Tarsem Singh é um esteta. Basta assistir aos trabalhos anteriores do cineasta indiano – A Cela e The Fall –, ou o trailer do vindouro Espelho, Espelho Meu, para comprovar essa observação. Sendo assim, escolher alguém com uma visão cinematográfica tão singular para comandar um projeto passado na Grécia Antiga, e que mistura temas como deuses e titãs, pode parecer uma escolha mais do que adequada. E seria mesmo.
O problema é que o diretor pensa que somente seu estilo narrativo é suficiente para sustentar 110 minutos de projeção. E não é. Sofrendo do mesmo mal que pairou sobre Zack Snyder no seu recente Sucker Punch, Singh preocupa-se mais com a beleza de seu trabalho do que em desenvolver direito a história e os personagens – o que torna o seu longa um espetáculo belo, mas vazio.
Na trama, o Rei Hyperion (Rourke) busca do Arco de Epiro, única arma capaz de livrar os Titãs aprisionados embaixo da Terra, para conseguir com isso vingar-se dos Deuses que, segundo ele, foram responsáveis pela morte da sua mulher. É então que o jovem Teseu (Henry Cavill) – que teve sua mãe assassinada pelas tropas do rei –, acompanhado por uma sacerdotisa (Freida Pinto) – a única capaz de encontrar o Arco –, e por um escravo fugitivo (Stephen Dorff); precisa liderar os homens para protegerem sua terra natal da tirania de Hyperion e salvar os deuses – que não podem interferir nos assuntos humanos a não ser que os Titãs sejam libertados.
Apresentando as situações de maneira rápida e superficial – talvez visando passar logo para a parte que lhe interessa –, o diretor não consegue tornar o enredo envolvente para o expectador – algo auxiliado pelo fraco roteiro da dupla Charley Parlapanides e Vlas Parlapanides. Pessoas morrem depois de participarem de uma cena; a motivação do vilão é resumida a uma fala; e as subtramas, como a do soldado traidor, são mal aproveitadas. Além do mais, o envolvimento de dois personagens soa apressado e sem sentimento, já que o casal não têm tempo em tela o suficiente para criar um romance.
Porém nada disso importa para Singh. Para ele o importante é a estética. E é aí que reside a maior qualidade de Imortais: os cenários grandiosos e pouco realistas; a imagem saturada (criando um clima de fantasia); e o 3D que, devido a grande profundidade de campo, deixa tudo em foco, o que auxilia na ideia de se tratar da visão dos deuses; do ponto de vista técnico, tudo funciona perfeitamente. Mesmo assim, o “visionário” cineasta se perde em sua própria ambição, entregando elementos bizarros e desnecessários (o capacete em forma de orelha de coelho e o touro metálico utilizado como mecanismo de tortura são apenas dois entre muitos outros exemplos). Até mesmo simples fusões entre as cenas (da máscara para o barco) mostram-se preciosismos desnecessários.
Apesar de tudo isso, o maior defeito do longa é o fato de fazer uma cópia descarada de 300, filme “dos mesmos produtores”, algo que o próprio pôster faz questão de informar. Confesso que fiquei esperando o herói gritar “This is Spartaaa!!” antes de sair correndo e combater diversos inimigos enquanto é filmado em um plano-sequência lateral. Pior ainda é o roteiro insistir em usar a mesma estratégia da aventura espartana ao mostrar os inimigos passando por um apertado corredor, “onde seus números não contam para nada”. Entretanto, fica claro desde o início que os realizadores em nenhum momento optaram por fazer algo original, o que explica também porque o tal Arco de Epiro parece ter saído direto da Caverna do Dragão.
Contando com lutas bem coreografadas e sequências de ação de tirar o fôlego – o clímax é impressionante –, Imortais cumpre o que promete: é entretenimento, puro e simples. Pode parecer um desperdício jogar fora tanto potencial e mitologia para entregar-se a um mero filme de ação. E é mesmo. Mas se pararmos para pensar que o último longa que tentou fazer isso foi o horroroso Fúria de Titãs, nota-se que a evolução aqui foi grande.
(Immortals – 2011 – EUA)
Direção: Tarsem Singh
Roteiro: Charley Parlapanides e Vlas Parlapanides
Elenco: Henry Cavill, Mickey Rourke, Stephen Dorff, Freida Pinto, Luke Evans e John Hurt.