Resolvi reviver uma sessão muito antiga aqui do blog que é a chamada Cenas Clássicas. Vale lembrar, porém, que apesar do nome, tais cenas aqui apresentadas não se tratam, necessariamente, de momentos marcantes dentro da história do cinema. Nem é essa a intenção. O que quero fazer aqui é falar um pouco das cenas que mais me marcaram na minha formação como cinéfilo. Que me fizeram, de alguma maneira, querer estudar mais sobre o assunto – um estudo que, por sinal, levo até hoje.
Desta forma, a cena que escolhi hoje foi um momento de Nem Tudo É o que Parece (2004), filme que marca estreia na direção de Matthew Vaughn, que eu considero um dos melhores diretores de ação da atualidade. Na época do lançamento deste filme, porém, Vaughn era mais conhecido como o produtor dos filmes de Guy Ritchie, então considerado o grande novo nome do cinema britânico por causa de filmes como Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998) e Snatch: Porcos e Diamantes (2000). Havia alguma especulação sobre quem seria o verdadeiro talento da dupla, e o filme de Vaughn veio como uma maneira de comprar essa briga.
Vaughn lançou o seu filme dois anos após o desastroso Destino Insólito (2002), filme que Guy Ritchie decidiu fazer com a sua esposa, a cantora Madonna. Vaughn produziu o filme, e essa foi a última vez que os dois trabalharam juntos. Sua estreia na direção, então, veio num momento propício, quando a áurea que cercava Ritchie começou a se dissipar. Lembro-me de saber dessa questão na época que assisti a Nem Tudo É o que Parece, e queria tirar as minhas próprias conclusões.
Desde o início, o filme me encantou profundamente, mas o estilo de Vaughn parecia se confundir com o de Ritchie. Porém, houve uma cena em específico que eu lembro que me fisgou que tal maneira que, naquele momento, percebi que estava vendo um trabalho de um cineasta muito talentoso. É essa a cena que trago aqui hoje. A cena mostra uma discussão em um café que termina de maneira violenta e trágica. Recentemente tive a oportunidade de ver o filme novamente, e essa cena, de novo, me impactou muito. E agora, tendo crescido como cinéfilo e como crítico, pude perceber alguns detalhes que na época me fugiram.
Um dos elementos que me chamou a atenção na época, e que não é novidade para ninguém, é o uso de uma música pop para contrapor com a violência. Quentin Tarantino faz isso com frequência, e já fazia antes desse filme. Porém, existem ali mais alguns elementos interessantes. Um deles é o fato de que o design de som utiliza um efeito distorcido, parecido com um disco que pula toda vez que o personagem que está no chão leva um chute. Com isso, a música e as distorções dela assumem um papel mais direto, causando um impacto maior no espectador.
Da mesma maneira, a montagem em paralelo com uma cena aparentemente aleatória também me chamou atenção quando vi pela primeira vez – e de novo nessa revisão. Além disso, também pude fazer diversas associações entre este e os demais trabalhos de Matthew Vaughn como diretor. Esta cena em específico me lembra muito aquele momento de Kick-Ass: Quebrando Tudo (2010) no qual o protagonista é torturado e essa tortura é mostrada ao vivo na TV e na Internet (como se pode ver aqui, alguns planos são idênticos). Da mesma maneira, o uso da música pop também aparece em outro momento de Kick Ass, no qual Big Daddy invade um depósito (veja a cena aqui) e na famosa cena da Igreja de Kingsman – Serviço Secreto (veja aqui).
Existem várias outras referências que podem ser vistas ao longo do filme, mas não quero estragar a experiência de ninguém. Fica aqui a minha dica de uma cena excelente e de um ótimo filme, que merece ser redescoberto. Confiram a cena e não esqueçam de deixar as suas opiniões no campo de comentários abaixo.