JOHN CARTER: ENTRE DOIS MUNDOS – CRÍTICA

Uma pessoa é tirada
do seu local de origem e colocada em meio a um povo de cultura completamente
diferente. Após um estranhamento inicial, essa pessoa passa a aprender com os
estranhos e, consequentemente, toma seu lado quando é necessário lutar para
defender aquela cultura. Desde
Lawrence
da Arábia
, O Último Samurai e até
Avatar; essa trama sempre foi
bastante explorada pelo cinema. Sendo assim, qualquer filme que deseje se utilizar
dessa sinopse – que peca em criatividade de conteúdo – precisa apresentar
outros elementos que tornem sua narrativa interessante.
E é isso que John Carter: Entre Dois Mundos tenta
fazer. O longa de estreia do diretor Andrew Stantonno gênero deliveaction (depois de fazer sucesso com Wall-E e Procurando Nemo) nos apresenta ao personagem título, um veterano da
guerra civil americana que busca uma lendária “caverna de ouro” visando
enriquecer e, de alguma maneira, eliminar seus fantasmas do passado. Quando
finalmente a encontra, o resultado não sai como planejado, e Carter acaba sendo
levado até o planeta Marte, onde a diferença de gravidade lhe confere extrema
força e a habilidade de pular grandes distâncias. Lá, o herói se vê metido
entre outra guerra civil, uma disputa que ocorre entre as grandes cidades de Helium
e Zodanga, cujo resultado pode decidir o destino do planeta.
Sabendo que a trama
escrita por Edgar Rice Burroughs (autor de Tarzan)
em seu livro (publicado no início do século 20) hoje em dia é um tanto
ultrapassada, o roteiro, do próprio Stanton, em parceria com Mark Andrews (Samurai Jack) e Michael Chabon (Homem Aranha 2), acerta ao manter-se
fiel ao espírito da época: além da fascinação do protagonista com as “máquinas
que voam”, os marcianos (pelo menos alguns deles) são verdes; os monstros são
gigantes; e todos os que não são de aparência humanoide
tem vários braços. Entretanto, o roteiro peca em diversos momentos ao se
entregar ao melodrama, seja nos diálogos (“o
sangue do meu pai me impulsiona”
), ou mesmo na trama paralela, que mostra a
mocinha dividida entre seu amor e o fato de ter que casar com alguém que ela
não ama para salvar seu povo.
Não só isso, mas a
própria concepção dos personagens é bastante rasa, não deixando espaço para
praticamente ninguém demonstrar um mínimo de tridimensionalidade. Sendo assim,
é possível ver logo de início quem é bom e quem é mal – algo que a própria seleção
do elenco não ajuda, já que escolhem um Dominic West (O Despertar) extremamente canastrão e o clássico Mark Strong (Sherlock Holmes), como os principais
antagonistas. E o elenco principal também não demonstra grande cuidado, com o
herói Taylor Kitsch (X-Men Origens:
Wolverine
) se limitando a falar com voz rouca durante toda a projeção,
enquanto o corpo torneado e as roupas minúsculas de Lynn Collins (que também
trabalhou em Wolverine) tornam
impossível que o público masculino sequer preste atenção em sua atuação.
Defeitos a parte, John Carter: Entre Dois Mundos tem
ótimas cenas de ação (principalmente as que o protagonista faz uso da gravidade
a seu favor) e divertidas pitadas de humor (o cachorro marciano é adorável). E,
por mais que deseje criar uma franquia lucrativa no cinema (o próprio final
sugere isso), o longa nada mais é do que uma agradável e divertida aventura.

(John Carter – EUA – 2012)
Direção: Andrew Stanton           
Roteiro: Andrew Stanton, Mark Andrews e Michael Chabon, baseado no livro de Edgar Rice Burroughs.
Elenco: Taylor Kitsch, Lynn Collins, Samantha Morton, Willem Dafoe, Thomas Haden Church, Mark Strong, Ciarán Hinds, Dominic West, James Purefoy, Daryl Sabara, Bryan Cranston, Polly Walker.

Nota:(Bom) por Daniel Medeiros