O RITUAL

(The Rite – 2011 – EUA)
Direção: Mikael Håfström
Roteiro: Michael Petroni
Elenco: Colin O’Donoghue, Anthony Hopkins, Alice Braga, Rutger Hauer, Ciarán Hinds e Toby Jones.
Quando O Exorcismo de Emily Rose foi lançado em 2005, o filme de Scott Derrickson teve um resultado surpreendente ao retratar um tema batido de maneira realista, usando efeitos de forma orgânica e investindo mais em sustos do que tensão. Ou seja, sabendo da imponência do clássico de William Friedkin, Emily Rose foi bem sucedido exatamente por não tentar “ser” O Exorcista. O Ritual, mais novo exemplar do gênero de possessão que chega aos cinemas nessa sexta-feira (11/02), tenta seguir a linha do longa de 2005, mas o resultado é bem inferior.

Na trama, o jovem Michael Kovak (Colin O’Donoghue), visando uma chance de sair de casa e ficar longe do pai, escolhe entrar para o seminário. Vendo o celibato como uma maneira de passar o tempo com as despesas pagas pela Igreja, Michael está prestes a se formar decide desistir da carreira religiosa, alegando ausência de fé. Acreditando no potencial do jovem, o padre Matthew (Toby Jones) o envia para o Vaticano para estudar as técnicas de exorcismo utilizadas pela Igreja. Lá, ele conhece o veterano padre Lucas (Anthony Hopkins), experiente exorcista que o leva junto em suas sessões, visando mudar a visão “descrente” do jovem.
O ceticismo do jovem é tão forte que faz com que ele ignore alguns acontecimentos muito estranhos (como uma jovem supostamente possuída falar coisas que ela não teria como saber), para que isso não atrapalhe a sua visão “cética” do mundo. Tal visão seria mais aceita pelo público, caso Colin O’Donoghue não fosse tão apático, saindo-se mais sem graça do que algumas das piadas que ele conta durante a projeção. Enquanto isso, Anthony Hopkins, destaca-se ao conseguir manter, ao mesmo tempo, o humor e a seriedade de seu personagem, sendo capaz de atender o celular durante um exorcismo, encarando isso como se fosse algo natural.
O roteiro – escrito por Michael Petroni (As Crônicas de Narnia – A Viagem do Peregrino Alvorada) – incapaz de criar um arco dramático bem amarrado, apela para soluções fáceis e convenientes, como um atropelamento que acontece para demonstrar a verdadeira “vocação” do herói, ou mesmo um desastre que impede que ele abandone o seu caminho. Tais situações poderiam ser vistas como manifestações de uma força maior que deseja que Michael mantenha-se no caminho da luz, mas é difícil acreditar que, num filme que prega a força da fé, Deus sacrificaria tantas vidas somente para provar o seu objetivo.
Tentando seguir a linha do já citado O Exorcismo de Emily Rose, Mikael Håfström consegue apenas arrancar alguns (bons) sustos, porém pecando na sua abordagem das cenas dos exorcismos. Afinal, por que o demônio escolheria um combate usando a força física? Ainda mais após ele já ter se mostrado poderoso o suficiente para matar alguém sem ter que “sujar as mãos”. Håfström e Petroni ainda tentam justificar suas escolhas colocando Michael questionando Lucas ao final de um exorcismo: “É só isso?”. E o outro retruca: “O que você esperava? Sopa de ervilha?” (referindo a uma cena clássica de O Exorcista). Eu não esperava sopa de ervilha, mas também querer seguir a linha de O Exorcista: O Início já é um pouco demais.
Observação: Visando atingir um público maior, é normal que um filme como esse, mesmo com sua história se passando em outro país, seja falado quase que inteiramente em inglês. Porém soa estranho quando todo mundo refere-se à Michael como “o americano”, ignorando o fato de que praticamente todos em cena também falam inglês fluente. A impressão que fica é que, em Roma, somente os coadjuvantes falam italiano.

Nota: por Daniel Medeiros