Crítica | Invocação do Mal 2

O cinema de terror teria muito a perder se o cineasta James Wan de fato resolvesse parar de fazer filmes do gênero, conforme ele tinha anunciado há algum tempo. Por sorte ele voltou atrás e resolveu dirigir a continuação de um dos seus melhores trabalhos. Digo isso porque o cineasta entende o gênero, trata-o com seriedade, é criativo nas suas composições e, melhor, raramente apela para sustos fáceis. Em Invocação do Mal 2, Wan volta a focar a sua atenção no casal Ed e Lorraine Warren (novamente vividos Patrick Wilson e Vera Farmiga), que desta vez investigam o famoso caso da assombração de Enfield, ocorrido na década de 1970, na Inglaterra.

Baseando-se, então, em uma história real, o roteiro – escrito por Carey Hayes, Chad Hayes, David Leslie Johnson e pelo próprio Wan – acompanha a família Hodgson, em especial a pequena Janet (Madison Wolfe), que passa a ser atormentada por uma entidade que parece querer expulsá-los daquela casa. O caso chama atenção da mídia e do investigador Maurice Grosse (Simon McBurney), que liderou uma equipe de pesquisa durante meses, coletando informações a respeito dos eventos sobrenaturais que aconteciam na casa. É então que o casal Warren é enviado para o local, a mando da Igreja, para investigar, mas não intervir.

Focando muito mais no drama familiar e na relação do casal de protagonistas do que no clima de terror que eles vivenciam (uma decisão mais do que acertada), Invocação do Mal 2 muda muitos dos fatos ocorridos em Enfield, deslocando Grosse para um papel coadjuvante e centralizando a participação dos Warren – que na verdade tiveram pouca ação neste caso. Aliás, assim como no original, a continuação também serve como uma espécie de propaganda para o casal, mostrando-os como exemplos de integridade, simpatia e altruísmo. E por mais que a veracidade das investigações dos dois seja questionada dentro da narrativa, tais questionamentos são feitos por personagens extremamente caricatos, deixando clara a visão favorável que Wan pinta daquelas pessoas.
Repetindo aqui algumas opções estéticas como forma de relacionar os dois filmes, o diretor apresenta novamente a casa mal-assombrada por meio de um plano-sequência muito bem elaborado que determina a localização geográfica de cada membro da família ao mesmo tempo em que demonstra a interação entre eles. Outra característica marcante do cineasta é sugerir muito mais do que mostrar. Assim, é comum que Wan aponte a sua câmera para a escuridão e deixe que as imagens se formem nos olhos do espectador – como na cena em que Ed Warren conversa com um espírito que se encontra fora do foco da câmera e longe do olhar do protagonista.

Concebida como um ambiente frio e sem vida, a casa dos Hodgson é filmada com uma paleta cinza que parece exaurir toda cor daquele lugar – e não é nenhuma surpresa que os únicos elementos coloridos sejam relacionados à pequena (e adorável) Janet, como é o caso da touca vermelha que ela usa, do copo de refrigerante laranja ou do seu pijama. Já o design de som é eficiente ao criar uma ambientação de sussurros quando Lorraine adentra o “outro mundo”, contrastando com os gritos e barulhos ensurdecedores durante as manifestações sobrenaturais na casa em Enfield. Por fim, a montagem se utiliza de cortes rápidos que escondem os movimentos das assombrações, causando sustos exatamente pela rapidez com que tais sequências são apresentadas.
Porém, se tecnicamente o filme é impecável, existem sim alguns pequenos problemas de tom ao longo da narrativa. Certas inserções de humor não funcionam como deveriam e a assombração do Homem Torto parece um tanto deslocada. Nada disso, porém, consegue tirar o mérito do longa e do seu diretor. Além de excelente, Invocação do Mal 2 também serve para reforçar a importância que James Wan tem para o cinema de terror contemporâneo. Agora, ele voltou a declarar que não pretende mais dirigir obras de terror, focando-se apenas em produzi-las. Espero que mude de ideia de novo.

FICHA TÉCNICA:

Título original: The Conjuring 2
Ano: 2016
Gênero: Terror
Direção: James Wan
Roteiro: Carey Hayes, Chad Hayes, David Leslie Johnson e James Wan
Elenco: Vera Farmiga, Patrick Wilson, Madison Wolfe, Frances O’Connor, Lauren Esposito, Benjamin Haigh, Patrick McAuley, Simon McBurney, Maria Doyle Kennedy, Simon Delaney, Franka Potente, Bob Adrian e Steve Coulter.