Crítica | Com Amor, Van Gogh

Animação indicada ao Oscar é a primeira feita com tinta óleo. 

Crítica | Com Amor, Van Gogh

Vincent Van Gogh é conhecido como um dos principais nomes da arte moderna. Tal reconhecimento, porém, veio-lhe postumamente, uma vez que em vida o pintor holandês vendeu apenas um quadro. Sem conseguir pagar suas próprias contas, ele viveu às custas do seu irmão, passando seus dias em hotéis baratos e bordeis, consumido pela depressão que acabou custando sua própria vida. Com Amor, Van Gogh é um filme que homenageia a vida e a obra deste importante artista de maneira condizente com o sujeito aqui retratado: trata-se da primeira animação feita em tinta óleo.
Seguindo a estrutura narrativa imortalizada no cinema por Cidadão Kane, na qual tenta-se fazer um retrato do personagem-título por meio de relatos dos coadjuvantes, o roteiro acompanha o jovem Armand Roulin, que recebe a missão de entregar uma carta perdida de Van Gogh ao seu irmão, Theo, um ano após a morte daquele. Durante a sua viagem, Roulin passa a ter contato com as pessoas que conviveram com o pintor durante os seus meses derradeiros, e passa a ouvir histórias envolvendo aquela figura polêmica. Ao ouvir esses casos, ele se depara com o mistério da morte de Van Gogh e acredita que sua investigação pode revelar o verdadeiro assassino do pintor.

Crítica | Com Amor, Van Gogh

Entretanto, esta não é uma trama de mistério. Assim como no clássico de Orson Welles, a investigação de uma morte serve apenas como pretexto para lançar um olhar na intimidade daquela pessoa – por mais que esses relatos não sejam totalmente confiáveis. O que vemos aqui, então, são fragmentos de uma vida, fragmentos estes que, mesmo quando colocados juntos, não formam o todo. E por mais que o roteiro soe esquemático demais (encontra-se um novo personagem, este inicia sua história, em seguida vemos um flashback), isso não eclipsa a qualidade da produção.
Realizada por mais de 100 artistas plásticos, a concepção visual do cenários do filme é toda inspirada nas pinturas de Van Gogh. São diversas as referências às suas pinturas, desde seu famoso autorretrato à imagem do homem velho com a cabeça em suas mãos (esta última, recriada de maneira idêntica no longa). Além disso, seu estilo de pintura também é reproduzido. As pinceladas pesadas e o relevo da tinta são perceptíveis na tela, ao mesmo tempo em que as imagens em constante movimento adquirem um aspecto “vivo”.

Crítica | Com Amor, Van Gogh

Em contraste com o aspecto artesanal da construção dos quadros que compõem os cenários, os personagens preservaram as feições dos atores (que interpretaram em frente a um fundo verde e depois tiveram suas imagens transpostas para  animação). Desta forma, um olhar mais atento possibilitará ao espectador reconhecer os rostos de Douglas Booth (como Roulin), Chris O’Dowd (no papel do carteiro), Saoirse Ronan (como Marguerite Gachet) e Jerome Flynn (como Dr Gachet).
Ainda que os diretores Dorota Kobiela (The Flying Machine) e Hugh Welchman optem pela simplicidade repetitiva do plano e contraplano, eles também ousaram em outros momentos, criando sequências envolvendo chuva e anoitecer. Com Amor, Van Gogh não é, e nem se propõe a ser, um retrato realista do seu protagonista. Em vez disso, é uma belíssima obra, que honra a vida do artista de maneira bonita, emocionante e tecnicamente impecável.

Crítica | Com Amor, Van Gogh

Crítica | Com Amor, Van GoghFICHA TÉCNICA:
Título original: Loving Vincent
Gênero: Animação
País: EUA/Inglaterra/Polônia
Duração: 94 min.
Ano: 2017
Direção: Dorota Kobiela e Hugh Welchman
Roteiro: Dorota Kobiela, Hugh Welchman e Jacek Dehnel.
Elenco: Douglas Booth, Chris O’Dowd, Aidan Turner, Saoirse Ronan, Jerome Flynn, Robert Gulaczyk, Helen McCrory, John Sessions.

Assista ao trailer legendado de Com Amor, Van Gogh: