(Idem – 2007 – EUA)
Direção: Brad Bird
Roteiro: Brad Bird
Elenco: Patton Oswalt, Ian Holm, Lou Romano, Brian Dennehy, Peter Sohn, Peter O’Toole, Brad Garrett, Janeane Garofalo.
Brad Bird tem uma carreira relativamente curta no ramo da animação. Escreveu e dirigiu poucos curta-metragens, passou um tempo trabalhando na TV – em desenhos como Os Simpsons e O Rei do Pedaço – até que, em 1999, resolveu se arriscar no comando de seu primeiro longa-metragem: o ótimo O Gigante de Ferro. Nos anos que se seguiram, devido ao fato do trabalho nessa área ser igualmente exaustivo e demorado, o diretor conseguiu emplacar somente outros dois (excelentes) títulos: Os Incríveis e Ratatouille.
Esse último, conta a história de Remy (Patton Oswalt), um simpático rato que sonha em ser cozinheiro. Depois de muito tempo assistindo os programas de culinária do mestre Auguste Gusteau (Brad Garret), cujo lema era “Qualquer um pode cozinhar” – algo que irritava profundamente o crítico culinário Anton Ego (Peter O’Toole), que acreditava que a arte da culinária era para poucos -, o jovem ratinho acaba se perdendo de sua família e vai parar em Paris, mais precisamente, dentro de um dos famosos restaurantes Gusteau’s (que perdeu credibilidade após a morte do dono e as críticas negativas de Ego). Na cozinha – lugar bastante perigoso para um rato –, Remy conta com a ajuda de Linguini (Lou Romano), um recém-contratado faxineiro, para poder perseguir o seu sonho, o que pode ir de encontro com os planos de Skinner (Ian Holm), responsável pelo estabelecimento após a morte do patrão.
Sempre prezando trazer um alto teor de realismo às suas animações – o traço dos desenhos em O Gigante de Ferro é bastante realista, enquanto, em Os Incríveis, há (por exemplo) um personagem que processa o super-herói que o havia impedido de cometer suicídio – o diretor investe aqui em recriar digitalmente, de maneira deliciosa, os pratos preparados pelo ratinho. Mesmo que não sejam reais, é de dar água na boca ver todas aquelas sopas, pães, queijos, carnes e, é claro, a ratatouille do título. Ainda assim, é notável como, mesmo em uma história leve (e em muitos momentos descontraída), a seriedade é constantemente trazida, de maneira orgânica, de volta à trama – como na bela e assustadora cena em que o pai de Remy mostra-lhe o que acontece com os ratos que se aproximam demais dos humanos.
Vale destacar também que Brad conseguiu o feito de retratar de maneira sensível a profissão do crítico (profissão essa extremamente odiada e comumente confundida com “aquele que não sabe fazer”). A princípio, o seu Anton Ego parece ser uma caricatura usual, sendo apresentado morando em uma enorme mansão (um crítico rico?), impecavelmente organizada, ostentando um enorme quadro de si mesmo na parede. Porém, o que parecia um equívoco narrativo, acaba revelando-se uma escolha acertada, quando percebemos que a narrativa procura aproximar-se lentamente do personagem, tornando-o mais humano, culminando no ponto em que (literalmente) enxergarmos o mundo através de seus olhos.
Ratatouille marca não só o capítulo final de uma trilogia nada menos do que perfeita, como também é a última (pelo menos por enquanto) incursão de Bird nessa linguagem. Atualmente ele finaliza Mission: Impossible – Ghost Protocol e planeja 1906, primeiro longa da Pixar no campo do live action. Resta saber se ele conseguirá manter a mesma qualidade em seus projetos anteriores trabalhando com “atores de verdade”.
Nota: (Excelente) por Daniel Medeiros
Trailer: