MEIA-NOITE EM PARIS

(Midnight in Paris – 2011 – Espanha/EUA)
Direção: Woody Allen
Roteiro: Woody Allen
Elenco: Owen Wilson, Marion Cotillard, Rachel McAdams, Carla Bruni-Sarkozy, Michael Sheen, Nina Arianda, Alison Pill, Tom Hiddleston, Kathy Bates, Corey Stoll, Kurt Fuller, Mimi Kennedy.

Woody Allen segue uma cartilha própria na concepção de seus filmes. Quase sempre mostrando a alta sociedade, com personagens cultos ao extremo tornando-os chatos (nesse caso, usa-se o termo “pedante”), e um “herói” freqüentemente deslocado daquele meio, cuja postura é submissa em relação aos que o cercam. Quando foge de seus próprios padrões, o resultado pode ser excelente (como em A Rosa Púrpura do Cairo e Match Point), porém, aventurar-se em terreno conhecido pode também trazer ótimos resultados. Meia-Noite em Paris é um desses casos.

Mantendo sua idolatria pela cidade aonde o longa se passa – assim como fez muitas vezes em Nova Iorque e, posteriormente, em Barcelona – aqui o seu foco se cai sobre a bela Paris. Sendo assim, as cenas inicias, com longos planos estáticos mostrando toda a exuberância da cidade, surgem como um prelúdio para o que se verá durante o restante da projeção: uma verdadeira homenagem à Cidade da Luz. E, vislumbrando com olhar vidrado e inocência infantil as belezas da capital francesa, Owen Wilson revela-se uma escolha mais do que perfeita para viver o alter-ego do diretor.

Wilson interpreta Gil, um bem-sucedido, porém frustrado, roteirista de Hollywood que viaja com a família de sua noiva (Rachel McAdams) para Paris, em uma viagem de negócios. Maravilhado, Gil mostra-se nostálgico ao imaginar como seria o local na década de 1920, época que ele considera o momento mais glorioso da cidade. Enquanto sua noiva parece mais interessada em reatar a amizade com um antigo namorado (Michael Sheen), Gil passeia pelas ruas de Paris, em busca de inspiração para escrever o seu primeiro livro, quando um estranho carro o oferece carona. É então que, para sua surpresa, ele vai parar na maravilhosa Paris dos anos 20, onde conhece a elite cultural (Hemingway, Scott Fitzgerald, Picasso entre muitos outros) e se apaixona pela bela Adriana (Marion Cotillard), a musa de vários artistas da época.

Com diálogos rápidos e bem elaborados, Allen faz aqui um filme bastante acessível, que deve agradar tanto os seus fãs mais fervorosos (mantendo características conhecidas suas como o uso de quadros abertos, com vários atores em cena falando ao mesmo tempo), quanto aqueles que ainda não são familiarizados com sua filmografia (qualquer um vai cair na gargalhada com o desfecho da história do detetive). Ainda assim, o diretor não deixa de exigir um certo conhecimento prévio da cultura francesa para que possamos entender melhor as constantes referências – a piada sobre o clássico surrealista “O Anjo Exterminador” é hilária – e o verdadeiro desfile intelectual que vemos durante a projeção.

O roteiro peca apenas por ser, em certos momentos, pleonástico demais. Ainda que seja uma característica de Woody que seus personagens falem demais, e muitas vezes até sozinhos, fica redundante os vermos falando algo que apenas ilustra o que já vínhamos vendo até então (“Estou tendo um insight”). Afinal, em um longa onde as pessoas falam sem parar, é realmente necessário vermos alguém falar “Ah, os brincos!” e depois voltar para o quarto e procurar pelos mesmos? A imagem não seria suficiente? E o que dizer então da seqüência que envolve o diário de Adriana que, como percebemos a seguir, além de forçada, não leva a lugar nenhum.

Tais equívocos, porém, não atrapalham em nada o resultado final. Vindo de uma série de filmes medianos (O Sonho de Cassandra, Você Vai Conhecer O Homem dos Seus Sonhos, etc.) Allen parece ter aprendido com os seus erros, focando-se apenas naquilo que sabe fazer bem: humor ácido, sarcástico e de qualidade.


Nota: (ótimo) por Daniel Medeiros


Assista aqui o trailer.


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