Crítica – Dredd 3D

Segunda adaptação para os cinemas das histórias em quadrinho de John Wagner e Carlos Ezquerra, o longa Dredd 3D opta por uma abordagem mais fiel ao material em que se baseia, ao contrário do filme estrelado por Sylvester Stalone em 1995. A história se passa num futuro próximo, quando a violência chegou a um nível tão elevado que foram criados os juízes, uma tropa de elite da polícia que carrega consigo as funções de juiz, júri e executor. Nesse cenário quase apocalíptico, o juiz Dredd se destaca como exemplo de seriedade e comprometimento com a justiça.


Bastante semelhante ao recente (e ótimo) The Raid, a trama mostra um enorme conjunto habitacional onde um crime envolvendo traficantes de drogas ocorreu. Dredd (Urban) e a novata Anderson (Thirlby), uma jovem mutante capaz de ler a mente das pessoas, vão atender o chamado. Quando percebe que os juízes tomaram uma testemunha que pode lhe prejudicar, Ma-ma (Headey), a chefe do crime local, fecha os portões de acesso ao prédio, prendendo os dois lá dentro, e ordena que os moradores matem os intrusos. Começa então um jogo de gato e rato, onde os dois tentam sobreviver a qualquer custo sem que com isso deixem de fazer valer a lei.


Mantendo a máscara do herói o tempo todo, sem nunca revelar o seu rosto (um dos muitos defeitos do filme anterior), o longa de Pete Travis acerta ao investir do uso pesado de violência, condizente com a realidade daqueles personagens. Além disso, o diretor (que já havia demonstrado certo apreço estético em Ponto de Vista) apresenta aqui sequências bastante criativas envolvendo o efeito de uma droga que “faz o tempo parar” – e o uso de 3D nesses momentos, principalmente os que envolvem fumaça e água, merecem menção.


Com voz rouca e imponente, Karl Urban também se destaca ao atuar “do nariz pra baixo”, mantendo uma postura quase robótica ao mesmo tempo em que dispara piadinhas (“hotshot!”). Já Olívia Thirlby mostra-se correta ao variar entre a menina assustada e a jovem (e brutal) juíza. Fechando o elenco, Lena Headey parece estar no piloto automático, visto que suas expressões (ou, em muitos casos, a falta delas) se assemelham bastante à sua personagem na série Game of Thrones – o que não deve ser visto necessariamente como um defeito, já que a aparência cansada da personagem funciona tão bem aqui quanto no seriado de TV.


Ainda que apresente um tom bastante maniqueísta – algo que pode ser interpretado como um reflexo de uma sociedade onde tudo é extremo –, e escolher algumas soluções fáceis – como inserir um personagem novato para que esse faça as perguntas que serão respondidas para o público –, o roteiro de Alex Garland (Extermínio e Não Me Abandone Jamais) cria personagens interessantes e inteligentes (“Não tem como terem sobrevivido”, “Só estão mortos quando acharmos os corpos”). E mesmo que não chegue a questionar a temática ditatorial do conceito de justiça em que baseia seu protagonista, o texto pelo menos mostra que nem mesmo aquele sistema totalitário (ou opressivo, dependendo do ponto de vista) é 100% confiável.


E se o plano final indica não só a grandiosidade daquele universo como uma estrutura cíclica que possibilita continuações, confesso que fiquei curioso para ver mais filmes estrelados por Dredd. Ainda mais se não tiverem Rob Schneider como coadjuvante.



(Dredd – 2012 – Ação – EUA/ Inglaterra/ Índia – 95 min.)
Direção: Pete Travis
Roteiro: Alex Garland, com base nos personagens criados por John Wagner e Carlos Ezquerra.
Elenco: Karl Urban, Olívia Thirlby, Lena Headey, Jason Cope, Rakie Ayola, Warrick Grier, Wood Harris, Domhnall Gleeson.

Nota:(Ótimo) por Daniel Medeiros