Crítica | Oblivion

Todo o fã de ficção científica aguarda sempre a chegada de um novo Blade Runner, 2001, ou até um novo Matrix (para os menos exigentes). Muitas apostas foram feitas com Prometheus, mas este, assim como muitos outros, ficou apenas na promessa (desculpe o trocadilho). Sendo assim, dá gosto de ver uma ficção-científica feita à moda antiga, de maneira grandiosa, influenciando-se em bons exemplares do gênero e entregando um resultado bastante satisfatório.

Ainda que não traga nenhum elemento necessariamente original, Oblivion, novo longa do cineasta Joseph Kosinski (Tron: O Legado) estrelado por Tom Cruise (Jack Reacher: O Último Tiro), é um desses poucos bons exemplares contemporâneos do gênero, e por esta razão merece seus méritos.

Escrito pelo próprio Kosinski, em parceria com Karl Gajdusek (Reféns) e Michael Arndt (Toy Story 3), o filme se passa num futuro pós-apocalíptico, onde a humanidade abandou a Terra para viver em Titã (uma das luas de Saturno) depois que os temidos “saqueadores” destruíram a Lua e com isso alteraram todo o ecossistema terrestre. Nesse cenário, Jack (Cruise, competente e carismático como de costume) trabalha no planeta realizando manutenção e garantindo o funcionamento das máquinas que extraem os recursos naturais terrestres e os transformam em energia para ser utilizada na nova colonia humana.

Como seu trabalho o obriga a enfrentar os perigos desse planeta inóspito, ainda habitado pelos tais saqueadores – cujas feições e os reais motivos que os levaram a entrar em guerra contra os humanos permanecem um mistério –, Jack conta com a ajuda da sua parceira e técnica de comunicações Victoria (Andrea Riseborough), cuja base de operações é a casa acima das nuvens onde os dois vivem. Detalhar mais a trama seria entregar alguma reviravolta, o que arruinaria com a experiência. Basta dizer apenas que o protagonista sonha constantemente com uma bela mulher (Olga Kurylenko), mesmo depois de sua memória ter sido apagada antes de embarcar na missão.

Esse conceito do trabalhador sem memória já havia sido bem explorado no ótimo Lunar, o que torna o longa de Duncan Jones uma das influências claras aqui. Mas não a única. Desde as máscaras dos saqueadores (que lembram muito o Predador) até a respiração pesada dos mesmos (igual a de Darth Vader), vê-se na tela alusões diretas e indiretas a outros filmes o tempo todo. E nesse caso, o grande trunfo do roteiro é utilizar esses elementos como referência, e não como comparação. A falta de originalidade do texto é compensada por uma escrita bem estruturada – até a aparentemente desnecessária narração em off é justificada dentro da narrativa.

Fazendo uso de uma trilha sonora que conta com uma batida eletrônica estilo “anos 80” (composta por Joseph Trapanese, M.8.3 e Anthony Gonzalez), traça-se assim um paralelo interessante com o protagonista, que aos poucos revela-se bastante apegado ao passado (através do seu gosto por beisebol, literatura clássica e discos de vinil). Já a fotografia de Claudio Miranda (ganhador do Oscar por As Aventuras de Pi), constrói passagens belíssimas ao mostrar a noite e o nascer do Sol acima das nuvens.

E o design de produção, feito por Darren Gilford (Tron: O Legado), tem bastante liberdade, uma vez que a história se passa num planeta onde a geografia foi completamente alterada por catástrofes naturais. Isso possibilita que vejamos imagens um tanto inusitadas, como o Empire State Building totalmente soterrado. E mais, Gilford ainda é hábil ao diferenciar a fria morada de Jack acima das nuvens (branca e cinza) do seu recanto escondido na Terra, bastante colorido e caloroso, ilustrando o apego que o herói a esse lugar.

Por mais que o filme sofra problemas de ritmo em certos momentos – devido as diversas reviravoltas – e não aproveite bem os personagens coadjuvante mantendo o foco apenas no trio principal –,  a direção de Kosinski mostra-se muito mais madura do que na sua estréia. O diretor parece ter aprendido que sua estética deve servir à história, e não ao contrário. E o resultado dessa mudança é um trabalho igualmente belo, mas dessa vez com mais conteúdo.

(Oblivion – Ficção Científica – EUA – 2013 – 126 min.)
Direção: Joseph Kosinski
Roteiro: Joseph Kosinski, Karl Gajdusek, Michael Arndt
Elenco: Tom Cruise, Morgan Freeman, Olga Kurylenko, Andrea Riseborough, Nikolaj Coster-Waldau, Melissa Leo.





Assista o trailer de Oblivion aqui.