Crítica | Robert Pattinson e Willem Dafoe mergulham na loucura de O Farol

Novo trabalho do cineasta Robert Eggers (do ótimo terror A Bruxa), O Farol acompanha dois faroleiros, um jovem (Robert Pattinson) e um experiente (Willem Dafoe), deixados numa ilha árida e deserta para operarem o farol de lá.

A trama se passa no século 19 e, assim como em A Bruxa, o diretor adota um ritmo mais lento, mais contemplativo, e constrói a sua narrativa por meio de diálogos retirados de documentos antigos.

Visando aproximar-se da época aqui retratada, Eggers optou por filmar com película preto e branco e na razão de aspecto 1.19:1, dando ao filme o aspecto de uma fotografia antiga e desgastada.

Esta razão de aspecto era comum na época de transição do cinema mudo para o cinema falado. E O Farol homenageia esse período, tanto na imagem quanto no som.

Boa parte do início do filme é rodada inteiramente sem diálogos. A ausência de falas, porém, é compensada pela cacofonia de sons diegéticos (o vento, o maquinário, o farol, etc) e extradiegéticos (a trilha sonora marcante).

Estes sons servem como pequenos desconfortos que guiarão aquelas pessoas por uma lenta espiral de loucura. E Eggers demonstra essa loucura ao aproximar sua câmera do rosto dos dois atores.

Williem Dafoe encarna o experiente faroleiro como alguém satisfeito com a sua função. Ele encontrou o seu propósito e não deseja mais nada para si – por mais que o trabalho tenha lhe custado a família.

Já Robert Pattinson oferece um contraponto. Embora fale do seu desejo de se acalmar e morar em um local tranquilo, seu personagem é uma espécie de um tubarão, um ser que precisa estar em constante movimento.

O trabalho no farol é provisório, como tudo na sua vida. Não é de se estranhar, portanto, que suas atitudes mudem justamente quando ele passa a se sentir preso naquele lugar.

Os planos fechados usados pelo diretor capturam toda a expressividade das atuações, compostas com um exagero proposital e ampliadas pelas sombras que marcam os rostos dos atores.

A bela direção de fotografia de Jarin Blaschke (mesmo de A Bruxa) faz uso da escuridão para transformar homens em silhuetas e diminuir ainda mais a razão de aspecto da imagem – ampliando, com isso, a sensação de claustrofobia.

A fotografia também serve para ilustrar as dicotomias entre os dois personagens. Enquanto o experiente faroleiro sente um prazer orgástico em ser engolido pela luz do farol, o outro fica relegado às sombras.

E tais sombras simbolizam os segredos e a loucura prestes a emergirem. Aos poucos, visões de monstros marinhos se misturam com lembranças e segredos do passado. Realidade e fantasia se confundem até se tornarem indiscerníveis.

Capaz de criar imagens belíssimas, como aquela na qual o navio desaparece em meio à névoa, condenando os personagens à solidão, Eggers não está interessado em fornecer respostas fáceis para o público.

Seu interesse é em observar como aquelas pessoas reagem às situações extremas em que são colocadas. Quais caminhos eles percorrem quando não há para onde ir.

O Farol é uma obra que se utiliza de monstros e metáforas para estudar a natureza humana, o trauma, a solidão e a loucura. É também, assim como o trabalho anterior do cineasta, um excelente filme de terror.

Assista ao trailer legendado de O Farol