Crítica | No

Existe
uma conotação histórica envolvendo o filme No que por si só já valeria o
ingresso. O trabalho mais recente do cineasta Pablo Larraín (Post Mortem) trata da eleição que
culminou na saída do ditador chileno Augusto Pinochet do poder, em 1988. Além
disso, existe um aspecto técnico que faz a obra ganhar também um significado
importante. Em plena era do advento do cinema digital, o longa foi totalmente
filmado com Betacam, câmeras consideradas ultrapassadas e demasiadamente
televisivas para o cinema.
Baseada
em fatos, a trama mostra a estratégia de Pinochet de se manter no poder depois
que os países que antes apoiavam a sua ditadura passam a não vê-la mais com
bons olhos. A jogada do ditador foi criar um plebiscito, deixando o povo
escolher se ele ficaria ou não no poder por mais oito anos. O roteiro de Pedro
Peirano (A Criada), com base na peça
de Antonio Skármeta (A Dançarina e o
Ladrão
), acompanha o publicitário René Saavedra (Gael García Bernal), um
dos responsáveis pela campanha do Não.
A
grande jogada dessa campanha foi encará-la não como uma propaganda política,
mas como uma campanha publicitária. Saavedra transforma o não em um produto, e
esse produto precisa ser atraente para poder ser vendido. A visão distinta do
protagonista já se apresenta na primeira reunião, onde é mostrado um vídeo que
ilustra a violência causada pela ditadura. Na cabeça de Saavedra, bombardear o
público com imagens que só iriam lhe causar medo não era algo atraente, muito
menos vendável. 
Nesse
sentido, mais do que um trabalho sobre política,
No se torna um filme
sobre o poder da publicidade.
O
longa também merece destaque no quesito técnico. O fato de ser filmado em Betacam,
o que pode causar um estranhamento inicial, não se trata de uma escolha
estética desnecessária (ou algo feito apenas para ficar bonito), mas de uma
abordagem narrativa extremamente inteligente e eficaz. Ao utilizar o mesmo
equipamento que era usado na década de 1980, Larraín, e seu diretor de
fotografia Sergio Armstrong (Post Mortem),
passam a empregar imagens de arquivo da época de forma orgânica dentro do filme.
E a montagem de Andrea Chignoli (Verano)
também merece menção por conseguir equilibrar bem essas duas vertentes.
Mostrando
uma campanha que se inicia desacredita que ganha uma força descomunal, Larraín
conduz a história de maneira simples, sem nunca perder o ritmo ou o foco. Ao
final, além dos quesitos técnicos e políticos, No garante a sua
importância por ser também (e acima de tudo) um grande filme.
(No – Drama – Chile –
2012 – 118 min.)
Direção: Pablo Larraín
Roteiro: Pedro Peirano
Elenco: Gael García Bernal, Alfredo Castro,
Antonia Zegers, Néstor Cantillana, Luis Gnecco, Alejandro Goic, Jaime Vadell.