Dono de uma carreira curta e excepcional, o cineasta americano Trey Edward Shults demonstra, a cada novo trabalho, o desenvolvimento de uma linguagem bastante específica, fazendo a sua voz prevalecer em diferentes gêneros cinematográficos.
Foi o que aconteceu com o drama indie Krisha (2015) e com o ótimo terror Ao Cair da Noite (It Comes at Night, 2017). E é o que acontece com o recente Waves, seu projeto mais ambicioso até então.
A trama acompanha, de início, a vida de Tyler (Kelvin Harrison Jr.), visto como o garoto de ouro com um futuro brilhante pela frente. Ele é rico, popular e namora uma bela garota. E sua carreira na luta greco-romana é promissora, rendendo-lhe uma bolsa estudos.
Embora o seu pai (Sterling K. Brown) seja rigoroso em relação aos seus treinamentos diários, ele também perdoa alguns “pecados” do filho, como o fato de ele dormir durante a missa.
Mas o protagonismo de Tyler faz relega a irmã, Emily (Taylor Russell), e a madrasta, Catharine (Renée Elise Goldsberry), à papeis coadjuvantes.
Existe, portanto, um equilíbrio naquela família. Um equilibro cujo funcionamento depende da permanência de Tyler no centro. Porém, certos acontecimentos abalam essa estrutura, revelando falhas antes ofuscadas por esse suposto brilhantismo do primogênito.
E tais mudanças forçam a família, e a narrativa, a se reestruturem, trazendo para o centro personagens que antes estavam no canto, e afastando aqueles que antes moravam sob os holofotes.
Em constante movimento e embalada pela trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross, a câmera acompanha aquelas pessoas em meio às suas rotinas. São longas cenas mostrando-os em meio às aulas, os treinos e as festas.
Como um personagem, a câmera de Shults partilha dos sentimentos dos protagonistas. Não por acaso, seus movimentos fluídos do início do filme são substituídos por uma imagem tremida e fora de foco quando as coisas dão errado.
Já a bela direção de fotografia dá um tom onírico ao início da narrativa, refletindo assim o mundo de sonhos habitado por Tyler. Aos poucos, porém, esse sonho começa a se transformar em um pesadelo, e a fotografia acompanha essa decadência.
Além da câmera, o diretor explicita as mudanças pelas quais o protagonista passa de outra maneira: pela razão de aspecto. Trata-se de um recurso já explorado em seu dois longas-metragens anteriores, mas que agora assume uma nova roupagem.
Aqui, as razões de aspecto distintas parecem aprisionar os personagens dentro de um espaço cada vez mais limitado de tela. Elas também servem para distinguir os “capítulos” da narrativa.
Assim como o próprio título sugere, Waves é uma obra formada por diferentes ondas. E assim como as ondas do mar, estas histórias surgem, atingem seu pico e, eventualmente, caem.
Portanto, ao mesmo tempo que explora os dramas pessoais daqueles sujeitos – com histórias envolvendo luto, mortes e culpa –, o longa também propõe uma eventual ascensão. Afinal, sempre haverá uma próxima onda.