(Fair Game – EUA – 2011)
Direção: Doug Liman
Roteiro: Jez Butterworth e John-Henry Butterworth, baseado nos livros de Valerie Plame e Joseph Wilson
Elenco: Naomi Watts, Sean Penn, Ty Burrell, Brooke Smith, Thomas McCarthy, Jessica Hecht, Noah Emmerich, Bruce McGill, Sam Shepard.
Qualquer filme que aborde as incongruências e falsidades na administração Bush, de maneira não sensacionalista (podemos excluir Michael Moore dessa lista), na minha opinião, já merece ser visto. Jogo de Poder, novo trabalho de Doug Liman (A Identidade Bourne), baseado na história real de Valerie Plame e Joseph Nilson, é um bom exemplo desses filmes que valem a pena serem conferidos.
A história começa no início de 2002, pouco tempo após o ataque das Torres Gêmeas, quando a paranóia norte-americana estava no seu auge. Nesse cenário de constante desconfiança, a agente da CIA Valerie Plame (Naomi Watts) é chamada para investigar uma possível ameaça terrorista: supostamente, Saddam Hussein teria adquirido uma grande quantidade de Yellowcake (urânio puro, próprio para a fabricação de bombas nucleares) visando construir armas de destruição em massa.
Não demora muito até que essa informação seja totalmente desmentida pela CIA, que havia enviado o diplomata Joseph Wilson (Sean Penn), marido de Plame, para Níger – país que teria vendido o urânio para o Iraque – e constatado que tal venda jamais havia acontecido. Apesar de ambas as partes (a CIA e Wilson) afirmarem categoricamente que a ameaça é falsa, o governo mantém sua decisão de declarar guerra ao Iraque. Irritado com tal decisão, Joseph publica um artigo no New York Times onde relata sua investigação e mantém sua opinião sobre a guerra e sobre o governo norte americano.
O roteiro (escrito por Jez Butterworth e John-Henry Butterworth, com base nos livros Jogo de Poder escrito pela própria Valerie e A Política da Verdade, escrito por Wilson) é ousado ao criticar a sociedade americana, não só ao mostrar uma população ignorante, que acredita em tudo o que vê nos jornais e na TV (chegando a afirmar que “Saddam explodiu as Torres”); como ao apontar que tal sociedade é fanática por escândalos e notícias sensacionalistas, algo ilustrado pelo número crescente de pessoas que passam a freqüentar as palestrar de Joseph depois que ele ficou “famoso”.
Sabendo do apelo que a mídia tem sobre os americanos, o governo chega ao ponto de tomar uma decisão estúpida e perigosa: revelar (e denegrir) a identidade de Valerie Plame. Tal revelação não só acaba com a carreira dela na CIA, como compromete os contatos de todas as suas operações no exterior, além, é claro, de arruinar a carreira do seu marido, que constantemente é taxado como traidor.
É notável que, apesar de todos os problemas que enfrentavam – inclusive colocando em risco o seu casamento –, Wilson mantenha-se firme em seu conceito de ética e moral: “Eles mentiram. Essa é a verdade”. Suas atitudes poderiam transformá-lo em alguém insensível e um pai de família despreocupado, não fosse a incrível atuação de Penn, que mostra que a química entre ele e Watts, construída em 21 Gramas, continua intacta.
Além de expor as mentiras descaradas ditas pela Casa Branca durante a administração George Bush, Jogo de Poder é corajoso ao mostrar o ex-presidente através de imagens reais, fortalecendo assim a veracidade dos fatos apresentados. Chega a ser irônico ver Bush falando que a “a paz deve ser defendida” e isso ser seguido de cenas, também reais, de explosões e tiroteios em meio ao território iraquiano.
Doug Liman, que ficou conhecido por filmes que prezavam mais pela ação do que pela história (Jumper e Sr. e Sra. Smith) destaca-se aqui exatamente por focar-se nos personagens, deixando a pirotecnia de fora. Uma decisão mais do que acertada. Espero que isso sirva como um novo rumo para a carreira do cineasta. Se for o caso, ele começou bem. Jogo de Poder é um filme político, sério e de qualidade, muito melhor do que qualquer trabalho que Michael Moore tenha feito.