O primeiro Rio (2011) não apresentou nada de novo em relação a outros lançamentos contemporâneos e entregou um resultado apenas satisfatório ao contar a história de uma arara azul domesticada em meio a um ambiente “exótico”. Como é comum em algumas continuações pouco pretensiosas, Rio 2 parte do mesmo princípio do primeiro filme, aumentando a proporção das situações (em vez de uma arara, são várias, e o Rio de Janeiro urbano dá lugar à Amazônia selvagem) e torcendo que isso disfarce a falta de originalidade do roteiro.
A trama mostra o casal de ornitólogos Túlio e Linda descobrindo o que pode ser um recanto de araras azuis no meio da Amazônia. Animada com a ideia de não fazer parte de uma espécie em extinção, Jade convence Blu e seus três filhos a voarem até o “pulmão do mundo” para encontrar os seus semelhantes. Mas eles acabam cruzando o caminho de um perigoso madeireiro que planeja destruir o santuário das aves. Paralelo a isso, a cacatua Nigel, grande vilão do longa original, planeja a sua temida vingança contra o casal de passarinhos.
Optando por dar características específicas a cada novo personagem, facilitando assim a assimilação do espectador (dos três filhos de Blu e Jade, um está sempre ouvindo um iPod, outro está sempre lendo um livro e o outro sempre contando piadinhas), os roteiristas procuram manter-se sempre sempre na sua zona de segurança, repetindo o que já funcionou no passado – Blu enfrenta novamente problemas de adaptação, Jade mantém o seu espírito livre e aventureiro (mesmo sendo uma mãe de família agora), e Nico e Pedro continuam vivendo em função do carnaval.
Apesar de ser divertido ver como o roteiro disfarça a sua própria previsibilidade ao exacerbá-la para o público – como quando Nigel informa seus capangas que eles farão um ataque à meia-noite, “porque é mais tenebroso” –, isso não muda o fato de que o texto é extremamente problemático, principalmente devido ao excesso de personagens e subtramas, o que acaba relegando Nigel (de longe, a melhor coisa do filme) a um papel secundário sem qualquer importância no decorrer da história – e se as citações de Shakespeare que ele faz são muito divertidas, elas funcionariam melhor se tivessem de fato alguma utilidade.
Abordando novamente o Brasil com uma visão internacional, o cineasta brasileiro Carlos Saldanha inicia a sua narrativa em pleno o réveillon carioca, e reforça alguns estereótipos ao retratar-nos como o país do carnaval e do futebol (duas temáticas que, como era de se esperar, têm bastante importância na trama). Além disso, Saldanha exibe de maneira belíssima uma favela carioca, outro ponto importante nesse olhar estrangeiro em busca do elemento “exótico” mencionado anteriormente.
Mesmo assim, o diretor merece destaque pela concepção do agitado clímax, em especial por uma cena em que um pássaro voa sobre a floresta desmatada, dando a dimensão do tamanho da destruição causada pelo homem, e pelo timing cômico na sequência da audição do bloco carnavalesco da floresta amazônica, que reúne os tipos mais bizarros possíveis (as tartarugas capoeiristas são hilárias). Isso tudo, porém, não impede que Rio 2 caia no resultado mediano visto tanto no filme original, quanto em toda a carreira de Carlos Saldanha.
(idem | Animação | EUA | 2014 | 101 min.)
Direção: Carlos Saldanha
Roteiro: Don Rhymer e Carlos Saldanha
Elenco: (com vozes de) Jesse Eisenberg, Anne Hathaway, Rodrigo Santoro, Leslie Mann, Jamie Foxx, Jemaine Clement, Bruno Mars.