(Dream House – EUA – 2011)
Diretor: Jim Sheridan
Roteiro: David Loucka
Elenco: Daniel Craig, Naomi Watts, Rachel Weisz, Elias Koteas, Marton Csokas, Taylor Geare, Claire Geare, Rachel G. Fox.
Quem acompanha as minhas críticas sabe o quanto eu condeno os estúdios que fazem trailers repletos de spoilers e que, consequentemente, acabam com toda a diversão de se assistir a um filme (como aconteceu recentemente com Planeta dos Macacos – A Origem). No caso de A Casa dos Sonhos, primeira incursão do ótimo diretor Jim Sheridan (de Em Nome do Pai e Meu Pé Esquerdo) no gênero de terror, a prévia em si foi apenas mais um de uma série de problemas enfrentados pela produção.
Tudo começou quando a Warner divulgou a tal trailer que mostrava todas as mudanças do roteiro – escrito pelo inexpressivo David Loucka –, não guardando nenhuma surpresa para o espectador. Isso normalmente acontece quando o estúdio não está confiante em relação ao material, algo comprovado pelas notícias que seguiram. Aparentemente o estúdio tomou conta da produção, mexendo na montagem e entregando uma versão final que não agradou nem ao cineasta – que quase teve seu nome retirado dos créditos –, e nem os atores – o casal Daniel Craig e Rachel Weisz se recusaram a promover o longa. E, pra finalizar, a Warner ainda se recusou a fazer cabines de imprensa, mas aí o circo já estava montado.
Na trama, o editor literário Will Atenton (Craig) larga o seu emprego para se dedicar ao seu primeiro livro, e para passar mais tempo com a esposa (Weisz) e as duas filhas, enquanto eles reformam a casa que acabaram de comprar. Não demora muito para que ele descubra que sua morada foi cenário de um brutal assassinato, onde um pai massacrou sua família inteira. Tudo piora quando Will é informado que o assassino está a solta novamente, e que ele resolveu atacar os novos moradores do local.
O grande problema de A Casa dos Sonhos está em sua identidade, ou melhor, na falta dela. A idéia de chamar um diretor dramático para comandar um terror daria maior intensidade aos personagens. Porém, assim como aconteceu com Walter Salles em Água Negra (Dark Water), esperar que um cineasta com um estilo próprio faça um suspense enlatado por encomenda é no mínimo burrice. Pior do que isso é tirar o controle criativo dele e tentar montar filme de uma maneira completamente equivocada, ignorando todo o planejamento e idealização. O resultado disso é um longa com bastante potencial, algumas cenas muito bonitas, mas sem ritmo ou sentido algum.
Em meio a essa confusão, ainda é notável a tentativa de Sheridan de manter o suspense, principalmente no primeiro ato, investindo em diálogos aparentemente banais, mas que na verdade são bastante significativos. Além do mais, a própria mise-en-scène é muito bem construída: reparem na primeira conversa de Will com sua vizinha Ann (Watts), especialmente na expressão dela e no fato de toda a cena ser construída com base na visão dele.
Porém, o diretor perde o controle a partir da metade do segundo ato, após uma importante mudança na narrativa (que está no trailer). A partir dali, o longa se torna um emaranhado de cenas aleatórias e desconexas. Um exemplo disso é a seqüência em que Atenton vai tomar banho casa de Ann: ela prepara a banheira para o convidado e sai de casa com a filha, aparentemente levando-a a algum lugar de carro. Quando Will termina o banho, Ann e a filha estão em casa novamente. Fica claro que havia acontecimentos nesse meio tempo que foram cortados nessa montagem feita pelo estúdio, que privilegia os sustos no lugar da história.
É, provavelmente, nessas cenas consideradas desnecessárias que residiria a verdadeira identidade do filme, já que isso (conflitos pessoais) é o que Jim Sheridan faz de melhor. E, corrijam-me se estiver errado, mas não foi por isso que o contrataram?