Crítica – ParaNornan

George Romero, diretor de A Noite dos Mortos-Vivos (1968), fez fama e construiu sua carreira ao utilizar o gênero de terror – mais especificamente, o de zumbis – como forma de crítica social ao american way of life e seu consumismo desenfreado. Ainda que voltada ao público infantil, a animação ParaNorman também se utiliza do gênero para fazer a sua crítica que, nesse caso, é atualizada para os dias de hoje: sai o consumismo e entra o medo excessivo, principalmente do desconhecido. Não por acaso, Romero é uma das principais referencias dessa nova animação do estúdio Laika, mesmo responsável por Coraline e o Mundo Secreto.

O letreiro inicial que apresenta “a nossa atração principal”, típico de filmes B dos anos 80, já indica as referencias que serão mostradas a seguir. Referencias essas que são a paixão do personagem Norman, um garoto deslocado, fã aficionado por terror, e que consegue falar com os mortos. Quando o aniversário da bruxa que assombrou sua cidade séculos antes se aproxima, Norman precisa utilizar o seu conhecimento do oculto para tentar salvar a cidade antes que um grupo de zumbis se levante do túmulo para vingar a morte da bruxa.

Demonstrando bastante domínio da linguagem cinematográfica, os diretores Chris Butler e Sam Fell se utilizam bem os recursos narrativos para contar sua história. Reparem como no início da projeção não é mostrado o rosto dos pais de Norman – eles são enquadrados apenas do pescoço para baixo –, ilustrando assim o deslocamento do personagem em relação àquele lar. Não por acaso, o rosto da avó de Norman é mostrado já no começo do longa, visto que ela (por motivos que logo são explicados) é a única que entende a situação do garoto. Além disso, a dupla de cineastas merece destaque ao criar uma belíssima – e impressionante – sequência que mostra o personagem andando pela rua falando sozinho.

Fazendo bom uso do humor negro, necessário para esse tipo de história, o roteiro é repleto de diálogos hilários – como quando o pai diz que se morrer “eu volto e assombro ele. Quem sabe assim ele me escuta”. Além do mais, as referencias a Romero se fazem notar o tempo todo, principalmente quando vemos as pessoas agindo como zumbis, sem perceber que, de fato, os zumbis já estão entre eles. E nada é mais engraçado do que ver os zumbis com medo da realidade atual: “Os mortos-vivos voltaram para nos levar para o além. Precisamos detê-los antes que fujam”.

Apesar de perder um pouco de ritmo no final, quando a narrativa antes contida se torna um tanto grandiloquente – com direito até a ameaças vindo do céu – ParaNornan é um ótimo exemplo de desenho inteligente e divertido. Deve agradar as crianças, mas, com certeza, quem vai gostar mais é quem cresceu assistindo filmes de terror – me incluo nessa lista.

(idem – EUA – Animação – 2012 – 92 min.)
Direção: Chris Butler e Sam Fell
Roteiro: Chris Butler
Elenco: Kodi Smit-McPhee, Tucker Albrizzi, Anna Kendrick, Casey Affleck, Christopher Mintz-Plasse, Leslie Mann, Jeff Garlin


Nota:(Ótimo) por Daniel Medeiros