Crítica | Elysium

Segundo longa-metragem do cineasta sul-africano Neill Blomkamp, Elysium traz muitos das características que marcaram a estreia do diretor, com o bom Distrito 9. Novamente temos aqui uma temática político/social misturada com elementos de ficção científica. O problema é que agora essa mistura perdeu o ar de novidade, e o resultado, apesar de bem feito, acaba soando um pouco repetitivo.

Escrito pelo próprio Blomkamp, o roteiro se passa em uma época futurista onde os bilionários fugiram da Terra e foram morar numa estação espacial que simula um ambiente terrestre (a tal Elysium do título). Nesse local, a tecnologia atingiu picos impressionantes, não só garantindo a segurança dos moradores contra as tentativas de invasão de naves ilegais, como ainda proporcionando a longevidade daquele local – foi inventada uma cama que é capaz de curar qualquer doença em questão de segundos.

Ao mesmo tempo, a Terra ficou relegada às pessoas sem muito dinheiro, que se matam trabalhando (ou escolhem caminhos ilegais para aumentar a renda) enquanto sonham com uma vida melhor, no espaço. Nessa realidade, Max (Matt Damon) é um ex-condenado que ganha a vida trabalhando numa fábrica de robôs (os mesmos robôs que são usados para manter a segurança no planeta). Quando um acidente o expõe a uma dose letal de radiação, Max percebe que a única maneira de salvar a sua vida é usando uma dessas camas milagrosas em Elysium.

Como é possível perceber, Bloomkamp novamente aborda a questão de sociedades divididas. A ideia de apresentar Elysium como um local dos sonhos, em contraste com a realidade árida da vida na Terra, pode (e deve) ser vista como uma relação com a fronteira México/EUA. Afinal, não é por acaso que no filme as pessoas se arriscam em missões suicidas tentando chegar à estação espacial. Também não é a toa que o diretor situe a sua história em Los Angeles, mas faça questão de mostrar que a cidade fala espanhol (o que contrasta ainda mais com o francês [burguês] falado em Elysium).

Hábil ao misturar elementos do cinema independente (o extenso uso de câmera na mão) com influências do mercado de games (como a cena em que a câmera se move de um lado para o outro do personagem, acompanhando os seus movimentos), o cineasta cria sequências de ação formidáveis, que mantém a trama em constante movimento. O problema é quando ele resolve conceber imagens mais significativas. Por mais que Blomkamp seja bastante criativo, ele não sabe fazer poesia com as imagens (apesar tentar, sem sucesso, imitar Terrence Malick em diversos momentos).

E isso acaba prejudicando a relação entre os personagens de Matt Damon e Alice Braga (algo essencial para o desenrolar da trama), uma vez que essa relação é estabelecida através de uma série de flashbacks que simplesmente não convencem. Igualmente problemático é o fato de o roteiro apresentar alguns furos que forçam demais a ideia de licença poética. Em certo momento, o vilão, interpretado por Sharlto Copley, intercepta no ar uma transmissão de dados que estava sendo feita por meios físicos, através de um cabo. Já em outro momento, todo o sistema eletrônico de Elysium é reiniciado, mas parece ser ignorando o fato de que isso também desligaria a atmosfera do lugar (e mesmo que seja por pouco tempo, um planeta sem atmosfera é um planeta perigoso).

Contando com um elenco estelar, que inclui Jodie Foster como uma secretária de segurança megalomaníaca, Blomkamp acerta ao colocar Matt Damon no papel principal. Afinal, se sua crítica social é destinada (principalmente) ao público americano, um rosto conhecido causa empatia quase imediata. Além disso, Elysium serve para apresentar Wagner Moura para o mundo. O brasileiro rouba a cena ao compor seu personagem de maneira a torná-lo detestável em certos momentos e quase um herói em outros.

Assim como Distrito 9, Elysium procura ser um filme que entretém o espectador ao mesmo tempo em que o faz refletir sobre sua atual situação. E ainda que atinja esse primeiro quesito satisfatoriamente, o segundo objetivo nem sempre é alcançado. Mas não deixa de ser uma tentativa louvável.

(Elysium – Ação / Ficção científica – EUA – 2013 – 109 min.)
Direção: Neill Blomkamp
Roteiro: Neill Blomkamp
Elenco: Matt Damon, Jodie Foster, Sharlto Copley, Diego Luna, Wagner Moura, Alice Braga.