de agradecer a Fabrica de Comunicação e o Paradigma Cine Arte por organizarem a cabine de imprensa aonde pudemos assistir a esse filme.

Confira o trailer:

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