Filme do universo expandido de Invocação do Mal tem bons sustos, e nada mais.
Tenho grande admiração pelos curtas-metragens do cineasta David F. Sandberg. Acredito que ele possui uma habilidade incrível de criar suspense e causar terror por meio de situações aparentemente simples. E não sou só eu quem pensa isso. Ele foi apadrinhado por ninguém menos que James Wan, um dos principais nomes do gênero de terror da atualidade. Wan produziu a adaptação de um dos curtas de Sandberg, Quando as Luzes se Apagam, e colocou-o no comando desse spin-off de Invocação do Mal. Sendo assim, com dois nomes tão talentosos por traz de um projeto como Annabelle 2: A Criação do Mal, é um pouco decepcionante que o resultado seja apenas regular.
O longa tem início na década de 1940, mostrando a fabricação da tal boneca do título. Ela é um item raro confeccionado por Samuel Mullins (Anthony LaPaglia), um fabricante de brinquedos independente, porém muito requisitado. Samuel vive isolado com a mulher e a filha, levando uma vida tranquila. Porém, a rotina deles é abalada quando a filha morre num acidente de carro. Após 12 anos de reclusão, marido e esposa abrem as portas da sua casa para seis órfãs e uma freira que não tinham para onde ir. Mas não demora até que as novas moradoras da casa, especialmente as jovens Linda (Lulu Wilson) e Janice (Talitha Eliana Bateman), comecem a notar estranhos eventos que acontecem naquele local, e que podem ter relação com a menina morta e com a boneca Annabelle.
É possível notar um pouco da influência que James Wan teve na realização dessa obra, principalmente em cenas como aquele plano-sequência que apresenta o interior da casa para as meninas, que parece ter saído direto de Invocação do Mal. Outra característica comum ao cineasta é a predisposição por trabalhar com diversos personagens. Desta forma, o roteiro escrito por Gary Dauberman não define uma única protagonista. Há uma atenção maior a Linda e Janice, mas em nenhum momento uma única pessoa detém todo o conhecimento acerca do que está acontecendo. A ideia parece ser querer expandir ao máximo aquela situação, para poder explorá-la de diferentes maneiras – ainda que o clímax tenha ficado um tanto confuso.
Mas também existem referências à própria carreira de Sandberg, que recicla alguns conceitos já desenvolvidos em seus curtas. E se por um lado é sempre um deleite observar como ele brinca com vultos e com a escuridão, por outro, cenas como aquela do lençol e outra na qual as lâmpadas se soltam do teto soam repetitivas para quem já viu Attic Panic, por exemplo. Além do mais, Sandberg parece não ter encontrado o tom certo na sua transposição do curta para o longa-metragem, o que o faz trilhar o caminho mais fácil ao priorizar o susto em vez do suspense. Para se ter uma ideia, não existe sugestão. A ameaça é mostrada logo que as crianças chegam na casa e desde então, cada sequência serve para reforçar isso – e tudo sempre culmina num susto.
Não que tenha algo de errado em um terror depender dos sustos para funcionar. A grande maioria das obras do gênero são assim. E, pessoalmente, eu adoro levar sustos na sala de cinema. Mas quando digo que, nesse caso, é um pouco decepcionante, é porque tanto Wan quanto o próprio Sandberg pareciam apontar para um caminho diferente. Mas, ao contrário disso, Annabelle 2: A Criação do Mal é um filme convencional. É bom, mas a dupla por traz desse projeto já fez coisa melhor.
FICHA TÉCNICA:
Título original: Annabelle: Creation
Gênero: Terror
País: EUA
Ano: 2017
Direção: David F. Sandberg
Roteiro: Gary Dauberman
Elenco: Anthony LaPaglia, Samara Lee, Miranda Otto, Brad Greenquist, Lulu Wilson, Talitha Eliana Bateman, Stephanie Sigman, Mark Bramhall, Grace Fulton, Philippa Coulthard, Tayler Buck.