Em certo momento de 24 Exposures, filme escrito e dirigido por Joe Swanberg (Um Brinde à Amizade), um fotógrafo que ganha a vida reproduzindo cenas de violência é questionado por um detetive a respeito das suas motivações para fazer o que faz. O fotografo rapidamente responde que não existe uma razão específica. Que é apenas algo que ele gosta. Que o atrai. “É ridículo que você esteja tentando explicar isto, porque é algo que eu nem penso. É apenas algo que eu faço. E é isso o que você tem que fazer nestas situações”, diz ele, sem entrar em mais detalhes. Mais do que um simples diálogo, essa (falta de) explicação para a atração pela “violência cenográfica” perdura e molda toda a narrativa.
A trama acompanha Billy em seu trabalho de fotografar mulheres lindas em ensaios que emulam cenas de violência e morte. Sua rotina ainda inclui uma relação bastante afetiva com a sua namorada e eventuais ménages com ela e a modelo do ensaio. Porém, quando uma modelo aparece morta em situações misteriosas, o detetive Michael Bamfeaux, que enfrenta problemas com depressão que causaram o seu divórcio, chega até Billy, e logo fica interessado e fascinado pelo mundo no qual ele vive. E é daí que surge o tal diálogo do início do texto, diálogo este que apresenta um viés metalinguístico que não deve ser ignorado.
Digo isto porque o fotógrafo e o detetive são interpretados por Adam Wingard e Simon Barrett, respectivamente um diretor e roteirista especializados no gênero de terror. Assim, quando se coloca os dois falando sobre a estética da violência, não é um personagem quem está falando, mas sim um cineasta e um escritor que fizeram suas carreiras por meio da violência. E como era de se esperar, eles falham em tentar explicar a inexplicável atração que o horror causa neles (e em grande parte do público). Não é uma experiência que pode ser justificada, e nem deve ser.
Falo por experiência própria. Eu gosto de filmes violentos. Esse gosto é algo que eu nunca consegui justificar, porém demorou muito tempo para eu perceber que não era algo que precisasse de uma justificativa. É uma atração que faz parte da vida de quem gosta e consome esse tipo de filme ou esse tipo de imagem. E tendo atuado na maioria dos trabalhos que Barrett escreveu e que Wingard dirigiu (como A Horrible Way to Die e Você É o Próximo), Joe Swanberg sabe muito bem disso.
Assim, a narrativa não faz qualquer julgamento de valor. O voyeurismo do filme é o mesmo do espectador, mas é contrário ao do protagonista. Billy pode ser atraído pela violência real, mas o longa defende que a violência cenográfica é o que vale. Os movimentos de câmera do diretor buscam enaltecer a falsa violência, em detrimento da “real”, que nunca é mostrada como “artística”. Esse contraste de valores também é visível na estética aqui empregada. Por mais que remeta ao uso de película (seja no título, seja no equipamento usado por Billy), 24 Exposures é todo filmado em vídeo, apresentando uma abordagem que soa propositalmente como amadora.
Porém, se essa estética pouco convencional surge como uma opção consciente, a impressão que fica ao final é que em todo o seu tempo trabalhando com Barrett e Wingard, Swanberg não aprendeu dois dos conceitos mais básicos para o sucesso de um filme: um bom roteiro e bons atores. A estrutura em flashback é desnecessária, as viradas no terceiro ato são inexplicáveis e as atuações de todo o elenco – até mesmo do próprio diretor, que aparece numa ponta como um editor literário – são risíveis, impedindo assim uma aproximação maior por parte do público. Se me envolvi com a discussão sobre a inexplicabilidade da atração pela violência cinematográfica, a displicência do cineasta em relação a esses dois elementos narrativos me afastou completamente da sua proposta. O que é uma pena. Afinal, a ideia era muito boa.
FICHA TÉCNICA:
Título original: 24 Exposures
Ano: 2013
Gênero: Suspense
Direção: Joe Swanberg
Roteiro: Joe Swanberg
Elenco: Adam Wingard, Simon Barrett, Caroline White, Sophia Takal, Helen Rogers, Caitlin Stainken, Mike Brune, Lydia Hyslop, Hannah Fierman, Joe Swanberg.