Crítica | O Amor é um Crime Perfeito

O Amor é um Crime Perfeito é um thriller francês (exibido por aqui durante o Festival Varilux) que aborda temas como amor, incesto, problemas psicológicos e familiares, assassinato e investigação criminal, mas que não consegue conciliar tudo o que se propõe a expor, fazendo com que suas diversas subtramas – por mais interessantes que sejam – funcionem melhor individualmente do que num contexto geral.

Escrito e dirigido pelos irmãos Arnaud Larrieu e Jean-Marie Larrieu (Pintar ou Fazer Amor), o filme acompanha Marc (Mathieu Amalric, de O Escafandro e a Borboleta), um professor universitário que vive numa casa isolada juntamente com a irmã, Marianne (Karin Viard, de Polissia), e que não hesita em se envolver com suas jovens alunas de literatura. Quando uma dessas jovens desaparece, Marc passa a ser abordado pela polícia e pela mãe da garota (Maïwenn, também de Polissia), com quem também passa a se envolver, aumentando assim as suspeitas em torno dele.

Procurando criar um personagem ao mesmo tempo misterioso e deplorável, o roteiro faz questão de mostrar, já no início do longa, o protagonista na cama com uma aluna, deixando claro que ele sequer sabe o nome da garota. E o fato de essa ser a garota desaparecida apenas aumenta o clima de suspeita em cima de Marc, ainda que o texto dos irmãos Larrieu opte (acertadamente) por nunca apelar para clichês de suspense. Sabemos que Marc tem seus segredos, mas quando eles são apresentados, servem mais para entendermos a sua relação com a irmã do que com o crime que ele pode ou não ter cometido.

Aliás, o envolvimento dele com a irmã é talvez o ponto alto da narrativa exatamente pela estranheza que isso causa. Fica clara a devoção que Marianne tem por Marc, chegando ao ponto de ela se envolver com o chefe dele apenas para salvá-lo da demissão, mas é interessante notar que ela estende esse relacionamento, não só como forma de punir o irmão pelo o que ele a “obrigou” a fazer, mas por ele ter se sido tão negligente com os sentimentos dela. Da mesma maneira, é hábil o modo como é mostrado que a relação entre Marc e Anna nunca tem o mesmo nível de intimidade da dele com a irmã, devido a todos os segredos que um esconde do outro.

O problema é que em meio a esse emaranhado de problemas pessoais, a história do sumiço da garota – fio condutor de todo a trama – acaba sendo relegada ao segundo plano. Isso até não seria um problema, caso os roteiristas não inventassem de inserir mais mortes e numa conspiração policial, o que tira o foco daquilo que é o mais interessante nesse filme, o seu protagonista.

Como estudo de personagem, O Amor é um Crime Perfeito funciona muito bem ao retratar as nuances da personalidade de alguém que, perturbado por um passado traumático, opta por uma vida de exílio (geográfico e psicológico). Mas como suspense policial, o filme deixa um pouco a desejar.

(L’Amour Est un Crime Parfait – Suspense – França – 2014 – 111 min.)
Direção: Arnaud Larrieu e Jean-Marie Larrieu
Roteiro: Arnaud Larrieu e Jean-Marie Larrieu
Elenco: Mathieu Amalric, Karin Viard, Maïwenn, Sara Forestier, Denis Podalydès.