Crítica | A Morte do Demônio

O remake de “The Evil Dead”, clássico trash de Sam Raimi (“Oz – Mágico e Poderoso”), segue duas “tradições” do gênero de terror atual. A primeira, e mais recente, é o uso de um diretor novato apadrinhado por um cineasta consagrado (como foi o caso de Tarantino e Eli Roth, em “O Albergue”; e Guillermo del Toro e Andrés Muschietti, em “Mama”). A segunda, e mais comum, é a inserção de elementos narrativos contemporâneos, entregando um resultado que se difere bastante do material original. A grande vantagem de “A Morte do Demônio” em relação a outros similares produzidos nos últimos anos é que, nesse caso, essas duas tendências funcionam muito bem.

O filme foi escrito pelos poucos conhecidos Rodo Sayagues e Fede Alvarez, que chamaram a atenção de Sam Raimi (produtor do remake) com o curta “Ataque de Pânico!”, que Alvarez dirigiu (o que lhe garantiu a função de diretor aqui também). A trama segue um grupo de amigos que vai passar um final de semana em uma cabana na floresta, como forma de ajudar uma garota do grupo, que é uma viciada em recuperação. A cabana, porém, parece esconder muitos segredos. E quando um sinistro livro encontrado no porão é lido, ele liberta uma entidade maligna, que acaba tomando o corpo da garota. 

Ainda que apelem para diálogos auto-explicativos (“Eu sou o seu irmão mais velho”), os roteiristas buscam estabelecer desde o início a relação conflituosa entre aquelas pessoas. Sendo assim, todos os dramas pessoais servem à narrativa. O próprio vício da garota, que a princípio podia ser visto apenas como uma tentativa de adicionar um pouco de drama à história, serve como motivo para manter o grupo dentro da cabana, por mais assustadora que ela pareça ser. E mais, os próprios sintomas da possessão da garota são inicialmente confundidos com abstinência, aumentando a tensão. Finalizando, a ponte que dá acesso a estrada não está quebrada nesse filme, apenas inundada, o que influencia na decisão deles de continuarem na cabana (esperando a chuva passar) mesmo depois que o terror já tomou conta do lugar.

Apresentando uma característica comum do cinema de terror dos anos 1980 (e que pode ser vista tanto como uma homenagem ao gênero quanto como uma falha grave de estrutura), o roteiro busca desenvolver apenas superficialmente os seus personagens. Cada um do grupo é relegado apenas à sua função na história: a garota drogada é a vítima; a enfermeira, incumbida de cuidar dela, é a cética; o namorado desta é o questionador (e, consequentemente, o personagem mais interessante); e o protagonista é o indeciso, sem saber como lidar com a situação. Nesse sentido, o texto peca (e isso sim é visto apenas como uma falha) ao não conseguir dar nenhuma importância (por mais superficial que fosse) à namorada do herói, que acaba sendo apenas mais uma possível vítima da ameaça sobrenatural.

Já a direção de Fede Alvares se mostra bastante competente, revelando o diretor uruguaio como um potencial grande nome do cinema de terror atual (ainda que, devido a qualidade das produções do gênero nos últimos anos, isso talvez não signifique muita coisa). Sem medo de usar violência e  o gore de maneira bastante exagerada (talvez até demais para o gosto de alguns), o cineasta faz aqui uma verdadeira homenagem ao gênero, entregando um filme que, além de não fazer feio em relação ao original (várias referências são vistas o tempo todo, como a motosserra, a câmera passeando pela floresta e, é claro, o estupro da árvore), também consegue ser contemporâneo e criativo. Pode não ser o melhor que o cinema de terror já produziu, mas convenhamos, o original também não é.

(Evil Dead / Terror / EUA / 2013 / 91 min.)
Direção: Fede Alvarez
Roteiro: Fede Alvarez, Rodo Sayagues, Diablo Cody
Elenco: Jane Levy, Lou Taylor Pucci, Shiloh Fernandez, Jessica Lucas, Elizabeth Blackmore, Jim McLarty, Lorenzo Lamas, Rupert Degas, Phoenix Connolly.