Crítica | Além da Escuridão – Star Trek

O primeiro Star Trek dirigido por J.J. Abrams partiu de um princípio
simplesmente genial. Prevendo as inevitáveis comparações com o seriado
original, o reboot contou com viagens no tempo e a criação de um universo
paralelo, o que possibilitou o início de uma nova franquia cinematográfica que,
ao mesmo tempo, faz referência à série que o inspirou e ainda insere elementos
novos. A ideia funcionou perfeitamente, ainda que o roteiro, naquele caso, tivesse
alguns problemas. Continuando esse novo universo, agora já estabelecido, Além
da Escuridão – Star Trek
apresenta um clima mais grandioso e um
resultado bem sucedido, mas também sofre alguns problemas de escrita.
Novamente escrito por Roberto Orci e Alex
Kurtzman, dessa vez contando com a ajuda de Damon Lindelof (Lost), o roteiro tem a seu favor o fato
de não precisar apresentar os personagens e situações. Sendo assim, o filme já se
inicia em meio a uma cena de ação, que acaba se transformando numa referência
interessante ao livro/documentário “Eram
os Deuses Astronautas
”. Paralelo a isso, o misterioso John Harrison (Benedict
Cumberbatch) realiza um ataque terrorista em Londres, como parte do seu plano
de vingança contra a frota estelar. Contrariando o código de conduta da frota,
o cel. Marcus (Peter Weler) pede que Kirk leve a Enterprise até território
inimigo e elimine o terrorista, mesmo que isso possa acarretar uma guerra
contra o planeta de Klingon.
Utilizando-se de um ritmo acelerado, em
certos momentos o texto parece apressado demais, não dando tempo para
desenvolver certas situações. Para se ter uma ideia, Kirk perde o comando da
nave em uma cena, na seguinte ele é restituído como 1º oficial e num terceiro
momento ele ganha novamente o comando da Enterprise. Ainda que todo círculo
dramático do personagem tenha sido estabelecido, a pressa em restaurá-lo ao seu
antigo posto acaba tornando toda essa volta desnecessária. Da mesma maneira, por
mais que seja divertido ver Spock discutindo a relação com Uhura, a subtrama
envolvendo os problemas do casal parece mais como uma tentativa de dar mais
tempo de tela para a atriz Zoe Saldana (bastante sumida nesse novo episódio).
Ainda assim, o roteiro acerta em fazer
novamente ligações diretas com o universo clássico de Star Trek, inserindo
situações que em qualquer outro momento soariam como uma solução Deus ex machina, mas que casam
perfeitamente com esse novo universo pré-estabelecido. E vale lembrar que por
mais que J.J. Abrams afirme que não é preciso conhecimento prévio (nem mesmo do
seu filme anterior) para assistir a esse Além da Escuridão – Star Trek, os
fãs do seriado e dos longas originais vão reconhecer com maior facilidade as (diversas)
citações apresentadas durante a projeção (“você
faria o mesmo por mim
”).
Mas o grande mérito tanto do sucesso desse
novo filme quanto do reboot da franquia Star
Trek
nos cinemas é de J.J. Abrams. Hábil ao criar sequências de ação
visualmente interessantes – como uma envolvendo dois personagens tentando
chegar de uma nave até a outra –, o cineasta consegue equilibrar a trama com
bom humor e segurança. Reparem como a apresentação de Cumberbatch é feita
primeiramente através da sua voz, para somente depois mostrar seu rosto – o que
já demonstra logo de início a imponência do vilão.
Com um resultado bem sucedido como esse,
Abrams não apenas consolida a franquia Star
Trek
como abre caminho para uma nova jornada, agora comandando a
continuação de Star Wars. O jovem
diretor parece mesmo ter uma vida longa e próspera pela frente, e com a força a
seu favor.
(Star
Trek Into Darkness – Ação / Aventura / Ficção científica – EUA – 2013)
Direção: J.J. Abrams
Roteiro: Roberto Orci, Alex
Kurtzman, Damon Lindelof

Elenco: Chris Pine, Zachary
Quinto, Zoe Saldana, Karl Urban, Simon Pegg, John Cho, Benedict Cumberbatch,
Anton Yelchin, Bruce Greenwood