É interessante perceber a evolução entre o primeiro e o segundo filme da franquia O Espetacular Homem-Aranha. Se o original se limitava a repetir toda uma história de origem que o grande público já conhecia por conta da trilogia dirigida por Sam Raimi, esse novo longa já se mostra muito mais maduro narrativamente, conseguindo assim se estabelecer como uma franquia própria, e não apenas como uma cópia do que já tinha sido feito antes.
O roteiro coloca Peter Parker (Andrew Garfield) atormentado por conta da promessa que fez ao Capitão Stacy (Denis Leary) de proteger Gwen (Emma Stone), o que faz com que o seu relacionamento com ela fique em crise. Paralelo a isso, o cientista Max Dillon (Jamie Foxx), um homem solitário e fanático pelo Homem-Aranha, sofre um acidente no laboratório das empresas Oscorp e se transforma no vilão Electro. Por fim, o jovem Harry Osborn (Dane DeHaan) recebe o comando da empresa do seu pai, e passa a estudar as diferentes maneiras para impedir que um mal hereditário custe também a sua vida.
Somente pela descrição acima é possível perceber o excesso de subtramas de O Espetacular Homem-Aranha 2 (e olha que eu nem falei da participação do Rino, dos experimentos feitos no Instituto Ravencroft ou da incomunicabilidade entre o Peter e a Tia May). Com isso tudo acontecendo, chega a ser incrível que o roteiro mantenha certa harmonia, resolvendo até mesmo a questão da participação dos pais de Peter Parker, colocando-os dentro de um contexto e fazendo-os funcionar na narrativa – ao contrário do anterior, em que sua aparição era completamente descartável. É hábil também a forma como é estabelecida a importância que o relacionamento com Gwen tem na vida de Peter, uma vez que ela é a única pessoa que conhece os seus segredos e, consequentemente, é a única com quem ele pode ser totalmente sincero.
Vale destacar também a excelente composição do ator Andrew Garfield para o protagonista, que é mostrado inicialmente como alguém que parece se divertir muito com os poderes que tem, mas que, quando tira a máscara, revela ser um garoto frágil e com problemas emocionais – e essa diversão mencionada anteriormente passa a parecer um escudo que ele cria para bloquear a sua própria infelicidade. Da mesma maneira, o Electro também ganha o devido desenvolvimento, fazendo com que as suas ações iniciais sejam condizentes com a sua personalidade anterior, e à medida que ele vai se tornando mais poderoso – e menos humano –, suas atitudes também se tornam conscientemente mais violentas.
Mas o mesmo não pode ser dito do arco dramático de Harry Osborn. Apesar de o personagem ganhar uma motivação bastante convincente, a ideia de o filme ter mais um antagonista parece ser um exagero narrativo. Ainda mais quando é constatado que o Electro representa uma ameaça infinitamente superior a qualquer outro perigo que possa surgir no caminho do herói – algo simbolizado num belíssimo momento em câmera lenta, em que o Homem-Aranha enxerga a proporção que o vilão tomou. Sendo assim, a participação de Harry no final serve apenas para que certa cena seja similar ao que foi mostrado nos quadrinhos (e que ainda assim ficou bem diferente).
Esteticamente, porém, o longa é impecável. O cineasta Marc Webb concebe sequências de ação frenéticas, mas nunca confusas – vide aquela briga dentro de um avião em plena queda –, sabendo explorar ao máximo o movimento e a desenvoltura do protagonista em cena. Se o primeiro O Espetacular Homem-Aranha serviu para estabelecer novos atores em uma história já conhecida, este aqui cria um universo cinematográfico inédito, e extremamente atrativo.
(The Amazing Spider-Man 2 | Aventura | EUA | 2014 | 142 min.)
Direção: Marc Webb
Roteiro: Alex Kurtzman, Roberto Orci, Jeff Pinkner
Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Jamie Foxx, Dane DeHaan, Colm Feore, Sally Field, Paul Giamatti, Campbell Scott, Felicity Jones