DimLand é uma produção independente de 2021, escrita e dirigida por Peter Collins Campbell, que trata de temas profundos por meio de uma abordagem misturando elementos naturalistas e fantásticos.
A trama acompanha Brynn (Martha Brown), uma jovem que decide viajar até uma cabana onde passou parte da sua infância. Ela convida o namorado Laika (Odinaka Malachi Ezeokoli) para acompanhá-la, mas, ao chegar lá, descobre que o local já não é mais como ela lembrava. A antiga cabana foi demolida e deu lugar a uma casa ainda em construção, que servirá como Airbnb para turistas.
Sem ter para onde ir, o casal decide ficar naquele lugar. Porém, o sossego dos dois é perturbado pela chegada de uma estranha criatura, um sujeito que usa uma máscara de pássaro e afirma não ser humano. A tal figura, chamada Rue, diz conhecer Brynn desde a infância, embora ela não se lembre dele. Mas não demora muito até que Brynn se sinta atraída por aquele estranho sujeito.
Diante da situação, Laika age de maneiras distintas, primeiro com indiferença, depois com indelicadeza e, por fim, com negação. O diálogo se torna inexistente entre o casal, e os dois se afastam cada vez mais.
Assim, uma das possibilidades de interpretação de DimLand é através da lente da infidelidade. E não faltam evidências para sustentar essa afirmação: Brynn sai escondida durante a noite para se encontrar com o estranho ser, enquanto Laika vê no afastamento de Brynn uma oportunidade para retomar o contato com a ex-namorada.
Outra leitura proeminente da obra é baseada no tema da depressão. Toda a construção narrativa adotada por Peter Collins Campbell reforça esse sentimento. O diretor abusa de quadros abertos em que os personagens aparecem fora do centro, simbolizando assim o vazio de suas vidas e o deslocamento deles perante os outros. Já o uso de câmera na mão torna o filme mais cru, mais seco e sem vida.
Embora essas temáticas da infidelidade e da depressão se destaquem dentre as possíveis interpretações de DimLand, para mim a que mais se sobressaiu foi a discussão a respeito do fim da infância e do início da vida adulta.
Quando somos jovens, vivemos em um mundo cheio de magia e imaginação – e Rue serve como uma representação dessa infinidade de possibilidades da juventude. À medida que crescemos, porém, abandonamos esse sentimento. Deixamos de ser o centro do universo para assumirmos uma função mais realista e, consequentemente, mais insignificante.
É um pensamento aterrador, mas necessário. Porque a partir do momento em que enxergamos nossa própria insignificância diante do grande esquema das coisas, podemos focar na nossa imensa importância perante nossa própria vida. Ainda assim, essa mudança de pensamento exige um exercício de reconexão consigo mesmo. É preciso encontrar em si, e somente em si, a motivação necessária para seguir em frente.
Isso é o que aflige a protagonista. Ela está perdida no limiar da juventude e da vida adulta, sem saber o que fazer daqui para frente. É por isso que ela se recolhe ao conforto do passado, uma vez que o passado foi uma época mais simples e mais cheia de possibilidades.
Porém, ainda que ela escolha se recolher aos braços nostálgicos de Rue, esse retorno ao passado não pode ser permanente. E, eventualmente, é necessário deixarmos a juventude no retrovisor e seguirmos em frente pela estrada tortuosa da vida adulta – por mais assustador que isso possa parecer.
Assista ao trailer de DimLand:
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