É uma agradável – e cada vez mais rara – surpresa quando um filme de terror, por mais que não tenha nada de original, saiba utilizar bem os clichês do gênero (e abandonar os defeitos mais comuns) para entregar um resultado mais do que apenas funcional. Esse é o caso de A Mulher de Preto, primeiro longa do astro Daniel “Harry Potter” Radcliffe desde que se despediu da saga do bruxinho mais querido do cinema.
Na trama, Daniel interpreta Arthur Kipps, um jovem advogado que, ainda sem se recuperar da perda da esposa, aceita o trabalho de coletar importantes documentos numa mansão abandonada no interior da Inglaterra. Quando chega lá, porém, encontra uma população temerosa pelas histórias de estranhas presenças que rondam aquela casa. E não demora muito para que o advogado perceba que talvez as lendas tenham um fundo de verdade.
Baseado no livro de Susan Hill, que já foi adaptado para a TV em 1989, o roteiro de Jane Goldman (X-Men: Primeira Classe) ao mesmo tempo em que cria diálogos cafonas – “gostaria que você não me abandonasse papai” –, acerta ao nos apresentar a um protagonista inteligente e cativante. O Arthur Kipps de Radcliffe é bastante diferente do que se costuma ver nesse tipo de filme. Ele não ignora os indícios do que acabou de ver, por mais absurda que sua visão tenha sido; assim como faz questão de investigar cada ruído da mansão. Além disso, ele ainda demonstra coragem suficiente para enfrentar seus próprios medos quando percebe que um ente querido pode estar em perigo.
Mostrando desde o início que o espectador sabe mais que o protagonista (princípio básico do suspense), o diretor James Watkins (Sem Saída) nos condiciona a ter medo dos cantos escuros da casa, já que são constantes as aparições de vultos e estranhos movimentos no fundo do quadro. Sabendo disso, o cineasta habilmente passeia pelos quartos com sua câmera, trazendo aos poucos a informação de que aquele aposento é ou não “seguro” – e, consequentemente, prolongando assim o suspense.
Watkins investe também na ideia de isolamento, através de (belos) planos mostrando a estrada (único caminho para a mansão) totalmente tomada pela maré. Além disso, boa parte da projeção é carregada completamente sem falas, o que se mostra uma decisão corajosa e acertada, já que qualquer inserção de diálogo soaria falsa. E chega a ser incrível que Radcliffe consiga tão rapidamente se desvencilhar do papel que lhe deu fama, entregando uma atuação competente e, principalmente, convincente.
Contando com bons sustos e uma constante tensão, A Mulher de Preto chega ao final de sua projeção mostram-se um filme pequeno, simples, e muito bem realizado. Não tem a mínima pretensão de entrar na lista dos melhores do gênero, mas com certeza é bastante superior a muitos dos exemplares lançados recentemente. Vale a pena conferir.
(The Woman in Black – Reino Unido – 2012)
Direção: James Watkins
Roteiro: Jane Goldman, baseado no livro de Susan Hill
Elenco: Daniel Radcliffe, Ciarán Hinds, Daniel Cerqueira, Janet McTeer, Sidney Johnston, Tim McMullan, Cathy Sara