(idem – Peru – 2011)
Direção: Rosario Garcia-Montero
Roteiro: Rosario Garcia-Montero
Elenco: Fatima Buntinx, Katerina D’Onofrio.
Acompanhar um período histórico pelos olhos de uma criança, que vê com inocência as mudanças políticas e sociais passadas por seu país, é um tema bastante batido no cinema – vide O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias, A Vida É Bela, e muitos outros. Sendo assim, se um filme decide trilhar por esse caminho ele precisa ter, no mínimo, personagens cativantes o suficiente para segurarem a atenção do público durante toda a projeção. E isso, Las Malas Intenciones tem de sobra.
A protagonista aqui é Cayetana, uma jovem que vive no Peru da década de 80, período em que o país enfrentava uma crise política devido à chegada do “Sendero Luminoso” (Partido Comunista do Peru). Obcecada pelos grandes heróis da história peruana – Miguel Grau, Alfonso Ugarte, José Olaya –, a garota tem o sonho de dia tornar-se também uma heroína. Porém, na sua concepção, herói bom é herói morto. E quando recebe a notícia de que sua mãe está grávida, Cayetana toma uma importante decisão: quando o beber nascer, ela vai morrer.
Criada em uma família de classe média alta pela mãe ausente, Cayetana vive em um mundo próprio, sem qualquer consciência sobre regras e proibições. O que faz com que, na sua cabeça, não haja problema em roubar o dinheiro guardado na gaveta, tratar mal seu motorista, ou deixar que os outros levem a culpa por seus atos – tudo isso por ser visto como algo natural, se pensarmos que a figura adulta que ela mais admira é o seu pai, alguém que, quando resolve dar atenção pra filha, a leva para lugares como casas de apostas e brigas de animais. Chega a ser incrível que, apesar de tudo isso e do fato de não esboçar nenhum sorriso durante quase toda projeção, a pequena ainda assim consiga ganhar imediatamente a simpatia do público.
Utilizando boas doses de humor negro, o roteiro – escrito pela diretora Rosario Garcia-Montero – consegue fazer piada com temas pesados como doenças e morte, caprichando nos ótimos diálogos: “Acho que ele (o bebê) chutou. Sentiu?”, “Não senti nada, será que ele morreu?”. Além disso, o texto também acerta ao manter o foco na visão da menina, que vê a tudo o que acontece à sua volta (simulações de ataques de bombas, fogueiras no formato da foice e o martelo, cachorros mortos pendurados nos postes, etc.) com ingenuidade infantil, sem receber explicações desnecessárias – o que demonstra a confiança que a cineasta tem no seu público.
Equilibrando bem a sua narrativa, com direito a inserções de animação e fantasia, Garcia-Montero faz aqui uma boa estréia em longas-metragens, demonstrando segurança, mantendo o ritmo e, principalmente, sem perder o bom humor. É mais um caso bem sucedido que entra pra lista dos ótimos exemplos citados no primeiro parágrafo.
Nota:(Ótimo) por Daniel Medeiros
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