Crítica | Vingadores: Guerra Infinita


Filme acerta o tom no humor e ação, mas a seriedade intencionada fica comprometida.

Crítica | Vingadores: Guerra Infinita

Embora os primeiros filmes do universo cinematográfico da Marvel funcionassem muito bem como obras individuais, com começo, meio e fim – como é o caso de Homem de Ferro, Thor e Capitão América: O Primeiro Vingador –, ao longo das 18 aventuras produzidas pelo estúdio, ficou claro o seu objetivo de criar uma obra seriada e interligada, que culminaria em um grande encontro de todos esses personagens, numa convergência das suas subtramas que possivelmente encerraria esse longo arco. Dirigido pelos irmãos Russo (os mesmos de Capitão América: O Soldado Invernal e Guerra Civil), Vingadores: Guerra Infinita promove esse encontro, mas ainda não é o final dessa história, ao menos não no sentido derradeiro como ela se anuncia.

Escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely (responsáveis por quatro produções de estúdio e pela série da Agente Carter), o roteiro se passa logo após os eventos mostrados em Thor: Ragnarok. Assim, vemos que a nave do Deus do Trovão foi interceptada por Thanos (Josh Brolin), com o intuito de recuperar uma das seis Joias do Infinito e matar aqueles se põem no seu caminho. De certa maneira, a cena já dita o tom do restante do filme: a procura pelas joias e diversas mortes – algumas sentidas pelo público, outras não. A ameaça de Thanos faz com que os demais heróis se unam em pequenos grupos e partam em missões paralelas que se expandem por diferentes planetas.

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Uma vez que não é mais preciso apresentar nenhum dos personagens, os roteiristas podem focar na interação entre eles, um dos pontos altos do longa. Se a dinâmica entre o Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) e o Homem-Aranha (Tom Holland) já funcionou antes, a adição do Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) acrescenta mais humor para a situação, da mesma forma como a presença de Thor (Chris Hemsworth) entre os Guardiões da Galáxia explora bem as situações cômicas, especialmente porque o Senhor das Estrelas (Chris Pratt) fica incomodado de não ser mais o rostinho bonito do grupo. Do lado mais “sério” da trama, o Capitão América (Chris Evans) volta a se reunir com a Viúva Negra (Scarlett Johansson) e o Pantera Negra (Chadwick Boseman).
Markus e McFeely são hábeis ao intercalarem essas diversas histórias, utilizando-se de todos os personagens que eles têm disponíveis, nem que seja apenas para uma cena – Groot, por exemplo, fica sobrando na maior parte do tempo, mas que está lá quando necessário. Além disso, a dupla ainda procura dar um pouco de “humanidade” a Thanos, tentando fazer com que o público ao menos entenda – por mais que não concorde, é claro – as suas motivações. E tal tentativa é bem sucedida no  seu intuito de não transformar o vilão numa caricatura.

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O roteiro também se esforça para comprovar todo o poder de destruição de Thanos, mas a solução encontrada é, em muitos casos, repetir a mesma informação o tempo todo – na quinta vez que ouvi alguém dizer que Thanos iria matar metade do universo, fiquei esperando alguém falar: “tá bom, tá bom, já entendi!”. Porém, essa repetição serve para reforçar uma ideia que é cara aos roteiristas: a suposta seriedade daquilo que está sendo mostrado. E essa talvez seja a minha maior crítica ao filme. Afinal, mesmo promovendo a ideia de que esta é uma aventura derradeira, o fã de super-heróis sabe que isso não é verdade.
O universo das histórias em quadrinhos já comprovou diversas vezes que ninguém nunca está morto de verdade – o exemplo mais clássico dessa afirmação talvez seja o arco da Morte do Superman. O cinema reaproveitou essa ideia, amortecendo o sentimento do espectador. É de se esperar, então, que muitas das fatalidades vistas aqui sejam “consertadas” em seguida – afinal, alguns dos personagens que morreram em Guerra Infinita terão aventuras-solo em breve –, diminuindo o impacto que esses momentos tencionavam. Por mais que os roteiristas tenham declarado em entrevistas que as mortes são “de verdade”, sabemos que a solução é muito mais financeira do que criativa.

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Assim, contrariando a proposta dos realizadores e evitando sentir-se enganado pela que a narrativa nos apresenta – e, principalmente, pelo que ela nos esconde –, a melhor maneira de aproveitar o filme é deixando de lado essa suposta seriedade da trama, divertir-se com as tiradas cômicas e maravilhar-se com o espetáculo visual proposto pelos diretores. Eficazes na condução das sequências de ação, a dupla explora bem a harmonia entre os heróis, mostrando como cada um deles usa o seu poder específico para uma determinada finalidade. Eles também acertam o tom ao empregarem um humor moderado, condizente com a ocasião – ou seja, o oposto do que foi visto em Guerra Civil.
E embora os irmãos Russo deem as suas escorregadas de vez em quando – como a darem mais importância para morte de um coadjuvante do universo de Thor do que para um personagem de extrema importância –, isso não chega a prejudicar a experiência. Em vez de ser uma aventura derradeira, Vingadores: Guerra Infinita é mais um típico produto da Marvel Studios: uma aventura leve, divertida, bem feita e passageira.

Crítica | Vingadores: Guerra Infinita

Crítica | Vingadores: Guerra InfinitaFICHA TÉCNICA:
Título original: Avengers – Infinity War
Gênero: Ação/Aventura
País: EUA
Duração: 150 min.
Ano: 2018
Direção: Joe Russo e Anthony Russo
Roteiro: Christopher Markus e Stephen McFeely.
Elenco: Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Mark Ruffalo, Chris Evans, Scarlett Johansson, Don Cheadle, Benedict Cumberbatch, Tom Holland, Chadwick Boseman, Chris Pratt, Zoe Saldana, Karen Gillan, Tom Hiddleston, Paul Bettany, Elizabeth Olsen, Anthony Mackie, Sebastian Stan, Idris Elba, Danai Gurira, Peter Dinklage, Dave Bautista, Gwyneth Paltrow, Benicio Del Toro, William Hurt, Josh Brolin.

Assista ao trailer legendado de Vingadores: Guerra Infinita: